Autor(es):
Ana Silva Fernandes
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10216/57231
Origem: Repositório Aberto da Universidade do Porto
Assunto(s): Ciências sociais; Estudos culturais; Estudos sobre o terceiro mundo, Ciências tecnológicas; Arquitectura
Descrição
"Coração da ilha, núcleo de irradiação para o interior, centro comercial, sede do Cabido e da governação, a cidade de São Tomé havia de reflectir as expansões e contracções das vicissitudes históricas e económicas por que a ilha passou." [Tenreiro, 1961: 203]
São Tomé e Príncipe, apesar da sua reduzida dimensão territorial e populacional, apresenta uma interessante diversidade de fenómenos de ocupação, reflexo das mutações decorrentes dos diferentes ciclos económicos e opções estratégicas tomadas ao longo de cinco séculos de colonização, passando pelo processo de independência até à contemporaneidade.
Num percurso que se estende das primeiras ocupações à produção sacarina, da liderança económica mundial de exportações do cacau, aos processos de modernização até à actual condição de micro-Estado em desenvolvimento, o território constitui um elemento em constante interacção.
Analisando as diferentes características e padrões de ocupação territorial – a malha urbana, mas também a sua relação com a roça (empresa agrícola), a vila ou o luchan (lugar, assentamento) – serão discutidos mecanismos adoptados nos sucessivos desafios que se foram interpondo à acção humana: da conquista ao mato da área para urbanizar e da luta para superação de condições de insalubridade, da cidade do açúcar e dos escravos à "cidade adormecida" [Tenreiro, 1961: 204], do período de pousio económico que antecedeu o boom do cacau e a elevação de São Tomé ao estatuto de "pérola do Atlântico", até aos sucessivos planos de modernização e dinâmicas de urbanização, da independência até aos nossos dias. As estratégias de ocupação, as relações socioeconómicas, o património herdado e as formas da sua apropriação materializam no espaço as lutas e relações do tempo.
Actualmente, mais de metade da população vive em São Tomé e Príncipe abaixo do limiar de pobreza, agravando a dificuldade do habitualmente complexo processo de planeamento territorial. As áreas de assentamento informal e as carências habitacionais, a dificuldade na monitorização do território, o regime de propriedade, a dependência de financiamento externo, a escassez de recursos humanos e meios técnicos, e a pluralidade de agentes intervenientes no processo de construção e intervenção no ambiente construído, constituem apenas alguns dos actuais desafios a serem enfrentados.
Nesta apresentação pretendem-se assim expor e debater as múltiplas heranças materializadas no território e na malha urbana de São Tomé, discutindo expectativas e percursos.