Autor(es):
Pintassilgo, Joaquim
Data: 2010
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10451/8309
Origem: Repositório da Universidade de Lisboa
Assunto(s): Republicanismo; Utopia educativa; Laicização; Rituais cívicos
Descrição
A educação era entendida pelo republicanismo, à semelhança do que acontecia na 3.ª República francesa, como um elemento central do projecto de regeneração da sociedade portuguesa. Após a revolução política, tornava-se necessária a concretização de uma verdadeira revolução cultural, conducente à interiorização dos novos valores pelos cidadãos. O combate ao analfabetismo, alvo de um grande investimento retórico, era considerado inseparável desse processo, tendo justificado algumas iniciativas de relevo. À escola, em particular a escola primária, era atribuída a finalidade de formar os cidadãos necessários à preservação da jovem República. Assim se compreende a importância nela assumida tanto pelo laicismo como pelo patriotismo que se pretendiam geradores de um novo consenso. Entre as estratégias usadas pelo republicanismo merecem destaque a educação moral e cívica escolar, as festas cívicas, como as dedicadas ao culto da pátria e ao culto da árvore, ou a educação militar. Em todos estes exemplos é de sublinhar tanto a forte influência da tradição republicana francesa como o paralelismo existente em relação a outras experiências republicanas (Espanha e Brasil, por exemplo). A um outro nível, o projecto pedagógico do republicanismo português foi contemporâneo das ideias e práticas inovadoras desenvolvidas sob inspiração da chamada Educação Nova e, embora lhe deva muitos dos seus lugares-comuns neste terreno, também é verdade que algumas das iniciativas mais emblemáticas do período, como as festas cívicas e os batalhões escolares, provocaram alguma fricção entre os dois campos. Não obstante, alguns dos principais postulados do movimento renovador tiveram ampla circulação no Portugal republicano, como foi o caso da crença no carácter científico da pedagogia, da colocação da criança no centro do processo educativo, da valorização dos procedimentos intuitivos e das «lições de coisas» ou da defesa dos chamados «métodos activos». Essas ideias foram postas a circular em países como a Suíça e a Bélgica, tendo sido apropriadas pelos educadores portugueses que as procuraram concretizar em experiências desenvolvidas em contextos educativos diversos.