Autor(es):
Coelho, Zara Pinto
Data: 2002
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/1822/29460
Origem: RepositóriUM - Universidade do Minho
Assunto(s): Drogas; Campanhas; Prevenção; Discurso; Ideologia; Análise crítica do discurso
Descrição
Tese de doutoramento em Ciências de Comunicação Será que a linguagem usada nas campanhas de prevenção do uso de drogas tem como base preconceitos sociais e ideologias? E, mais do que isso, será que estas campanhas têm um papel activo na sua comunicação persuasiva? Estas são as questões a que procuramos dar resposta neste trabalho onde analisamos, numa perspectiva crítica (van Dijk, 1993b), as relações entre o modo como a linguagem é usada nas campanhas públicas de prevenção das drogas e o exercício dos poderes político e institucional. Colocando o nosso olhar nas relações dialécticas entre estruturas e estratégias discursivas e seus contextos, queremos saber se as campanhas de prevenção e os seus discursos revelam um funcionamento ideológico. Num segundo plano, interessa-nos também revelar a relação entre o discurso destas campanhas e a fala quotidiana sobre consumidores de drogas.
Para responder a estes interesses, fizemos “uma viagem” que nos levou ao período compreendido entre 1987 e 1996, um período no qual a sociedade Portuguesa foi alvo de uma acção continuada de promoção de campanhas institucionais de prevenção, propulsionada por uma vontade política reformadora no plano estrutural e no plano da orientação global do sistema de controlo especializado das drogas. Esta reforma visou a clarificação de fronteiras entre os poderes constituintes desse sistema, tendo em vista a expansão da intervenção médica e terapêutica e a mobilização da “comunidade” para o combate. Circulava no discurso público a ideia de que “a droga” se tinha democratizado, no terreno o uso da heroína aumentou e as suas formas de consumo diversificaram-se, bem como o tipo de perigos associados (HIV/SIDA). Apesar dos sintomas de perda de legitimidade do regime político-legal, em 1993 foi reforçada a tendência punitiva do consumidor, mas também o lado sanitário e médico do combate. Este processo culminou na descriminalização do consumo em 2000. Ao nível social, assistimos ao agravamento do ostracismo contra junkies, das más condições sanitárias deste grupo e à pauperização da cada vez mais numerosa população prisional.
A análise do discurso examina os tópicos principais para dar uma imagem global dos assuntos considerados (não) importantes nestas campanhas. Num segundo momento, centramos a atenção na análise de uma amostra de textos ilustrativos dos diferentes géneros de discurso que caracterizam as campanhas públicas de prevenção do uso de drogas. Neste ponto, examinamos o modo como esses tópicos são formulados ao nível discursivo e linguístico. Trata-se aqui de evidenciar os efeitos das ideologias e de outras representações sociais nessas dimensões do discurso, e de mostrar as funções e os efeitos persuasivos, ideológicos e sociopolíticos dessas escolhas e suas consequências sociais. Dada a natureza pretensamente factual e objectiva do discurso das campanhas, expomos os mecanismos mais sofisticados e menos explícitos usados para controlar e enviesar a informação dada, para controlar a ordem do discurso público, manter a ilusão da imparcialidade e da tolerância, e mascarar aspectos autoritários e repressivos, e damos conta das ressonâncias deste discurso na fala informal.
Tipo de Documento
Tese de Doutoramento
Idioma
Português
Orientador(es)
Dijk, Teun A. van; Alves, Aníbal