Author(s):
Dias, Manuela
Date: 2008
Persistent ID: http://hdl.handle.net/1822/8324
Origin: RepositóriUM - Universidade do Minho
Description
Tese de Doutoramento em Educação - Área de Conhecimento de Tecnologia Educativa A aprendizagem é um processo mediante o qual o indivíduo adquire e modifica as suas
representações do meio, em virtude da informação procedente da sua interacção com ele. A base de
toda a cognição acaba por ser a capacidade de desenvolver representações dos factos externos
relevantes, das relações entre eles e da sua relação com os factos que ocorrem no organismo, pois são
estas representações que permitem que o organismo actue à luz da experiência (Liversey, 1986).
Neste sentido, torna-se fundamental que as capacidades de Percepção Visual dos alunos estejam
bem desenvolvidas de modo a permitirem aprendizagens baseadas nas representações do meio e sua
interacção com ele. As competências de Percepção Visual desenvolvem-se através de um complexo “acto
neurobiológico” seguido de um processo superior de organização da informação (Frostig, 1972). Tudo
isto está muito relacionado com o modo como a nossa visão faz a captação da imagem, pois é a partir
deste momento que se desenvolve uma actividade mental (Francastel, 1983).
Os problemas de percepção visual (PV) em alunos com Dificuldades de Aprendizagem (DA) são
referidos por vários autores (Frostig, 1972; Hammill, 1990; Mercer, 1991), afirmando Kephart (1986,
[1960]) que, quando a criança com estas dificuldades tem problemas no desenvolvimento da percepção
da forma, acaba por enfrentar também dificuldades nos problemas comuns e diários de figura-fundo.
Assim, devem ser aplicados programas de treino da percepção visual, tendo em vista melhorar o
desempenho dos alunos relativamente às competências perceptivas e permitir uma melhor aprendizagem
dos conteúdos inerentes às mesmas.
Os programas de treino, quando produzidos através das Tecnologias Interactivas, permitem
promover mudanças significativas na aprendizagem dos alunos. As Tecnologias Interactivas têm
promovido mudanças importantes na construção de ambientes promotores da aprendizagem, pelo que as
concepções do computador como uma simples máquina “bem programada” deram lugar a utilizações
alternativas dessa potente máquina interactiva (Coutinho, 2005).
É importante referir que toda a pesquisa sobre tecnologias interactivas, imagens visuais,
problemas de percepção visual e aprendizagem é feita através de numa abordagem multidisciplinar,
visto serem distintas as origens e a natureza dos campos de conhecimento envolvidos.
O presente trabalho pretende contribuir para uma melhoria das capacidades de percepção
visual dos alunos com dificuldades de aprendizagem, através da utilização de Programas de Treino
da Percepção Visual.
No sentido de verificar as vantagens do recurso a um programa de treino interactivo face a
um programa de treino tradicional, foram desenvolvidos dois Programas de Treino da Percepção
Visual (PTPV), um elaborado em papel e outro em suporte informático. Nos dois programas, a
imagem tem um papel preponderante, por ser um meio que favorece a aquisição de informação, a
assimilação e a retenção de conhecimentos bem como permite um melhor e mais organizado
armazenamento da informação (Myers & Hammill, 1990; Salvia & Ysseldyke, 1991; Fontao, 1998).
Este estudo pretende dar resposta a dois objectivos gerais: testar uma metodologia de
intervenção com recurso a programas interactivos criados em suporte informático e testar a eficácia
de uma intervenção na área da Percepção Visual, em contexto escolar, com alunos com Dificuldades
de Aprendizagem.
O estudo desenvolveu-se em três momentos. No Pré-teste, realizado no início do estudo, foi
avaliado o universo de alunos do 1.º ano do 1.º ciclo de escolas do concelho de Braga, num total de
445 alunos, em relação à Percepção Visual, com recurso ao DTVP-2 (Hammill et al, 1993). Destes
alunos, foram seleccionados 57 que apresentavam, em simultâneo, problemas de percepção visual e
dificuldades de aprendizagem e foram constituídos dois grupos experimentais, o GE1 e o GE2 e um
grupo de controlo (GC) que serviu de controlo aos dois grupos experimentais. Os dois grupos
experimentais foram sujeitos aos programas de treino criados para o efeito: o GE1 fez o treino da
percepção visual com o PTPV tradicional, o GE2 fez o treino com o programa interactivo e o GC
não foi sujeito a qualquer treino. Após o treino, os sujeitos foram novamente avaliados com o
DTVP-2 (Pós-teste). O Follow-up foi realizado seis meses após a realização do Pós-teste, para verificar se
os resultados se mantinham.
Após a recolha de dados, os mesmos foram lançados numa base informatizada e processados
no programa de computador ©SPSS (Statistical Program for Social Sciences – versão 15.0).
Analisados os resultados do Pré-teste, foram realizados Testes-t de Student para grupos
independentes, comparando cada grupo experimental com o grupo de controlo. Verificou-se que os
grupos se revelaram semelhantes, não sendo verificadas diferenças significativas, nem em relação à
variável GVP, que constitui um score global de PV, nem relativamente aos índices parciais MRP e
VMI.
No Pós-teste, para verificar as diferenças de resultados entre os três grupos do estudo (GE1,
GE2 e GC) em cada uma das medidas referidas (GVP, MRP e VMI), foi utilizada uma ANOVA
Mista, com recurso ao procedimento GLM (General Linear Model) para medidas repetidas.
