Autor(es):
Grenha, Paula Andreia Magalhães
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/18528
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Hábitos alimentares -- séc. 19-20; Comportamento alimentar -- séc. 19-20
Descrição
O estudo da História da Alimentação integra a visão de quem a analisa e
repercute os pensamentos e as experiências que sustentam a sua pesquisa, revelando os
seus resultados sob uma perspectiva pessoal, e imbuídos da carga emocional e racional
que lhe é mais intrínseca.
De facto, a abordagem a um tema tão densamente rico em factos, histórias e
personalidades não se pode alienar de um sentido, de um objectivo que encaminha a
busca por determinados episódios ou marcos relevantes na conjuntura geral da
investigação. Assim, e de acordo com a minha história pessoal e profissional, pesquisei
esta temática sob a orientação de uma perspectiva mais científica, numa vertente da
demarcação dos principais momentos de mudança e de transformação alimentares, e nas
reacções e respostas encontradas pela sociedade, no período da Época Contemporânea.
Sob a luz da objectividade, a linha temporal do percurso alimentar relatado
enuncia os dados de um modo sistematizado, oferecendo uma descrição sintética e
sequenciada mas, ao mesmo tempo, marcada pela distinção ordenada das personagens e
eventos que a atravessaram e caracterizaram de um modo significativo.
Na idealização deste trabalho, encontrou-se principalmente subjacente a procura
pelo percurso dos hábitos e comportamentos alimentares das gerações que viveram,
sobretudo, durante os séculos XIX e XX, englobando aquelas que, neste momento,
experienciam o início da segunda década do século XXI, e que coabitaram o mundo
ocidental, compreendendo nesta delimitação a Europa e os Estados Unidos da América.
Dando início a uma remodelação alimentar impar na História da humanidade, os
avanços na agricultura dos séculos XVIII e XIX, e o desenvolvimento fulgurante da
indústria alimentar a partir deste último, como consequência e igualmente causa da
expansão e evolução agrícola, foram os principais pilares para o aumento da produtividade e obtenção de mais e melhores frutos e matérias-primas da terra cultivada
e consecutivo incremento da sua aplicação nas emergentes fábricas de processamento
alimentar.
Salientado nos primeiros capítulos do trabalho, dos principais efeitos de ambas
as formas de exploração alimentar, a urbanização e o aumento demográfico exponencial
que se verificou por esta altura, vieram particularmente alterar os hábitos alimentares da
população europeia. A partir deste ponto de viragem, todas as subsequentes
transformações e inovações se abrigaram no crescimento da indústria alimentar e na
rede que a sustentava, nomeadamente um sistema de comunicações e transportes em
constante progresso e estratégias comerciais, que a implantaram definitivamente como
alicerce da alimentação moderna.
Acompanhando os degraus do aperfeiçoamento técnico, considerei determinante
incluir os principais passos do desenvolvimento das ciências alimentar e nutricional,
quer pela sua reconhecida importância na condução dos padrões alimentares por
diferentes caminhos, quer pela intervenção que exerceu na resolução de muitas doenças,
até então, consideradas incuráveis. São também analisadas as preocupações sociais
relacionadas com a questão alimentar, não só no aspecto da relação entre consumo e
saúde, mas também pelas implicações psicológicas e inter-relacionais que se
estabeleceram na senda do valor do corpo, como meio de ascensão pessoal e estatuto
social.
Com um capítulo breve sobre a situação que se vive nos países denominados de
Terceiro Mundo, realcei a realidade antagónica que domina o consumo alimentar
mundial, extremando a obesidade das sociedades industrializadas com a malnutrição e
fome dos países em vias de desenvolvimento. A abordagem a algumas soluções que se perspectivam para um futuro alimentar
sustentável, revela que as preocupações com a natureza e a protecção dos recursos
biológicos dominam, já no dia presente, a orientação das escolhas de consumo de
muitas pessoas e a preocupação de várias entidades legislativas e associativas. De igual
modo, a procura por meios de combate à progressão das doenças, causadas pela prática
de uma alimentação calórica e nutricionalmente desequilibrada, tem ocupado a mente de
cientistas, médicos e nutricionistas, e cada vez mais de produtores e empresários da
indústria alimentar.
