Autor(es):
Rodrigues, Adriano Duarte
Data: 2003
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10362/7960
Origem: Repositório Institucional da UNL
Descrição
A técnica revela hoje de maneira inequívoca a sua natureza paradoxal: é
no nosso tempo que a nossa experiência do mundo se toma tanto mais
dependente dos objectes técnicos quanto menos nos damos conta da sua presença
e do seu funcionamento. É pelo facto de a nossa época ser em grande
medida determinada pelo funcionamento, não de utensílios, instrumentos eu
máquinas, mas de dispositivos artificiais que a intervenção da técnica atinge
um nível incalculável de performatividade, tomando-se, per conseguinte,
tanto mais indiscemível quanto mais naturalizada e incorporada nos mais
diversos domínios da experiência.
Ao longe dos últimos séculos, o imaginário que alimentou a invenção
técnica foi sobretudo dominado per projectes de produção e de transformação
da natureza. É este imaginário que os mais recentes dispositivos técnicos
parecem contrariar, uma vez que se inscrevem, antes, num claro processo de
tecnicização da experiência, envolvendo dimensões que, até ao nosso tempo,
pareciam escapar ao domínio da tecnicidade, tais como as dimensões bélicas,
éticas, estéticas, lúdicas, sexuais e competitivas. Deste modo, de entre os
objectivos que mobilizam o imaginário inventivo, não é o da produção, mas
o de acondicienamente dos corpos, tanto individuais como colectivos, que
parece hoje determinante.
Os neves dispositivos técnicos asseguram, por conseguinte, um largo
espectro de funções, que atingem já praticamente a totalidade da experiência
de mundo, desde es processos de gestão burocrática da vida colectiva e da
vida individual, aos procedimentos de planificaçãe das decisões, tanto em
matéria econômica, come nos domínios do urbanismo, da educação, da saúde
e da precriação.