Author(s):
Rodrigues, Adriano Duarte
Date: 2003
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/8005
Origin: Repositório Institucional da UNL
Description
A questão da violência discursiva estabelece com o tema da guerra, a
que estes IX Encontros Interdisciplinares são dedicados, uma relação privilegiada
que importa esclarecer. Ao contrário da idéia muito generalizada de
que o discurso se opõe à violência, a dar crédito ao aforismo popular «a conversar
é que a gente se entende», pretendo mostrar que é no discurso que a
violência se fundamenta e se alimenta.
Partirei de uma concepção pragmática, considerando a linguagem como
prática que se desenrola ao longo do processo interlocutivo e da interacção
discursiva. Da perspectiva pragmática que adopto decorrem alguns postulados
que orientarão a minha abordagem da violência discursiva. Passo a
explicitá-los de maneira sucinta.
Primeiro postulado: a violência não é um valor semântico dos textos, da
materialidade das formas verbais, mas uma dimensão pragmática da interacção
verbal, da colocação dos textos em discurso^. Não tem por isso sentido
dizer que um texto é violento ou não violento. A violência só pode advir aos
textos a partir de pressupostos criados pela situação enunciativa. Um mesmo
conjunto de unidades lingüísticas pode adquirir marcas distintas de violência,
consoante as relações interlocutivas e o sentido da interacção verbal em
que ocorre, em função dos diferentes quadros enunciativos particulares em
que se insere.