Autor(es):
Sá Silva, Vanda
Data: 2008
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10174/2812
Origem: Repositório Científico da Universidade de Évora
Assunto(s): Música instrumental; Antigo Regime; Irmandade Santa Cecília; Concertos; Comercialização de música; Ensino de música
Descrição
A música instrumental durante o Antigo Regime tem sido objecto de um tratamento parcial, ou secundário, dada a importância primordial que a música sacra e operática conheceram em Portugal, ocupando assim a maior fatia da produção musicológica consagrada a este período. Acresce que, ainda por comparação, o reportório conhecido é diminuto, devido às condições de produção e circulação serem muito restritas. Compunha-se pouca música instrumental que, normalmente conhecia uma escassa circulação, sendo pouco copiada, para além de não se investir praticamente na sua publicação. O presente estudo concentrou-se, por isso, nas problemáticas relacionadas com os usos e funções dos reportórios instrumentais nos diversos contextos, a par dos processos relacionados com a sua circulação e difusão.
O quadro de produção e circulação musical durante o Antigo Regime dependia, no essencial, do poder da Coroa enquanto modelo, autoridade legitimadora, mecenas e, sobretudo, entidade empregadora. Esta influência vasta projectava-se em todos os reportórios dominantes, de forma tão mais evidente quanto a sua repercussão pública e eficácia na representação das máximas instituições de poder.
A festa sacra, de carácter eminentemente público e abrangente, cumpria um papel nuclear enquanto pólo difusor de fé e cultura, potenciado pelo extraordinário investimento a nível dos meios e recursos, ao longo do século XVIII. D. João V (1707-1750) instituiu, como estratégia de concretização do Absolutismo Régio, o investimento no “Teatro Eclesiástico” que se materializou num complexo musical sacro, com um raio de acção de grande amplitude, ao serviço de uma representação espectacular do poder régio. O grau de complexidade que aparece associado à música instrumental decorre em especial do facto deste reportório circular simultaneamente no universo das tradicionais funções de representação pública do Antigo Regime, i.e., a liturgia e as festas associadas às efemérides régias, e ainda no âmbito de novas práticas culturais como o concerto público e as assembleias privadas, que estavam a disseminar-se na classe média. A importação de música, instrumentos e práticas culturais, é naturalmente reforçada pelo cosmopolitismo vigente por toda a Europa, cuja penetração em Portugal ganha visibilidade a partir da década de 1790. Nestes anos, verifica-se uma expansão considerável da actividade comercial.