Autor(es):
Sousa, Francisco
Data: 2010
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.3/1289
Origem: Repositório da Universidade dos Açores
Assunto(s): Currículo; Diferenciação Curricular; Gestão Curricular; Organização Escolar
Descrição
Comunicação apresentada no IX Colóquio sobre Questões Curriculares/V Colóquio Luso-Brasileiro, sob o tema "Debater o currículo e os seus campos – políticas, fundamentos e práticas", realizado na Universidade do Porto - FPCEUP - de 21 a 23 de Junho de 2010. É hoje claro que nem a uniformidade curricular, que começou a ser sistematicamente criticada em Portugal há quase vinte anos (Formosinho, 1991, 1993), nem a diferenciação curricular estratificadora – isto é, associada a uma lógica de atribuição de diferentes valores a diferentes tipos de conhecimento e de controlo do acesso aos diferentes estratos de currículo resultantes dessa atribuição (Young, 1998, pp. 14-21) – promovem a equidade nos sistemas educativos. O desenvolvimento de formas não estratificadoras de diferenciação curricular parece, portanto, o único caminho possível para a construção de um currículo respeitador do princípio da equidade. Mas há obstáculos à assunção dessa abordagem. Numa tentativa de contribuir para a compreensão dos mesmos, recorre-se, nesta comunicação, a um estudo empírico através do qual se procurou caracterizar o pensamento e a prática de docentes do ensino básico relativamente à diferenciação curricular. Tendo os resultados relativos à dimensão individual dessa problemática sido já apresentados e discutidos (Sousa, 2007, 2008), focar-se-á agora uma dimensão organizacional, sendo esse foco subordinado a dois objectivos específicos do já referido estudo empírico: - Compreender até que ponto os órgãos de gestão intermédia da escola estudada organizavam o seu trabalho numa lógica de diferenciação curricular; - Identificar representações da diferença (entre estudantes) subjacentes a esse mesmo trabalho. A metodologia assentou sobretudo em três técnicas de recolha de dados: entrevistas com directores de turma, observação de reuniões de conselhos de turma e análise dos documentos processados por esses órgãos. Os resultados do estudo evidenciam que os referidos documentos foram usados mais para efeitos de cumprimento de obrigações burocráticas do que para efeitos de gestão curricular, o que denuncia uma tendência para a burocratização, que tem vindo também a ser assinalada pela investigação sobre projectos curriculares de turma e que se manifesta sobretudo na produção de muita informação de caracterização das turmas que acaba por não ser mobilizada na prática pedagógica (Freire, 2005). Nesta comunicação será sugerido que, mais do que resultar de uma simples atracção pela lógica burocrática, a dificuldade de construção de projectos curriculares de turma que funcionem como instrumentos de gestão curricular ao serviço da equidade radica, em grande parte, numa representação da diferença em que esta última tende a ser considerada como sinónimo de défice, estreitando-se assim o leque de oportunidades de exploração de dimensões da diferença entre estudantes não associadas a dispositivos de estratificação.