Autor(es):
Ribeiro, Filipa Pinto
Data: 2010
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/1822/12265
Origem: RepositóriUM - Universidade do Minho
Descrição
Tese de doutoramento em Ciências da Saúde Pain is an essential tool for survival, but equally important is the ability to overcome pain in life
threatening events, allowing us to react. Stress-induced analgesia exemplifies this concept as a
strong acute stressor activates the hypothalamic-pituitary-adrenal glands (HPA) axis and leads to
the release of adrenaline, dampening pain processing and resulting in transient analgesia. This
initial response is followed by the release of corticosteroids in order to re-establish physiological
homeostasis. On the other hand, the effects of chronic stress upon pain perception are not
consensual as both inhibition (analgesia) and facilitation (hyperalgesia) of nociception has been
reported in different contexts. Additionally, several studies showed that patients suffering from
chronic pain display altered HPA axis function, suggesting an intricate relationship between the
stress and pain modulatory systems.
To assess the effect of chronic stress upon nociception, a chronic unpredictable stress (CUS)
paradigm was used in order to warranty a strong and sustained corticosteroid release throughout
the experimental period. The specific contribution of each corticosteroid receptor towards spinal
nociception was also evaluated by mimicking CUS through prolonged administration of
corticosterone [mineralocorticoid- (MR) and glucocorticoid-receptor (GR) agonist] and
dexamethasone (GR agonist alone), while the influence of CUS upon the supraspinal pain control
system was assessed by behavioural and electrophysiological approaches. The tract-tracing
anatomical identification of the pain modulatory areas targeted by the paraventricular nucleus of
the hypothalamus (PVN), the coordinator of the stress response, set the basis for the
electrophysiological evaluation of a direct role for the PVN upon descending antinociception in a
normal and chronic pain (arthritis) scenario. In parallel, the role in pain modulation of the
dorsomedial nucleus of the hypothalamus (DMH), a contributor to stress-induced hyperalgesia,
was also evaluated in normal and arthritic rats using the same behavioural and
electrophysiological approaches.
Our results show that the unpredictability of stressor application is essential for a strong HPA axis
activation and subsequent behavioural analgesia. The spinal antinociceptive effect of sustained
corticosteroid levels appears to be mediated by GR receptor activation, through the decreased
expression of nociceptive neurotransmitters and enhanced availability of GABAB2 receptors. At the supraspinal level, CUS decreased both the number and the spontaneous and noxious-evoked
activity of rostral ventromedial medulla (RVM) pronociceptive ON-cells, thus indicating a role for
the RVM in chronic stress-induced analgesia. The anatomical analysis of the PVN brain
connections confirmed that this nucleus is part of an intricate bi-directional neuronal network that
comprises several supraspinal areas involved in pain modulation, amongst which are the RVM
and caudal ventromedial medulla (CVLM). The pharmacological manipulation of the PVN
demonstrated that it has an antinociceptive role, mediated by descending serotonergic and
noradrenergic pathways (but not opioidergic). The serotonergic PVN-mediated effects were
depressed following the development of arthritis, which suggests that plastic changes in the pain
control system should contribute to chronic nociceptive pain. Additionally, we demonstrated that
the PVN has a tonic and phasic descending antinociceptive effect upon nociceptive modulation,
which is partly mediated through the RVM and CVLM. Interestingly, hyperalgesia induced by
stress shares at least a common denominator with antinociceptive descending modulatory
pathways, as RVM nociceptive cells are also modulated by the DMH. The manipulation of the
DMH demonstrated its facilitatory nociceptive effect in normal animals. However, the DMH is not
involved in the pain-induced hyperalgesia occurring during chronic nociceptive pain, as its
nociceptive facilitatory drive is absent in arthritic animals. Finally, the descending drive from the
PVN, but not the DMH, is maintained in the presence of arthritis, which points to a stronger
involvement of the HPA axis in chronic inflammatory disorders.
In conclusion, analgesia induced by CUS is the reflex of profound changes in the neurochemistry
of the spinal dorsal horn and descending pain modulatory pathways. In chronic inflammation, the
HPA axis enhanced activity could contribute to the comorbidities associated with pain due to the
detrimental effects of corticosteroid hypersecretion that occur during its activation. Future studies
should evaluate the role of limbic (emotional and cognitive) areas, like the amygdala, upon CUS
and the PVN, and the potential alterations in these areas triggered by the development of chronic
inflammatory pain. This will elucidate on the mechanisms of emotional alterations associated
with chronic stress and chronic pain. A capacidade de percepcionar estímulos dolorosos é uma ferramenta essencial para a
sobrevivência de um indíviduo, apenas ultrapassada pela capacidade de conseguir inibir a dor
em situações de risco nas quais é necessário reagir para sobreviver. A analgesia induzida pelo
stress é um exemplo deste mecanismo uma vez que numa situação stressante aguda, capaz de
activar o eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenais (HPA), a imediata secreção de adrenalina interfere
com a transmissão nociceptiva e resulta numa analgesia intensa mas temporária.
