Author(s):
Rodrigues, Sandra
; Pereira, Etelvina
; Teixeira, A.
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10198/6684
Origin: Biblioteca Digital do IPB
Description
Desde tempos imemoriais que a caprinicultura constitui uma das principais
actividades pecuárias. Mesmo antes da sedentarização que as cabras acompanhavam o
homem nas suas constantes movimentações. De acordo com diversos historiadores, a
história do homem é em grande medida a história evolutiva da cabra. De facto, a par do
cão, a ovelha e a cabra parecem ter sido das primeiras espécies que o homem domesticou.
Nem sempre olhada com carinho, utilizada como símbolo nefasto por certas religiões,
chegou aos nossos dias fruto da sua capacidade de grande adaptabilidade a ambientes
hóstis, proporcionando ao homem, produtos tão importantes como o leite, carne, pêlo,
peles, estrume e até mesmo o sangue como bebida em determinadas populações nómadas
do norte de África. Aproveitadora de recursos que outras espécies, bastante mais
produtivas, não conseguem transformar é hoje um elemento de grande importância em
sociedades em desenvolvimento de países sul americanos e africanos.
Na década de 90, a Comunidade Europeia, no contexto da política de qualidade
relativa aos produtos agrícolas e géneros alimentícios, desenvolveu um sistema de
valorização e protecção das denominações de origem, indicações geográficas e
especialidades tradicionais. Este sistema teve como objectivo promover a diversificação da
produção agrícola, proteger os nomes dos produtos de fraude e imitação e proporcionar aos
consumidores informação relativa às características específicas dos mesmos. Um desses
produtos é o Cabrito Transmontano. No entanto, sem qualquer dúvida, que a política
agrícola comum procurou foi, de alguma maneira pagar o trabalho social que pastores e
guardadores de rebanhos executam num mundo rural cada vez mais desertificado e
necessitado de amplas políticas sociais. Este sistema, todavia, pode não ser suficiente para
garantir a “sobrevivência” de um determinado produto.
Embora a produção de carne, em geral, e a produção de carne de caprinos, em
particular, não figure entre as principais prioridades da política agrícola nacional, em
algumas regiões do país, sobretudo nas regiões desfavorecidas de montanha, a importância
da caprinicultura pode ser sustentada por razões de âmbito técnico-produtivo, sócioeconómico
e ambiental.
No plano técnico-produtivo, os caprinos transformam recursos vegetais de baixo
valor económico em carne de elevado valor nutricional (caracterizada pelo baixo conteúdo
em gordura intramuscular e subcutânea) e organolético, muito apreciada em segmentos de
mercado específicos.
No plano sócio-económico, também com implicações políticas e estratégicas, os
produtos da caprinicultura de carne, figuram, naturalmente, no cabaz de produtos
portugueses com denominação de origem protegida, ou estatuto similar, salvaguardando
assim o património genético e património cultural (inerente ao imenso conhecimento
técnico-produtivo contido nos sistemas de produção e de transformação tradicionais) do
país.