Author(s):
Lopes, Eduardo (coord.)
; Sá, Vanda de
; Vaz de Carvalho, Paulo
; Lopes Bastos, Patrícia
; Gaspar, Paulo
; Marques, Mário
Date: 2013
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10174/8535
Origin: Repositório Científico da Universidade de Évora
Subject(s): ensino da música; Antigo Regime
Description
Capítulo I: Vanda de Sá, ENSINO DA MÚSICA NO FINAL do ANTIGO REGIME: FATORES DE MUDANÇA E MODERNIDADE.
A expansão do consumo e prática da música instrumental associada aos novos modelos de sociabilidade emergentes na segunda metade do século XVIII, provocou alterações no universo do ensino da música. À margem das instituições de ensino tradicionais que formavam os músicos profissionais, e que estavam associadas à corte e à Igreja, como é o caso paradigmático do Seminário da Patriarcal, desenvolveu-se uma importante rede de ensino privado. A disseminação do ensino da música em regime particular, favoreceu naturalmente o leque de opções de trabalho dos músicos profissionais dando-lhes possibilidade de desenvolverem atividades alternativas.
O facto da música ser entendida como essencial no elenco de virtudes atribuídas ao papel social feminino passou a exercer uma enorme pressão no sentido do reforço e generalização do seu ensino. Numa estratégia de apropriação dos recursos de distinção socioeconómica, o domínio da arte musical constituiu-se como demarcador relevante, verificando-se na segunda metade do século XVIII um investimento nesta formação no seio da burguesia, logo seguido pelas classes médias. As motivações do ensino da música inserem-se na linha de educação feminina proposta por Luis António Verney (1713-1792) no seu influente livro, Verdadeiro Método de Estudar, de 1746. A desconfiança suscitada pelo reconhecimento do acesso feminino à educação levou aliás a que o autor se escondesse sob o pseudónimo de Barbadinho. Apesar da sua importância na afirmação do Iluminismo em Portugal, a obra de Verney foi tardiamente reconhecida e só aplicada no reinado de D. José (1750-1777) no quadro da reforma pombalina.