Posteriormente e como resultado da activação do eixo HPA, ocorre a libertação de
corticosteróides cuja função é re-estabelecer a homeostasia fisiológica. Por outro lado, o efeito do
stress crónico na percepção dolorosa não é consensual uma vez que, dependendo do contexto
experimental, foi já descrita tanto uma diminuição da dor (analgesia) como o seu incremento
(hiperalgesia). Para além disto, diversos estudos clínicos demonstram que pacientes com dor
crónica sofrem de disfunção do eixo HPA, o que realça a existência de uma interacção
importante e complexa entre os mecanismos que modulam a resposta à dor e ao stress.
Na avaliação do efeito do stress crónico sobre a nocicepção usou-se um paradigma de stress
crónico imprevisível (CUS) por forma a garantir uma secrecção sustentada de corticosteróides ao
longo de todo o período experimental. A contribuição específica de cada um dos receptores de
corticosteróides na modulação espinhal da nocicepção foi avaliada através da administração
prolongada de corticosterona [agonista dos receptores mineralocorticóides (MR) e
glucocorticóides (GR)] e de dexametasona (agonista específico de receptores GR), que
mimetizaram fisiologicamente os efeitos do CUS. A influência do CUS sobre o sistema
supraspinhal de controlo da dor foi avaliada em termos comportamentais e pela caracterização
electrofisiológica da actividade neuronal destas áreas.
A posterior identificação, através de traçadores anatómicos retrógrados e anterogrados, de áreas
moduladoras da dor que recebem projecções por parte do núcleo paraventricular do hipotálamo
(PVN), a área coordenadora da resposta fisiológica ao stress, serviu de base para a avaliação electrofisiológica do envolvimento directo deste núcleo na modulação descendente da dor em
animais normais ou com dor crónica (artrítica). Em paralelo, procedeu-se à avaliação
comportamental e electrofisiológica do papel do núcleo dorsomedial do hipotálamo (DMH) na
modulação da dor, já que este núcleo parece mediar a hiperalgesia induzida pelo stress.
Os nossos resultados demonstram que a aleatoriedade na aplicação prolongada do stress é um
factor determinante na sustentação da activação do eixo HPA e na subsequente analgesia. O
efeito antinociceptivo do stress crónico ao nível da medula espinhal parece ser mediado pela
activação de receptores GR, os quais diminuem a expressão de neurotransmissores nociceptivos
e aumentam a disponibilidade dos receptores GABAB2 no corno dorsal da medula espinhal. A
nível supraspinhal, o CUS induziu uma diminuição do número, uma diminuição da actividade
espontânea e uma diminuição da resposta a estímulos nóxicos das células pronociceptivas ON
do bolbo rostroventromedial (RVM), evidenciando a participação desta área na analgesia induzida
pelo stress crónico.
A avaliação anatómica das projecções do PVN confirmou que este núcleo faz parte de uma
extensa rede neuronal que compreende conexões recíprocas com várias áreas encefálicas
envolvidas na modulação da dor, como sejam o RVM e o bolbo caudoventrolateral (CVLM).
Adicionalmente, a manipulação farmacológica do PVN demonstrou que esta área exerce uma
acção antinociceptiva através de vias descendentes serotonérgicas e noradrenérgicas (mas não
opioidérgicas). O efeito antinociceptivo serotonérgico do PVN está deprimido após o
desenvolvimento de artrite, o que sugere a ocorrência de alterações plásticas no sistema de
controlo da dor que deverão contribuir para a dor crónica nociceptive. A acção antinociceptiva
tónica e fásica do PVN sobre a transmissão nociceptiva espinhal, é parcialmente mediada pelo
RVM e CVLM. Curiosamente, a hiperalgesia induzida pelo DMH partilha parcialmente as vias
anatómicas com o sistema antinociceptivo descendente da dor, uma vez que as células do RVM
também são moduladas pelo DMH. A manipulação do DMH confirmou o seu papel
pronociceptivo em animais normais. No entanto, o DMH não participa na hiperalgesia induzida
pela dor crónica pois a acção facilitatora deste núcleo desaparece nos animais artríticos. Mais
ainda, a acção moduladora do PVN (mas não do DMH) é mantida na presença de artrite, o que
sugere um maior envolvimento do eixo HPA nas doenças inflamatórias crónicas.
Em conclusão, a analgesia induzida pelo CUS é o espelho de alterações profundas na
neuroquímica da medula espinhal e das vias descendentes intervenientes no sistema endógeno supraspinhal de controlo da dor. Em patologias inflamatórias crónicas, o aumento da actividade
do eixo HPA poderá contribuir para as comorbidades associadas à dor como consequência dos
efeitos deletérios da hipersecreção prolongada de corticosteróides que daí resultam. Estudos
futuros poderão avaliar o papel das áreas do sistema límbico (emocional-cognitivo), como a
amigdala, sobre o CUS e o PVN e as alterações plásticas nestas mesmas áreas resultantes do
desenvolvimento de dor crónica inflamatória. Os dados resultantes contribuirão para elucidar os
mecanismos das alterações emocionais associados ao stress crónico e à dor crónica.