Author(s):
Azevedo, Nuno Miguel Pereira
Date: 2009
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.6/888
Origin: Ubi Thesis - Conhecimento Online
Subject(s): Leishmaniose cutânea; Leishmaniose cutânea - Tratamento; Leishmaniose cutânea - Saúde pública; Leishmania infantum; Phlebotomus
Description
Este trabalho expõe o levantamento estatístico e a caracterização clínica da
leishmaniose cutânea na Beira Interior. Pretende-se, assim, tentar definir a importância que
esta infecção assume neste meio e identificar os principais problemas epidemiológicos e
clínicos com ela relacionados, bem como propor algumas medidas a tomar para a sua
resolução.
Foi efectuado um estudo descritivo tipo série de casos exploratório, tendo por base os
doentes observados nas consultas de Dermatologia do Centro Hospitalar da Cova da Beira e
da Unidade Local de Saúde da Guarda, entre Abril de 2004 e Maio de 2009, com diagnóstico
de leishmaniose cutânea confirmado por biópsia cutânea.
Os dados submetidos à análise estatística provêm das informações recolhidas nos
processos clínicos e junto dos doentes, através de um inquérito epidemiológico. Para
caracterização epidemiológica foi inquirido o local de residência, a proximidade a zonas
verdes e a recursos hídricos, o contacto com animais domésticos, nomeadamente cães, mas
também selvagens ! raposas e roedores. Para além da ocupação profissional e de
passatempos, foram também registadas viagens para fora de Portugal, assim como o momento
em que ocorreu a picada de flebótomo potencialmente infectante. Na caracterização da doença
tentou-se obter a descrição da lesão, questionando-se igualmente a ocorrência de leishmaniose
mucocutânea ou visceral, e o tempo decorrido até à procura de ajuda médica e tratamentos
prévios realizados. Recolheram-se dados sobre a abordagem diagnóstica, a resposta ao
tratamento e a evolução depois deste. Para avaliar o grau de informação sobre a leishmaniose,
os doentes foram inquiridos quanto à ocorrência de história familiar e quanto ao seu
conhecimento prévio acerca da leishmaniose cutânea.
Foram seleccionados 13 doentes. Todos viviam na região da Beira Interior. A maior
ocorrência foi no sexo feminino (77%). Cinquenta porcento dos doentes tinham idade inferior
a quarenta e quatro anos. O maior número de diagnósticos confirmados por biópsia ! seis !,
ocorreu no ano de 2006. A maioria vivia perto de espaços verdes (92%), numa zona rural
(69%) e próximo de recursos hídricos (62%). A apresentação típica foi a lesão única na face
(85%), mais frequentemente um nódulo (69%), sem eritema, prurido ou dor. O tempo médio
de espera até procurar assistência médica foi de 22 semanas. A maioria dos doentes foi
primeiro ao Médico de Família (92%). Em nenhum caso se observou associação com a forma
mucosa ou visceral da doença. Todos os doentes evoluíram para a cura, não tendo ocorrido
recidivas nem reinfecções.
Em conclusão, o presente estudo permite-nos sugerir que a leishmaniose cutânea deve
ser considerada no diagnóstico diferencial das lesões cutâneas inflamatórias crónicas na Beira
Interior, principalmente em doentes com factores de risco adequados associados.