Autor(es):
Brito, Paula Matos de
Data: 2007
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/14013
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Resveratrol; Aterosclerose; Apoptose
Descrição
A aterosclerose, principal causa de morte nos países com estilo de vida
ocidental, é uma doença inflamatória crónica associada a stress oxidativo.
Inicialmente, pensou-se que o papel do stress oxidativo na aterosclerose, em
consequência de um aumento da concentração de espécies reactivas de
oxigénio e de nitrogénio na parede arterial, tais como o peroxinitrito (ONOO-),
se restringia à oxidação das lipoproteínas de baixa densidade humanas (LDL).
De facto, as LDLox desencadeiam, in vitro, eventos que se crêem ocorrer in
vivo durante a patogénese da doença, incluindo a disfunção endotelial, a
formação de células esponjosas e a proliferação de células musculares lisas.
No entanto, é hoje claro, que o stress oxidativo e o papel das espécies
reactivas na parede arterial, vão muito para além da oxidação das LDL, uma
vez que à semelhança do que ocorre com as LDLox, também desencadeiam in
vitro vários processos subjacentes à iniciação e àevolução da doença in vivo.
O resveratrol (3,4’,5-trihidroxi-estilbeno) é uma fitoalexina sintetizada na
casca da uva, que ocorre no vinho, em particular no vinho tinto.
Recentemente, foi proposto que o resveratrol podia ser um dos compostos
activos responsáveis pela diminuição da incidência de doenças
cardiovasculares, nos consumidores moderados de vinho. Os efeitos
cardioprotectores do resveratrol têm sido atribuídos às suas actividades
biológicas, tais como actividade antioxidante, actividade anti-proliferativa,
actividade anti-plaquetar e actividade anti-inflamatória. Contudo, os
mecanismos celulares e moleculares subjacentes aos seus efeitos
cardioprotectores permanecem por esclarecer.
Assim, neste estudo pretendeu-se: (1) investigar a capacidade do
resveratrol prevenir a morte das células endoteliais da aorta bovina (BAEC)
mediada pelo ONOO– e potenciais mecanismos bioquímicos celulares
subjacentes (capítulos 2 e 3); (2) avaliar a actividade anti-proliferativa do
resveratrol em células musculares lisas (SMC) estimuladas com LDLox e, mais
particularmente, na via de sinalização da mTOR (capítulo 4).
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Numa primeira fase deste estudo, demonstrou-se que uma pré-incubação
longa (14 h) das células endoteliais com o resveratrol protege as células do
dano mediado pelo ONOO– 500 μM, de uma forma dependente da
concentração. Para a concentração mais elevada testada (50 μM), o
resveratrol confere citoprotecção por um mecanismo que envolve o aumento
do conteúdo intracelular de glutatião (capítulo 2).
Posteriormente, investigou-se o mecanismo pelo qual concentrações mais
baixas de resveratrol (10 μM) previnem a morte celular induzida pelo ONOOem
BAEC (capítulo 3). O resveratrol inibe a actividade das caspases-3 e -9,
mas não a da caspase-8, interrompendo preferencialmente a via mitocondrial
da apoptose induzida pelo ONOO–. Esta interferência na via mitocondrial é,
muito provavelmente, uma consequência da capacidade do resveratrol em
modular os níveis intracelulares da proteína Bcl-2, sem afectar os da proteína
Bax.
Numa fase final deste trabalho, estudaram-se vias complementares pelas
quais as LDLox exercem os seus efeitos mitogénicos, mais particularmente na
via da mTOR e o papel do resveratrol nessa mesma via (capítulo 4). As LDLox
estimulam a via da mTOR, como observado não só pelo padrão de fosforilação
de mTOR e do seu alvo a jusante p70S6K como também pela inibição da
proliferação das SMC induzida pelas LDLox, na presença do inibidor da mTOR,
a rapamicina. Adicionalmente, os resultados indicam que a via ERK1/2 pode
influenciar a via da mTOR, mas que o contrário não ocorre. O resveratrol inibe
a proliferação das SMC induzida por LDLox, por um mecanismo dependente
da via mTOR e independente de ERK1/2.
Em conclusão, o presente estudo desvenda mecanismos celulares e
moleculares subjacentes à actividade anti-apoptótica e anti-proliferativa do
resveratrol. Além disso, ele também expande o nosso conhecimento acerca
dos efeitos cardioprotectores potenciais do resveratrol e reforça o seu papel
na prevenção da formação das lesões ateroscleróticas, protegendo dois tipos
de células vasculares, as células endoteliais e as células musculares lisas, de
dois eventos precoces pró-aterogénicos mediados por stress oxidativo.