Autor(es):
Graça, A.
; Sampaio, I.
; Moniz, C.
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.16/1277
Origem: Repositório Científico do Centro Hospitalar do Porto
Descrição
A hipotermia induzida (HI) é considerada actualmente a terapêutica neuroprotectora de eleição para a encefalopatia
hipoxico-isquémica (EHI) moderada a grave no recém-nascido (RN) de termo, já existindo experiência considerável na sua utilização
em contexto clínico. Consiste na redução da temperatura corporal para valores entre 33 e 34ºC durante 72 horas, seguida
de um reaquecimento progressivo.
No momento actual tornou-se crucial que todos os médicos que prestam assistência ao recém-nascido conheçam as indicações
para este tratamento e as especificidades da abordagem inicial destes doentes, sendo imprescindível iniciar medidas de
hipotermia passiva no local de nascimento, que devem ser mantidas durante o transporte.
O primeiro programa nacional de HI na EHI iniciou-se na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Serviço de Neonatologia
do Hospital de Santa Maria (UCIN-HSM) em Novembro de 2009. Foram tratados nos primeiros 18 meses do programa
29 doentes oriundos de todo o território continental do país. A
mediana da idade gestacional foi de 39 semanas, identificando-se um evento agudo intra-parto em cerca de um terço dos casos.
Todos necessitaram de reanimação avançada e apresentaram
evidência de acidose metabólica na primeira hora de vida.
Na admissão metade apresentavam encefalopatia grave, nove
moderada e seis ligeira. A hipotermia passiva iniciou-se no hospital
de origem antes das três horas de vida e a hipotermia activa
iniciou-se sempre antes das 12 horas de vida (mediana de seis horas). Durante o tratamento todos os RN estiveram monitorizados com electroencefalograma de amplitude integrada (aEEG),
sedados e com suporte ventilatório. Ocorreram convulsões em
22 RN, hipotensão arterial em 21 e insuficiência renal aguda em
nove. O prognóstico baseado na evolução clínica, na monitorização
com a EEG e na RMN-CE, considerou-se favorável em oito RN, intermédio em quatro e adverso em 12 casos. Cinco RN
faleceram, dois ainda durante o tratamento.
A implementação do programa de hipotermia na UCIN-HSM permitiu o acesso dos RN portugueses à única terapêutica eficaz
na EHI. Apesar de alguns RN terem nascido a grande distância de Lisboa, foi possível iniciar sempre a HI dentro da janela terapêutica.
Tratou-se de um grupo de RN gravemente doentes, frequentemente
com falência multiorgânica e sujeitos a alterações na fisiologia
de vários órgãos e sistemas condicionadas pela hipotermia.
Ao longo do tempo, a par de um aumento no número de doentes
referenciados, verificamos um aumento relativo dos casos menos
graves, o que reflecte um aumento da sensibilidade dos pediatras
para a importância de referenciar atempadamente estes doentes
para uma UCIN com programa de hipotermia.