Author(s):
Marques, Hugo Pinto; Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação, Hospital Curry Cabral, Lisboa, Portugal
; Carvalho, Carlos; Director da Unidade de Oncologia, Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação, Hospital Curry Cabral, Lisboa, Portugal
; Ribeiro, Vasco; Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação, Hospital Curry Cabral, Lisboa, Portugal
; Nobre, Ana Marta; Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação, Hospital Curry Cabral, Lisboa, Portugal
; Mira, Paulo Soares; Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação, Hospital Curry Cabral, Lisboa, Portugal
; Barroso, Eduardo; Director, Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação, Hospital Curry Cabral, Lisboa, Portugal
Date: 2010
Origin: Revista Portuguesa de Cirurgia
Description
Introdução: Nos doentes com metástases hepáticas de carcinoma colo-rectal (MHCCR) inicialmente ressecáveis, nenhum estudo, até à data, concluiu claramente que a administração de quimioterapia prévia à cirurgia permita ganho significativo na sobrevivência. O objectivo deste estudo é avaliar, retrospectivamente, o papel da quimioterapia “neo-adjuvante” em doentes com MHCCR ressecáveis de início, tratados num único centro especializado em cirurgia hepática. Material e Métodos: Análise da base de dados do Serviço inserida num registo internacional (www.livermetsuvey.org) e de uma base de dados prospectiva iniciada em 2004 relativa à discussão multidisciplinar de todos os doentes tratados. Entre Abril de 1996 e Outubro de 2009, foram analisados 411 doentes consecutivos submetidos a cirurgia de ressecção hepática por MHCCR. Destes, 104 doentes (25,3%) considerados previamente irressecáveis foram excluídos do estudo. Os 307 doentes inicialmente ressecáveis foram divididos em dois grupos: G1, doentes submetidos a quimioterapia “neo-adjuvante” (n=168, 54.7%); G2, doentes submetidos a cirurgia “de início” (n=139, 45.3%). Os dois grupos foram analisados comparativamente tendo como medidas de avaliação do potencial impacto da quimioterapia as morbilidade e mortalidade peri-operatórias e os tempos de sobrevivência, livre de recidiva e global. A análise estatística foi realizada com o PASW statistics 18.0 (Chicago, Illinois). Resultados: O tempo de seguimento médio foi de 26 + 23 meses. No grupo G1 foram significativamente mais frequentes – lesões síncronas (G1: 69.5%; G2: 28.9%, p=0.00), bem como lesões múltiplas (G1: 26.3% > 4 metástases, G2: 7.4% > 4 metástases, p=0.00) e bilobares (G1: 45.5% ; G2: 20%, p=0.00). Não se verificou diferença significativa na taxa de ressecções R0 (94.6%/92.7%), na morbilidade major (G1: 11.5%, G2: 10.2% , N.S.) ou na mortalidade (G1:4.8%, G2: 1.5%, N.S.). Verificou-se diferença significativa na sobrevida global aos 3 e 5 anos: em G1 foi de 50 e 37% respectivamente, sendo em G2 de 72 e 57% (p=0,002). Da mesma forma, a sobrevida livre de recidiva teve também uma diferença significativa entre os dois grupos: G1, 24% aos 3 anos e 15% aos 5 anos; G2, 50% aos 3 anos e 31% aos 5 anos (p=0.00). Em análise multivariada apenas os gânglios (N) do tumor primário e o no de metástases se associaram à sobrevida global, sendo a sobrevida livre de recidiva associada ao número de metástases, à margem > 10 mm e à administração de quimioterapia pré-operatória.Conclusões: A quimioterapia “neo-adjuvante” não se associou a um aumento da morbilidade ou mortalidade peri-operatórias. mas também não se associou a aumento da taxa de ressecções R0, da taxa de hepatectomias mais limitadas ou a qualquer aumento na sobrevivência, em qualquer dos subgrupos de doentes avaliados. A opção pela quimioterapia “neo-adjuvante” neste grupo de doentes não pode ser recomendada de forma generalizada. Até que novos estudos prospectivos forneçam dados mais conclusi- vos a decisão deve ser individualizada. .