Descrição
A aquisição da linguagem escrita tem sido entendida como um processo psicogenético,
durante o qual as crianças vão colocando ativamente hipóteses sobre a natureza da relação entre a
escrita e a oralidade (Alves Martins, 1994). Porém, os fatores contextuais deverão também ser
considerados (Fijalkow, Cussac-Pomel, & Hannouz, 2009). Neste estudo, colocamos como
hipótese geral que o contexto didático influencia o desenvolvimento da escrita. Participaram 36
crianças portuguesas que frequentavam o jardim-de-infância. O seu nível de inteligência,
consciência fonológica e conhecimento das letras foi controlado. Os participantes foram
distribuídos por três grupos: experimental, comparação e controlo. Utilizámos uma prova de
escrita inventada para avaliar o seu nível de escrita no pré-, pós-teste e pós-teste diferido. Entre o
pré- e pós-teste as crianças do grupo experimental participaram num programa de intervenção de
didática experimental destinado a melhorar a sua consciência silábica; as crianças do grupo de
comparação participaram numa intervenção didática destinada a reproduzir práticas pedagógicas
habituais; as crianças do grupo de controlo permaneceram nas salas de aula. Os resultados obtidos
no pós-teste mostram que as crianças do grupo experimental produzem escritas de nível mais
evoluído do que as crianças dos outros grupos, nomeadamente escritas silábicas e fonémicas. Este
padrão de resultados repete-se também no pós-teste diferido. A intervenção didática realizada no
grupo experimental influenciou o tipo de produção escrita das crianças e este efeito foi sustentável
no tempo. O contexto didático e a natureza das tarefas que as crianças realizam são suscetíveis de
contribuir significativamente para a aquisição e desenvolvimento da escrita.