Author(s):
Oliveira, Maria José Monteiro de
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/7324
Origin: Repositório Institucional da UNL
Subject(s): Primeira Guerra Mundial; Prisioneiros de guerra
Description
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Mestre em História Contemporânea Nos primeiros meses de 1917, cerca de um ano depois de a Alemanha ter
declarado guerra a Portugal, 55 mil homens partiram para a Frente Ocidental da
Primeira Guerra Mundial. Portugal, um país periférico, com um regime recéminstaurado,
ia lutar ao lado da Entente, assumindo assim, julgavam os defensores da
intervenção, um papel de relevo no conflito internacional, mesmo que isso custasse a
oposição de grande parte do país. A legitimação mundial da República seria uma das
recompensas, alegavam os intervencionistas.
A participação do Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra foi já
devidamente caracterizada na historiografia nacional. O mesmo não pode ser afirmado
em relação aos prisioneiros de guerra portugueses, cuja história permaneceu ignorada ao
longo de quase um século. Esta dissertação pretende preencher essa lacuna, projectando
alguma luz sobre as vivências dos militares portugueses presos na Alemanha, entre 1917
e 1918.
Sete mil combatentes foram encarcerados em prisões alemãs. A grande maioria
foi capturada na sequência da derrota de La Lys e dividida em vários campos de
internamento. Depois de assinada a paz, foram libertados 6767 homens, tendo 233
morrido nos cativeiros.
Nos diversos campos alemães, os prisioneiros de guerra enfrentaram a fome, as
doenças, os trabalhos forçados e a ausência de protecção e assistência por parte do
Governo português. O período de encarceramento não foi muito longo para a maioria
dos presos – entre sete e oito meses –, mas não deixou ser traumático. Isso mesmo é
manifestado pelos próprios prisioneiros em inquéritos realizados pouco depois da sua
libertação, em 1919, e solicitados pelas missões portuguesas na Conferência de Paz. Os
dois políticos que lideraram as duas delegações nacionais em Paris, Egas Moniz e
Afonso Costa, procuravam então reclamar à Alemanha indemnizações pelos maus tratos
infligidos aos presos de guerra portugueses. Esse objectivo não foi alcançado.
Contudo, os testemunhos de antigos prisioneiros confirmam que a Alemanha
violou as convenções internacionais (Haia e Genebra) relativas aos direitos dos presos
de guerra, não cumprindo também alguns deveres estipulados para os Estados
beligerantes. O caso mais flagrante consiste na utilização de presos para trabalhos nas
frentes de guerra, nomeadamente a abertura de trincheiras, transporte de munições e
construção de estruturas militares. Na retaguarda, os prisioneiros eram também
obrigados a trabalhar em fábricas de armamento e fundições. Os beligerantes, segundo a Convenção de Haia, não estavam impedidos de empregar esta mão-de-obra, mas os
trabalhos forçados em operações de interesse militar eram totalmente proibidos.