Author(s):
Louro, Henriqueta
; Tavares, Ana
; Vital, Nádia
; Lavinha, João
; Silva, Maria João
Date: 2013
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.18/1739
Origin: Repositório Científico do Instituto Nacional de Saúde
Subject(s): Genotoxicidade Ambiental; Nanomateriais
Description
Uma das principais preocupações relativamente aos efeitos adversos na saúde humana decorrentes do uso dos nanomateriais manufaturados (NMs) é o seu potencial efeito carcinogénico. Sabe-se que grande parte dos agentes carcinogénicos atua por uma via genotóxica, i.e., através da indução e acumulação de alterações irreversíveis no genoma das células somáticas. Neste sentido, os ensaios de genotoxicidade (de curto-termo) são utilizados para caracterizar o potencial efeito carcinogénico de xenobióticos, sendo propostas várias abordagens baseadas na combinação de testes de genotoxicidade in vitro e in vivo. Em particular, os agentes que apresentem resultados inconclusivos in vitro devem ser testados in vivo, uma vez que a utilização de modelos animais, apesar de dever ser restringida, tem o valor incontornável de fazer intervir toda a complexidade inerente a um organismo superior.
No âmbito do projeto NANOGENOTOX (www.nanogenotox.com), foram caracterizados os efeitos genotóxicos de NMs representativos de três classes: sílica amorfa sintética, dióxido de titânio (TiO2) e nanotubos de carbono em várias linhas celulares. Face a alguns resultados inconclusivos in vitro, no presente estudo pretendeu-se caracterizar os efeitos mutagénicos associados à exposição a um NM de TiO2 (anatase), recorrendo-se a um modelo de ratinho transgénico baseado em plasmídeo contendo o gene bacteriano LacZ. Este modelo pode ser usado de forma integrada, permitindo a determinação da frequência de mutações induzidas em vários órgãos, bem como a análise de instabilidade cromossómica (ensaio do micronúcleo).
Assim, grupos de cinco ratinhos foram tratados por via intravenosa em dois dias consecutivos, com duas doses de TiO2 preparado segundo um protocolo de dispersão estandardizado. As doses foram selecionadas com base nos dados de toxicocinética e bioacumulação previamente obtidos por parceiros do projeto. Em simultâneo, foram utilizados um grupo de controlo negativo injetado com o meio de dispersão do NM e um grupo de controlo positivo exposto a etilnitrosureia (ENU). Decorridas 42h após a última injeção, realizou-se o ensaio do micronúcleo em reticulócitos do sangue periférico e, ao fim de 28 dias, sacrificaram-se os animais e recolheram-se os órgãos para análise de lesões no DNA (ensaio do cometa em células hepáticas e esplénicas) e de mutações no transgene.
A análise dos resultados dos ensaios do cometa e do micronúcleo não revelou propriedades genotóxicas do TiO2 nos ratinhos. Resultados preliminares da frequência de mutação no transgene isolado a partir de células hepáticas parecem estar concordantes, embora esta análise ainda esteja em curso.
Em conclusão, espera-se que a integração dos resultados destes três endpoints e a sua interpretação global contribuam para o “corpo de evidência” relativamente à genotoxicidade associada a este NM de dióxido de titânio, permitindo concluir acerca da sua segurança para a saúde humana.