Author(s):
Rumor, Liliana Marisa Pereira
Date: 2009
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.6/1017
Origin: Ubi Thesis - Conhecimento Online
Subject(s): Pneumonia; Pneumonia - Aspectos microbiológicos; Pneumonia - Resistência antimicrobiana; Pneumonia - Internamento; Pneumonia adquirida na comunidade
Description
Introdução: A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é uma das principais
patologias a necessitarem de assistência médica. Está associada a elevadas taxas de
morbi-mortalidade, que não diminuem apesar dos avanços recentes na terapêutica
antimicrobiana, bem como a um uso excessivo de recursos de saúde. A adaptação local
das inúmeras recomendações de normas de prática clínica permite uma melhoria dos
cuidados prestados e dos resultados clínicos relevantes, assim como uma significativa
diminuição do número de doentes de baixo risco de mortalidade hospitalizados. Não
existem estudos epidemiológicos na região da Beira Interior que fundamentem essa
adaptação, nem um protocolo hospitalar geral, que uniformize procedimentos em todos
os serviços do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB).
Objectivos: 1. Caracterizar clinicamente uma população de doentes adultos internados
por PAC bacteriana, analisando o cumprimento de critérios de diagnóstico e de
internamento. 2. Caracterizar microbiologicamente a mesma população, de acordo com
os resultados dos seguintes exames complementares de diagnóstico – exame directo e
cultural da expectoração, aspirado brônquico e lavado bronco-alveolar, hemocultura,
análise microbiológica de líquido pleural, pesquisa de antigénios de Streptococcus
pneumoniae ou de Legionella spp. na urina, serologias e testes de sensibilidade antimicrobiana. 3. Avaliar o padrão antimicrobiano adoptado na abordagem inicial
destes doentes e após a identificação do agente microbiano.
Materiais e métodos: Foi feita uma análise dos processos clínicos individuais dos
doentes adultos, internados no Hospital Pêro da Covilhã, do CHCB, durante o ano de
2008, que, à alta, foram codificados, segundo a ICD-9-CM, com os números entre 481-
483 e 485-486. Foram considerados critérios de exclusão deste estudo: internamentos
no Hospital do Fundão; infecção por vírus da imunodeficiência humana, suspeita ou
confirmada; imunossupressão em consequência de doença sistémica ou por fármacos;
pneumonia nosocomial; e pneumonia de aspiração.
Resultados: Em 2008, estiveram internados 970 doentes, em vários serviços do CHCB,
por pneumonia. Desse total, foram sequencialmente seleccionados para este estudo 181
doentes, nos quais se verificou um ligeiro predomínio do sexo masculino. Apesar da
PAC afectar sobretudo doentes com mais de 65 anos, a faixa etária dos mais de 85 anos
foi a mais frequente em ambos os sexos. Verificou-se existir uma grande
heterogeneidade, intra- e inter-pessoal, no registo da informação clínica. A febre (58%),
a dispneia (69%), a tosse recente (74%), a produção de expectoração (61,9%) e as
alterações da auscultação pulmonar (89,5%) foram os sinais/sintomas mais
frequentemente encontrados, mas menos reportados pelo doente idoso. A maioria dos
doentes tinha doença crónica associada (86,7%); a hipoxémia grave e a falência de
órgãos também foram frequentes (39,2% e 36,5%, respectivamente); e a frequência
respiratória e o débito urinário foram os parâmetros menos avaliados e registados. A
hemocultura e o exame directo e cultural da expectoração foram solicitados em 64% e
54,7% dos casos, identificando o agente etiológico em 6,9% e 27,3% desses casos,
respectivamente. Do total de doentes, só foi identificado esse agente em 23,2% dos
casos – 11,6% a S. pneumoniae. Quanto aos padrões de resistência antimicrobiana, verificou-se que todas as estirpes de S. pneumoniae eram sensíveis à penicilina, sendo
35,7% dos casos resistentes à eritromicina. Todas as estirpes de H. influenzae eram
sensíveis à ampicilina e à amoxicilina/clavulanato e as estirpes de Klebsiella spp. e de
E. coli também apresentaram níveis de susceptibilidade muito elevados, ao contrário do
que se verificou em P. aeruginosa – 40% das estirpes resistentes à
piperacilina/tazobactam e 20% à ceftazidima. A associação amoxicilina/clavulanato +
azitromicina foi a terapêutica empírica de eleição nestes doentes.
Conclusões: Este estudo caracterizou, de forma multifactorial pioneira, uma população
de doentes internados por PAC no CHCB. O estudo foi fortemente limitado por vários
défices no registo da informação clínica. A inconsistência observada na abordagem
desta doença está relacionada com um maior número de hospitalizações de doentes de
baixo risco de mortalidade e consequente impacto económico, situação que pode ser
contornada pela adopção de protocolos adequados à realidade local. Torna-se, assim,
fundamental a realização de mais estudos clínico-epidemiológicos que permitam
caracterizar, o mais fielmente possível, essa realidade.