Autor(es):
Pedrosa, C
; Ramalho, M
; Pina, S
; Santos, C
; Teixeira, S
; Prieto, I
Data: 2013
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.10/1116
Origem: Repositório do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Assunto(s): Malária; Doenças da retina; Retinopatia
Descrição
INTRODUÇÃO: A malária é responsável por cerca de 660 000 mortes anualmente, em todo o mundo, maioritariamente em crianças. As manifestações oftalmológicas associadas a encefalopatia difusa por malária são específicas e permitem confirmar o diagnóstico desta patologia e orientar o tratamento de forma a reduzir o risco de sequelas neurológicas e mortalidade a esta associadas.
OBJECTIVO: Salientar a apresentação clínica da retinopatia da malária, a propósito de um caso, de forma a sublinhar a importância da suspeita e diagnóstico da malária cerebral em doentes com manifestações semelhantes.
CASO CLÍNICO: Doente do sexo masculino, 39 anos de idade, raça caucasiana, residente em Angola há 4 anos. Recorreu ao hospital Huntington Beach, Califórnia, durante viagem turística, por síndrome gripal, icterícia e alteração do estado de consciência. Após o diagnóstico de malária a Plasmodium falciparum, iniciou tratamento com quinino e doxiciclina, tendo evoluído para encefalopatia severa (coma). Após terapêutica com Artesunate, apresentou melhoria neurológica e hematológica, tendo sido transferido para Portugal. À observação inicial oftalmológica, no Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, destaca-se escotoma central no olho direito (OD) e acuidade visual de 10/10 no olho esquerdo (OE). A oftalmoscopia indirecta revelou, no olho direito, hemorragia em toalha das camadas profundas da retina, redonda, de 1 diâmetro pupilar, na arcada temporal superior. No olho esquerdo, a oftalmoscopia indirecta mostrou uma hemorragia foveolar, algumas hemorragias superficiais no feixe inter-papilomacular e lesão hemorrágica periférica profunda, com centro esbranquiçado. Foi efectuado o registo das lesões referidas por retinografia. Não foi possível efectuar angiografia fluoresceínica, dada a deterioração do estado renal com necessidade de hemodiálise.
RESULTADOS: Um mês após a primeira observação, o doente apresentava acuidade visual de 10/10 ODE e, à observação, verificou-se o desaparecimento da quase totalidade das lesões descritas, conforme se objectiva na retinografia efectuada.
CONCLUSÕES: A retinopatia da malária é um factor de diagnóstico da infecção a P. falciparum em estadios graves, geralmente com afectação cerebral, constituindo também um indicador de prognóstico, já que as alterações retinianas se correlacionam com a gravidade da patologia subjacente, mortalidade e duração da alteração do estado de consciência. Sendo uma manifestação de diagnóstico simples e, por vezes, fundamental no decurso terapêutico de situações clínicas graves, o conhecimento das características associadas a esta patologia torna-se imperativo.
BIBLIOGRAFIA:
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