Author(s):
Godinho, Paula
Date: 2005
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/8037
Origin: Repositório Institucional da UNL
Description
Agosto é um mês de vazio nos locais de azáfama dos restantes onze
segmentos de divisão anual. As ruas das grandes cidades mostram uma calma
e uma pacatez inabitual. O trânsito automóvel abranda e pacifica, e os
transeuntes, mais calmos e menos apressados, circulam com vagar. Os organismos
públicos, grande parte das empresas, os mercados de abastecimento,
os restaurantes, as escolas quase desertificam. A agitação dos restantes doze
meses dispersa-se então principalmente pelas estâncias de veraneio, onde os
citadinos se afadigam a descansar. Os jornais, as televisões, as rádios entram
numa fase de latência noticiosa, exumando programas que há muito repousavam
no descanso dos arquivos, espiando as férias das figuras conhecidas, e
trazendo à colação temas «leves» como as roupas da estação. Um ou outro
acontecimento, como a morte de uma princesa, a queda de um avião, o afundamento
de um submarino, ou os recorrentes incêndios, com a marca do trágico
ou do excepcional, são dissecados exaustivamente nos órgãos de comunicação
social, que aguardam a rentrée política, assinalada pelos comícios
dos partidos parlamentares. Vive-se, em termos noticiosos, um período de
escassez. O ciclo anual da vida dos citadinos encontra-se no seu momento
mais mitigado, que antecede o retomo às cidades, à azáfama do recomeço de
um novo ano, às concentrações junto das prateleiras de material escolar das
grandes superfícies, ao congestionamento pendular dos acessos aos centros
urbanos, aos apertos nos transportes públicos.