Os resultados permitem-nos verificar que a implementação dos programas de treino da
percepção visual, em especial do programa assente em Tecnologias Interactivas, permitiu que os
alunos estudados melhorassem as suas competências de PV e que esses ganhos se tivessem mantido
seis meses após o treino.
A principal conclusão do estudo aponta para a relevância da avaliação e treino de
competências de Percepção Visual, fundamentalmente em crianças que apresentam dificuldades de
aprendizagem. O recurso às Tecnologias Interactivas revela-se particulamente vantajoso neste
contexto, sugerindo-se que as suas potencialidades sejam aplicadas mais frequentemente no
desenvolvimento de instrumentos de intervenção educativa.
A tese de doutoramento que aqui se apresenta encontra-se organizada em duas partes: numa
primeira parte, é exposto o enquadramento teórico sobre as temáticas em estudo – tecnologia
educativa, tecnologias interactivas, imagem, dificuldades de aprendizagem, problemas de percepção
visual e programas de treino da percepção visual, bem como é apresentado o estado da arte
relativamente aos temas tratados. Numa segunda parte, é apresentado o estudo empírico: metodologia,
análise de resultados e sua discussão e conclusões gerais. Learning is a process in which the individual acquires and modifies its representations of the
environment, through the information collected in interactions with it.
Thus, it is crucial that student’s Visual Perception capabilities are well developed, to allow the
learning based on the environment’s representations and the interactions with it. Visual Perception
competencies develop through complex neurological actions followed by a superior process of
information organization (Frostig, 1972). All this is much related with the way our vision captures
images, for after this point a mental activity is developed (Francastel, 1983).
Visual Perception (VP) problems in students that have Learning Disabilities (LD) are referred by
several authors (Frostig, 1972; Hammill, 1990; Mercer, 1991); Kephart (1960, [1986]) claims that, when a
child having these disabilities has problems in the development of shape perception, also ends-up facing
difficulties in common, day-to-day figure-ground problems. Therefore, visual perception training should
be applied in order to improve the students’ performance on perceptive competencies and allow a better
learning of the related contents.
These training programs, when produced through Interactive Technologies, promote significant
changes in the students’ learning process. Interactive Technologies have promoted important changes in
the construction of learning conducive environments, which is why the notion of the computer as a
simple “well programmed” machine has been replaced by alternative utilizations of that potent
interactive machine (Coutinho, 2005).
It is important to refer that all research on Interactive Technologies, visual images, visual
perception problems and learning is done through a multi-disciplinary approach, given the distinct origin
and nature of the fields of knowledge involved.
This work intends to contribute to an improvement in the visual perception capabilities of
students with learning disabilities, through the utilization of Visual Perception training programs.
In order to verify the advantages of using an interactive training program vis-à-vis a traditional
one, two Visual Perception Training Programs (VPTP) were developed: one performed on paper and
another based on computer. In both programs, image has a preponderant role, as it is a media that
favors the acquisition of information, the assimilation and retention of knowledge, as well as it allows a
better and more organized storage of information (Myers & Hammill, 1990; Salvia & Ysseldyke, 1991;
Fontao, 1998).
This study intends to achieve two general objectives: to test an intervention methodology that
uses interactive computer programs and to test the effectiveness of a Visual Perception intervention, in a
school context, on students with Learning Disabilities.
This study was developed in three moments. In the pre-test, the universe of 1st grade primary
school students of Braga, a total of 445 students, was assessed in relation to Visual Perception, using the
DTVP-2 (Hammill et al, 1993). Of all these students, 57 were selected as they showed both visual
perception problems and learning disabilities, with which two experimental groups were formed (GE1
and GE2) as well as a control group (GC), which was used to control the results of two experimental
groups. The two experimental groups were subject to training programs created for the purpose: GE1
was subject to a traditional VPTP, GE2 was subject to an interactive, computer based VPTP and GC
was not subject to any training program. After the training program, the subjects were assessed again viiiwith
the DTVP-2 (post-test). The Follow-up was conducted six months after the post-test to verify if the
results were sustainable.
After the data collection, those were inserted in a computer database and processed using the
©SPSS (Statistical Program for Social Sciences – version 15.0) software.
After analyzing the pre-test data, t-tests were conducted to the independent groups, comparing
each experimental group to the control group. The comparison showed that all groups were similar,
not showing significant differences in the GVP score, which is a global visual perception score, nor
in the partial MRP and VMI scores.
In the post-test, a mixed ANOVA method together with the GLM (General Linear Model)
procedure for repeated measures were used to verify the scoring differences between the three
groups (GE1, GE2 and GC) in each of the referred scores (GVP, MRP and VMI).
Results show that the implementation of visual perception training programs, especially the
one that was based on Interactive Technologies, has allowed students to improve their VP
competencies, and that those improvements were sustained six months after the training.
The main conclusion of the study points to the relevancy of assessing and training Visual
Perception competencies, namely for children that have learning disabilities. The usage of Interactive
Technologies has shown to be particularly effective in this context, suggesting that it should be more
frequently applied in the development of educational intervention instruments.
This doctoral dissertation is structured in two parts: in a first part, it is presented the theoretical
framework and the state of the art on the studied subjects – educational technology, interactive
technologies, image, learning disabilities, visual perception problems and visual perception training
programs. In a second part, the empirical study is presented: its methodology, analysis and discussion of
the results, and general conclusions.