Author(s):
Ramos, S.
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.1/4827
Origin: Sapientia - Universidade do Algarve
Subject(s): Actina; Decavanadato
Description
Tese de dout., BioquÃmica, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
Nova de Lisboa, 2011 Nesta dissertação, analisa-se o efeito de diferentes espécies de vanádio na estrutura e função da
actina (42 kDa), isolada de músculo esquelético de coelho.
Os efeitos putativos das diferentes espécies de vanádio em solução não se encontram
devidamente esclarecidos, pelo que é fundamental determinar qual a composição das soluções utilizadas
(metavanadato e decavanadato, ambas com V(V)) . Assim, e recorrendo a 51V-RMN, verificou-se que a
solução de metavanadato é constituÃda pelas espécies monomérica (V1), dimérica (V2), tetramérica (V4) e
pentamérica (V5) de vanadato, sendo a sua concentração dependente da concentração em oxovanádio(V)
total, enquanto que numa solução de decavanadato existem, fundamentalmente, as espécies decamérica,
V10 (aprox. 10 % da concentração em oxovanádio(V) total), e V1. A estabilidade de V10 foi analisada por
UV-visÃvel, tendo-se concluÃdo que o tempo de meia-vida para a reacção de decomposição é de cerca de
5 horas, sendo a sua energia de activação de 63,4 kJ mol-1. Estabelecidas as condições óptimas que
favoreciam a interacção entre o V10 e a actina, da titulação por RMN de uma solução 5 mM decavanadato
com G-actina, resultou um V50 = 25,42 ± 2,32 µM G-actina. A partir da titulação de uma solução de
actina com VOSO4, por RPE, determinaram-se os valores da constante de dissociação para a G-actina (Kd
= 7,48 ± 1,11 µM VOSO4) e F-actina (43,05 ± 5,34 µM VOSO4).
O efeito do vanádio na função da actina foi avaliado com recurso ao método de enzimas
acoplados, tendo-se verificado que o decavanadato diminui a capacidade de F-actina estimular a actividade
fisiológica de subfragmento-1 de miosina em 70% (IC50 = 8,04 ± 1,49 µM decavanadato), enquanto o
metavanadato e o VOSO4 produziam uma inibição de apenas 15 %, aproximadamente. Recorrendo Ã
técnica de dispersão de luz, observou-se, ainda, que o decavanadato inibia a polimerização da G-actina
(IC50 = 17 ± 0,2 e 370 ± 0,72 µM decavanadato), sendo o efeito do oxovanádio(IV) muito similar,
observando-se valores de IC50 = 15,1 ± 0,3 e 335,8 ± 6,3 µM VOSO4). O metavanadato inibe a
polimerização da actina apenas para concentrações superiores a 2 mM. O efeito na despolimerização da
F-actina foi menos acentuado, com inibições de 20 e 35 % para o metavanadato (IC50 = 2,7 ± 0,3 mM) e
o decavanadato (IC50= 1,40 ± 0,09 mM decavanadato), respectivamente, enquanto o VOSO4 conduz a
um ligeiro aumento da dispersão de luz.
Verificou-se que 1300 µM decavanadato e 500 µM VOSO4 diminuiem a fluorescência intrÃnseca de Gactina
em 30 e 100 %, respectivamente, sendo o efeito na F-actina mais pronunciado na presença de
decavanadato (100 %) e menor na presença de VOSO4 (70 %), enquanto que para a solução de
metavanadato a diminuição se observa apenas para concentrações superiores a 600 µM, tanto para a Gactina
(70 %) como para a F-actina (100 %). No estudo da interacção de oxidovanádio(IV) com a actina,
determinaram-se, a partir dos valores das constantes de Stern-Volmer os valores de Kd, tendo-se obtido
valores semelhantes ao registados pelos estudos de RPE acima indicados. Além disso, determinou-se o
valor do parâmetro A, definido como I320/I365, verificando-se que a actina nativa apresentava um valor de
A = 2,6, enquanto que a presença de decavanadato e VOSO4 deslocava o valor de A para 1,4, sugerindo
que a actina se encontra inactivada. A superfÃcie hidrofóbica da actina foi determinada com recurso Ã
sonda ANSA, observando-se que a presença de decavanadato contribuÃa para o seu aumento, na G-actina
(2,6 vezes) e na F-actina (1,5 vezes), enquanto que para a solução de metavanadato não se observou
qualquer efeito. Por seu turno, a superfÃcie hidrofóbica da G-actina diminui em cerca de 15 % na presença
de VOSO4 (IC50 =22,26 ± 2,09 µM VOSO4), não se observando qualquer efeito para a F-actina. O local
de ligação de nucleótidos foi avaliado com recurso a ε-ATP, tendo-se verificado que a presença de
decavanadato e VOSO4 alteram o valor da constante de velocidade da reacção de troca entre o ATP e a
actina (k = 6,5 à 10â3 sâ1 e 4,47 x 10-3 s-1 para decavanadato e VOSO4, respectivamente). Além disso,
avaliou-se o estado redox dos resÃduos cisteÃna, tendo-se verificado que a presença de decavanadato
conduz à oxidação de um dos resÃduos localizados no interior hidrofóbico da G-actina (IC50 =7,8 ± 0,2
µM decavanadato), enquanto que na F-actina para além deste (IC50 = 20,9 ± 0,2 µM decavanadato) se
observou, também, a oxidação do resÃduo Cys-374, exposto ao solvente (IC50 = 11,2 ± 0,1 µM
decavanadato). A concomitante redução de vanadato, analisada por RPE, foi apenas observada para a
solução de decavanadato. Finalmente, verificou-se, por 1H-RMN, alterações na estrutura da actina após
interacção com o decavanadato e o oxidovanádio(IV). A presença de ATP no meio reaccional previne a interacção entre a actina e o vanádio,
comprovada em todos os resultados acima apresentados.Â