Author(s):
Narciso, Vanda Margarida de Jesus dos Santos
Date: 2013
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/12147
Origin: Repositório Institucional da UNL
Subject(s): Género; , Empoderamento; Matrilinearidade; Timor-Leste
Description
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Mestre em Estudos sobre as Mulheres, As Mulheres na Sociedade e na Cultura A grande questão orientadora deste trabalho é o papel que a matrilinearidade desempenha
no empoderamento das mulheres rurais do distrito de Bobonaro em Timor-Leste.
Escolhemos dar especial ênfase à situação das mulheres face à terra, dada a grande
importância da terra para populações rurais e por poder desempenhar um papel importante
no empoderamento das mulheres. As relações com a terra são igualmente importantes para
perceber as comunidades matrilineares e as relações de género. As normas de parentesco
são pilares fundamentais da organização social, nomeadamente nas comunidades rurais, e
influenciam significativamente o sistema consuetudinário de gestão e posse da terra que é o
dominante em Timor-Leste. Dois sistemas diferentes de parentesco coexistem em Timor-
Leste, um patrilinear em vigor na maioria do território e um matrilinear nas regiões com
predominância dos grupos etnolinguísticos Tétum-Terik, Búnaque e Galoli. Com o
objectivo de comparar os aspectos referentes à posse, acesso e decisões sobre a terra e
outras da esfera doméstica, elaborámos um estudo de caso comparando uma comunidade
matrilinear harmónica, uma matrilinear e uma patrilinear, do distrito de Bobonaro em
Timor-Leste. O principal instrumento de recolha de informação foi um inquérito por
questionário a 102 agregados familiares em três sucos do distrito de Bobonaro e para a
análise estatística dos dados usámos o programa SPSS. Em paralelo, foi feita uma recolha
adicional de informação, principalmente de carácter qualitativo, através de diálogos,
conversas e observações. Os dados apresentados apontam para que: i) As mulheres têm
mais direitos à terra nas comunidades matrilineares, no entanto a magnitude dos dois
direitos considerados (posse e controlo) é muito diferente, sendo muito maior a posse que o
controlo; ii) As mulheres nas comunidades matrilineares têm mais empoderamento na
esfera doméstica, medido pela participação e autonomia na tomada de decisões; iii) Exista uma associação tendencialmente positiva da componente controlo dos direitos à terra e o
empoderamento, nos grupos matrilinear harmónico e patrilinear, mas não evidencia a
mesma tendência no grupo matrilinear, já que para esse grupo a associação nunca é
significativa, também a associação entre a posse da terra e o empoderamento não é
significativa em nenhum grupo de parentesco. Os dados revelam que o papel dos direitos
das mulheres à terra não é sempre igual, dependendo do contexto, e que o controlo da terra
é mais importante para o empoderamento das mulheres que a posse. Nesta perspectiva será
necessário aprofundar os estudos para entender:1) que condições favorecem o controlo da
terra pelas mulheres e o que é que isso garante em termos de igualdade na relação com o
homem na sociedade; e 2) como se constrói no quotidiano as relações de género, que
significado teórico e prático tem o acesso e o controlo da terra e que possibilidades esse
fato oferece para uma construção de relações de género mais igualitárias e equitativas. Será
um enorme desafio pensar e operacionalizar o acesso e controlo da terra como fator de
mudança e usar criativamente as normas culturais para promover a posição e condição da
mulher na sociedade rural timorense.