Author(s):
Gaspar, Mariana Marin Barbosa
Date: 2013
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/10196
Origin: Repositório Institucional da UNL
Subject(s): Encontros de Fotografia de Coimbra; Fotografia; Divulgação; Receção; Crítica; Mercado; Colecionismo
Description
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Mestre em Ciências da Comunicação - área de
especialização em Comunicação e Artes A curiosidade e o interesse imediatos pela fotografia, apoiados no espírito objetivo e
racional da modernidade, desde cedo justificaram a sua exibição: privilegiado o espaço
simbólico da intimidade, breve, a fotografia migrou para o espaço público dos salões e das
sociedades da época. Se na primeira metade do século XX houve lugar a algumas exposições
que marcaram a história da fotografia, foi necessário aguardar pelos anos 70, para que a sua
inscrição como criação autónoma entrasse nos lugares de exibição e difusão e encontrasse o
espaço de uma eficaz divulgação; também entre nós, foi a partir desses anos que a fotografia
iniciou um processo de reconhecimento, afastando-se da prática anterior, muito circunscrita à
tradição associativa, exibida nos ‘salões’ da época. Essa rutura que se sentiu nos pressupostos
estéticos, formais e autorais, conquistaria, na década seguinte, o consequente espaço de
visibilidade que legitimaria e consolidaria a fotografia no universo da criação artística
contemporânea.
É neste contexto que se inscrevem os Encontros de Fotografia de Coimbra cuja
primeira edição teve lugar em 1980, por iniciativa do Centro de Estudos de Fotografia da
Associação Académica de Coimbra. Na ausência de uma cultura fotográfica em Portugal,
assumem desde o início uma função divulgadora, sem omitir, em anos futuros, uma
reconhecida capacidade de produção própria: se durante duas décadas assistimos ao fluir de
um projeto que soube renovar-se e encontrar o equilíbrio entre o testemunho histórico e a
progressiva integração da fotografia no contexto da criação contemporânea, e se no fim desse
ciclo de vinte anos uma nova reformulação parecia ser suficiente a um outro projeto que se
centrava agora no Centro de Artes Visuais, então porque se consumiu uma ideia e se estiolou
um programa de ação?
Com Retomar percursos que o tempo interrompeu, partimos de uma questão em
aberto: seria ainda possível retomar um tempo e um projeto? Depois de um olhar breve sobre
a história da fotografia em Portugal que suscitou o contexto e a oportunidade, procurámos,
num segundo momento, ler os Encontros a partir das diferentes linhas de intervenção - da
conceção e divulgação à comunicação e mediação, do ênfase dado à edição e à revitalização
de alguns equipamentos locais aos aspetos mais relevantes da colaboração e do
financiamento, da constituição de uma coleção à capacidade de ser exemplo e de influenciar
os domínios da receção, da crítica e do mercado, avaliando o modo como essa intervenção se
projetou para além do seu próprio espaço e tempo de ação. Finalmente, porque entendemos
que uma leitura dos Encontros deve incidir também no questionamento ontológico da
fotografia, tentámo-lo, partindo, por um lado, de alguns pressupostos teóricos e, por outro,
discutindo a pertinência e a oportunidade de algumas marcas deixadas no seu percurso.