Autor(es):
Silva, Maria João
Data: 2006
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.12/944
Origem: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Assunto(s): Psicologia educacional; Matemática; Aprendizagem; 2º ano de escolaridade; Ensino; Instrumentos; Resolução de problemas; Educational psychology; Matematics; Learning; Second grade level; Reading; Instruments; Problem solving
Descrição
Dissertação de Mestrado em Psicologia Educacional O conhecimento que a criança vai adquirindo resulta das suas experiências quotidianas, do conjunto de situações que lhes vai proporcionando esquemas de pensamento acerca do mundo que a rodeia. Perante situações que ela não consegue explicar ou resolver, ela vai colocando hipóteses e explorando diversas formas de resolução. No caso dos conhecimentos matemáticos, esta situação não é diferente. A criança vai construindo teoremas-em-acção de modo a resolver situações problemáticas localizadas, dando início à elaboração de noções matemáticas, como representar, relacionar e operar com quantidades, por exemplo.
Com a entrada para a escola, a criança vai sendo confrontada com um saber institucional ''decretado" e transmitido por alguém mais competente. Muitas vezes, acontece, as crianças tentarem adaptar os seus esquemas ao conhecimento transmitido, o que pode originar dificuldades na aprendizagem. É através da confrontação com problemas para os quais não tem uma solução e que não servem as ideias que foi construindo, que a cnança vai alterando as suas concepções e evoluindo para teoremas mais abstractos e adequados.
Perante a resolução de diferentes categorias de problemas, nos quais se fazem variar as relações semânticas, a posição da incógnita, a posição da pergunta a investigar, entre outros aspectos, a criança domina diferentes propriedades do mesmo conceito. No caso deste estudo, os conceitos a dominar são o de adição e o de subtracção. É também documentado, por várias investigações acerca das práticas pedagógicas levadas a cabo dentro da sala de aula, que os manuais escolares desempenham um papel fundamental. por vezes orientador, destas práticas e do conhecimento a adquirir pelos alunos.
Centrando-se nestas perspectivas, o presente estudo pretendeu analisar os manuais escolares do 2o ano de escolaridade, da disciplina de Matemática, mais utilizados pelas escolas portuguesas, em relação as categorias de problemas aditivos e subtractivos que apresentavam. Estabelecendo-se duas análises distintas: por um lado, comparar os manuais entre si, no que respeita, à proporção de problemas aditivos e subtractivos em relação ao número de exercícios aditivos e subtractivos e às categorias de problemas aditivos e subtractivos que apresentavam (analisados segundo a tipologia de problemas de Vergnaud, 1982); por outro, averiguar se as diferenças entre os manuais se reflectiam em diferenças significativas nos desempenhos das crianças que tinham o ensino da Matemática, baseada naqueles manuais.
A amostra do estudo compreendeu um total de 60 crianças, do 2o ano de escolaridade, da região de Lisboa, com uma média de idade de 7 anos e 11 meses, divididas por três grupos, consoante os manuais em análise: Amiguinhos, Fio-de-Prumo e Eu e o Bambi. De modo a homogeneizar os grupos, consideraram-se os resultados das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven.
A análise feita aos manuais consistiu na contagem do número de exercícios e de problemas aditivos e subtractivos, existentes nos manuais em estudo, e na categorização desses problemas, baseada na tipologia de problemas de Vergnaud (1982). Para alguns dos manuais, foi ainda averiguada a posição da incógnita para todas as categorias de problemas. Os desempenhos dos participantes foram analisados segundo o processo de resolução de quatro categorias diferentes de problemas aditivos e subtractivos, a saber: composição de duas medidas (categoria I), transformação unindo duas medidas (categoria II): relação estática entre duas medidas (categoria III), e composição de duas transformações (categoria IV) (Vergnaud, 1982). A análise estatística efectuada (teste paramétrico t-student) e para um nível de significância de alpha= 0,05, confirmou a existência de diferenças significativas no desempenho dos participantes de cada grupo, na resolução de problemas de duas categoria de problemas {composição entre duas medidas e relação estática entre duas medidas), em função da posição da incógnita.
Contudo, a análise estatística efectuada para avaliar os desempenhos dos participantes na resolução de problemas de adição e de subtracção, (teste paramétrico ANOVA, para uma nível de significância de alpha= 0.05). revela que não existem diferenças significativas entre os grupos definidos pelo manual.
As grandes ilações retiradas do estudo são as seguintes: a marcada predominância de exercícios de cálculo em detrimento de problemas aditivos e subtractivos; também, a predominância de uma determinada categoria de problemas, nos manuais analisados; e a ausência de diferenças significativas no desempenho dos diferentes grupos nas várias categorias de problemas, mas a presença de diferenças significativas na resolução de problemas de cada categoria, em função da posição da incógnita.