A pertinência da segmentação do texto em vários capítulos e, por vezes,
subcapítulos, deve-se à vasta quantidade de conteúdos que são estudados e necessária
compartimentação temática. A profundidade de análise relaciona-se com a maior ou
menor relevância que os capítulos assumem na globalidade da discussão dos vários
tópicos, tendo a necessidade de abreviar alguns deles para dar mais ênfase a outros,
considerados de maior importância.
Para a organização deste trabalho, a conduta da escolha das fontes bibliográficas
partiu da relevância que atribuíam aos episódios que considerei principais na estrutura
narrativa desenvolvida. As contribuições das obras organizadas por Jean-Louis Flandrin
e Massimo Montanari assim como por Kenneth Kiple e Kriemhild Coneé Ornelas,
foram significativas na organização dos capítulos, como A. H. de Oliveira Marques o
foi para a parte portuguesa, os quais enriqueci com dados e informações recolhidas a
partir de vários livros, conteúdos disponíveis na Internet e por intermédio de uma
filmografia, surpreendentemente esclarecedora, das realidades alimentares que se vivem
na actualidade.
Com o suporte bibliográfico a destacar os países pioneiros nas principais
revoluções e metamorfoses alimentares, a distribuição da informação está orientada, sobretudo, de acordo com os factos como entidades individualizadas, dentro de um
contexto temporal e espacial que lhe serve de base.
A estrutura do trabalho realça as transformações alimentares ocorridas nos
diferentes países abordados, de acordo com a relevância que assumiram em
determinados acontecimentos mais importantes do progresso alimentar. A menção
inicial à Inglaterra e posteriormente, e de forma recorrente, aos Estados Unidos da
América, justifica-se com a sua importância no contexto das principais transformações
que revolucionaram os hábitos alimentares a nível mundial, tendo sido os precursores da
globalização alimentar de que ainda agora se sentem os efeitos.
Por regra, são referidas as etapas da história da alimentação num esquema de
comparação entre a Europa e os Estados Unidos da América, mas inseridos ambos os
pólos geográficos no mesmo âmbito descritivo e analítico. De facto, e de forma regular,
as descobertas e conquistas alimentares por eles alcançadas, conheceram o sucesso e
uma divulgação efectiva nas sociedades, pelo jogo de complementaridade que
assumiram.
No horizonte maior que lhe serve de apoio, Portugal surge em apontamentos
oportunos, quando as suas características alimentares se enquadram ou então divergem
significativamente das observadas nos restantes países. Contudo, achei pertinente
colocar, no primeiro capítulo, uma descrição mais pormenorizada acerca da situação
que se vivia no Portugal rural do século XIX, que a partir deste momento dilata o seu
afastamento das principais modificações sociais, e dentro destas as de foro alimentar,
que se irão verificar numa Europa em acelerado processo de industrialização.
Perante uma estimulante variedade de fontes, que abordam a alimentação sob
diferentes perspectivas, sentidos e objectivos, elaborei um caminho pessoal por entre as
personagens diligentes e acontecimentos surpreendentes que se encontram dentro da própria história da alimentação. A maior dificuldade sentida foi na constrição do
discurso acerca dos vários pontos analisados, pois os dados de que dispunha permitiriam
o preenchimento de um número infindável de páginas e um sem-fim de possíveis
ramificações exploratórias. Optando pela via que me pareceu mais lógica e adequada à
natureza do trabalho que pretendia desenvolver, orientei-o pela relevância dos factos,
preterindo outros dados mais secundários ou situações circunstanciais, que apenas
assumiam o aspecto de curiosidades.
Para uma consistência estrutural e dando um remate aos assuntos desenvolvidos,
a existência de uma lista de anexos tornou-se importante. Se, por um lado, as imagens
dão um parecer mais real das situações experienciadas, na medida em que tornam
possível usufruir dos mesmos estímulos visuais e perceber mais directamente o impacto
que tiveram nas sociedades passadas, por outro, os textos que se encontram nesta
secção, permitem especificar determinados acontecimentos paralelos que ambientaram
os ritmos e os prazeres alimentares desta época. Dissertação de mestrado em Alimentação - Fontes, Cultura e Sociedade (Gastronomia e Sociabilidade na Época Contemporânea) apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra