Description
O consumo repetido de drogas, nomeadamente opióides, conduz ao desenvolvimento de dependência. Entre os mecanismos envolvidos neste processo, comuns à maioria das drogas de abuso, destaca-se a activação da neurotransmissão dopaminérgica em zonas específicas do cérebro. O metabolismo oxidativo da dopamina confere-lhe um potencial neurotóxico
devido à formação de espécies reactivas de
oxigénio, nomeadamente peróxido de hidrogénio
(H2O2). Neste trabalho avaliou-se o efeito da
exposição crónica de células PC12 à “heroína de
rua” ou ao H2O2 na resposta destas células a uma
exposição aguda a estes compostos, em comparação com células PC12 “naïve” (sem exposição prévia aos compostos). As células
cronicamente expostas à heroína ou ao H2O2
apresentaram-se parcial ou totalmente resistentes, respectivamente, a uma exposição aguda ao H2O2. Este efeito correlacionou-se com a manutenção dos níveis de ATP após exposição aguda ao H2O2, em contraste com as células “naïve”. Para além disso, observou-se que a viabilidade das células cronicamente expostas à heroína e ao H2O2 era mais afectada pela heroína, comparativamente às células
“naïve”. Esta sensibilização poderá ser explicada
pelo aumento da acumulação extracelular de
dopamina, induzida por estes compostos. Por outro lado, a exposição aguda à heroína de células já cronicamente expostas a esta droga de abuso induziu uma maior susceptibilidade
comparativamente a células cronicamente expostas ao H2O2. Esta observação poderá ser explicada por um decréscimo dos níveis intracelulares de ATP e ADP induzido pela incubação crónica com “heroína
de rua”, o que indicia um compromisso energético
destas células. Em resumo, a exposição crónica à
“heroína de rua” altera os níveis energéticos
celulares, os níveis extracelulares de dopamina e a resposta a estímulos citotóxicos, evidenciando-se o papel nocivo do consumo regular desta droga por toxicodependentes.