Autor(es):
Dias, Bernardo Sousa Ferro Enes
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10362/6000
Origem: Repositório Institucional da UNL
Assunto(s): Memória
Descrição
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Mestre em Filosofia Geral Sobre o estudo que se segue, é lícito perguntar: porquê uma leitura de Agostinho através de
Heidegger? E, mais concretamente, porquê um regresso ao fenómeno da memoria pela mão de
um filósofo em cujo pensamento esse fenómeno parece ocupar um papel relativamente
secundário?
O interesse crescente pelo chamado “primeiro” Heidegger e a publicação sistemática dos
escritos académicos que precederam a redacção de Sein und Zeit permitiram compreender a
importância e o alcance da formação teológica de Heidegger, do seu fascínio pela experiência de
vida das primeiras comunidades cristãs à defesa de uma filosofia “metodologicamente ateia”.
Recuperando essa informação, o presente trabalho, mais do que retomar um debate antigo,
centrar-se-á na figura de Agostinho e no seu contributo para o desenvolvimento da ontologia
heideggeriana.
A história da relação entre Heidegger e Agostinho é, em muitos aspectos, uma história mal
contada. E, contudo, basta percorrer os primeiros escritos do filósofo alemão para encontrar
inúmeras referências ao bispo de Hipona e a algumas das categorias centrais da sua filosofia.
Mais do que uma paragem obrigatória na sua destruição da história da ontologia, Agostinho
forneceu a Heidegger uma primeira base de exploração dos fenómenos do interesse (cura-Sorge)
e da dispersão (defluxus-Verfallen), que viriam a ocupar um papel central no empreendimento
existencial de Sein und Zeit. Um estudo sobre Heidegger leitor de Agostinho não corresponde,
pois, a mais um “casamento forçado”, desses que avultam na actual tradição académica – ou,
recuperando a divertida formulação de Virgínia Woolf, a mais uma tese tratando « the influence
of something upon somebody »