Autor(es):
Duarte, Madalena
Data: 2007
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/11090
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Descrição
Em Fevereiro de 2007 o movimento pró-escolha em Portugal conseguiu a sua mais
significativa conquista: a vitória do “sim” no referendo à despenalização do aborto até às dez
semanas, iniciando-se, deste modo, a transformação legislativa do ordenamento
jurídico-normativo referente a esta matéria. De facto, a luta pela despenalização do aborto é uma
das aspirações mais emblemáticas na enunciação dos direitos das mulheres no contexto
português. Este processo, que com diferentes momentos de intensidade vem animando o debate
político na sociedade portuguesa, esgrime questões tão instigantes como as representações
sociais e culturais da mulher, da maternidade e da vida, concitando ainda relevantes momentos
de análise das dinâmicas democráticas sobre o direito e a transformação legislativa. Com efeito,
este foi um direito omisso nas mudanças do ordenamento jurídico no pós-25 de Abril, pelo que a
luta pela transformação legislativa tem mais de trinta anos.
Neste quadro, a viagem, em 2004, do barco “Borndiep”, intitulado pela imprensa como “o
barco do aborto”, que se propunha a realizar interrupções voluntárias da gravidez em águas de
jurisdição internacional, constitui um fenómeno marcante desta luta: pelo aceso debate que
suscitou na opinião pública, pelo facto de se inscrever nas formas de acção política ditas radicais
ao mesmo tempo que sustenta a sua acção no cumprimento da lei, e pela circunstância de
constituir uma forma de acção política sobre uma legislação nacional com um desenho
exuberantemente transnacional.
Neste texto pretendo, à luz da discussão do potencial emancipatório do direito nas lutas dos
movimentos sociais, fazer uma breve reflexão sobre o desenrolar desta campanha específica,
enfatizando o papel do direito na sustentação da mesma.