Autor(es):
Gonçalves, Leonor
Data: 2009
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/1822/9477
Origem: RepositóriUM - Universidade do Minho
Descrição
Tese de doutoramento em Ciências da Saúde (ramo de conhecimento em Ciências Biológicas e Biomédicas) Pain is a multidimensional experience with sensory-discriminative and motivational-affective
dimensions. Neuropathic pain is caused by a primary lesion or dysfunction of the nervous tissue
that leads to an anomalous nociceptive processing in pain centers. It results from a process of
peripheral and central sensitization and is characterized by prolonged hyperalgesia, allodynia and
spontaneous pain. The maintenance of these nerve injury-induced symptoms depends on
abnormal discharge from peripheral nerves and pronociceptive changes in spinal and supraspinal
mechanisms mediating and modulating pain-related signals. The aims of this work were: first, to
elucidate what is the relative contribution of rostroventromedial medulla (RVM) ON- and OFF-cells
to hypersensitivity observed in neuropathic pain; second, to evaluate if emotional disturbances
and structural alterations in the amygdala (AMY) observed in human patients, were produced
when inducing neuropathic pain to rats; third, to determine if structural alterations of the
amygdala, associated to the peripheral nerve injury, influences RVM regulation of nociception;
and finally, to analyze the alterations in response properties of amygdala nociceptive neurons to
peripherally-evoked stimulation and what is the cortical influence in the neuropathic process.
In this work, we provide evidence that reinforce data indicating that RVM ON-cells are the
main responsible for neuropathic hypersensitivity. Although both ON- and OFF- RVM cells were
found to respond significantly more in neuropathic animals at a basal state, only ON-cell
response was significantly different from Sham animals following noxious and non-noxious
stimulation. The peripheral stimuli applied were: tail pinch and cold, since clinical studies
indicate that hypersensitivity to these somatic stimuli are frequent after traumatic nerve injuries;
and colo-rectal distention (CRD), because not much is known about the influence of somatic
neuropathy on visceral processing. As RVM ON-cells are considered to be pronociceptive, they
should have a major contribution in the hypersensitivity to peripheral stimulation observed in
neuropathic animals.
We have demonstrated, for the first time, that animals with a peripheral neuropathy show
depressive-like behaviour associated to AMY neuroplasticity. Importantly, AMY structural changes
are mediated, at least in part, by an increase in the number of neurons, as a result of cell
proliferation. Besides depressive-like behaviour, we also observed an increase in affective painrelated
behaviour in neuropathic animals, assessed through the aversive place-conditioning test,
which reinforces the association between prolonged neuropathic pain and altered emotional behaviour. Moreover, emotional pain-related behaviour increased after AMY administration of a
metabotropic glutamate receptor 1 and 5 (mGluR1/5) agonist and decrease after the local injection
of a metabotropic glutamate receptor 1 (mGluR1) antagonist. The AMY administration of an
mGluR1/5 agonist has also induced an increase in the discharge rate of ON-cells in the RVM of
nerve-injured animals, which was mainly due to the activation of mGluR1. In what concerns the
activity of AMY neurons, plastic alterations were present after neuropathy, with an increased
spontaneous activity and a general decrease after peripheral stimulation.
When evaluating the cortical influence upon nociceptive behaviour of the neuropathic rat, the
injection of glutamate (Glu) and of an NMDA-receptor (NMDA-r) antagonist in the rostral anterior
cingulate cortex (rACC) produced, respectively, an increase and a decrease in affective painrelated
behaviour. When evaluating AMY neuronal discharge rate after the injection of the same
reported drugs in the ACC, only glutamate had a significant effect, inducing an increase of AMY
neuronal activity.
The set of studies performed for this thesis allowed the following conclusions: I) the activity of
both RVM ON- and OFF-cells in neuropathic animals is altered towards promoting pronociception,
but only ON-cell type appears to be a major role in the increased hypersensitivity observed; II) the
structural plasticity observed in the AMY of nerve-injured animals - increased AMY volume as a
result of local newborn neurons – is paralleled with the development of depressive-like behaviour;
III) emotional pain-related behaviour in neuropathic animals is dependent, at least in part, on the
activation of mGluR1/5 in the AMY and of NMDAr in the ACC; IV) the activation of mGluR1 in the
AMY of neuropathic animals causes an increase in the activity of pronociceptive RVM ON-cells. A dor é uma experiência multidimensional desagradável, envolvendo não só uma componente
sensorial mas também uma componente emocional. A dor neuropática resulta de uma lesão
primária ou disfunção do tecido nervoso, que origina o envio incorrecto de sinais para os centros
de modulação da dor. A dor neuropática origina hiperalgesia e alodínia prolongadas e dor
espontânea, e resulta de um processo de sensitização periférica e central. A continuidade dos
sintomas induzidos pela lesão nervosa depende de descargas anormais dos nervos periféricos e
de alterações pronociceptivas nos mecanismos espinhais e supraspinhais de mediação e
modulação da nocicepção. Os objectivos deste trabalho consistiram em: primeiro elucidar qual a
contribuição relativa das células “ON” e “OFF” do bolbo rostral ventromedial (RVM) para a
hipersensibilidade observada em animais com dor neuropática; segundo, avaliar se a indução de
dor neuropática no rato resultava simultaneamente em distúrbios emocionais e alterações
estruturais na amígdala (AMY), tal como no Homens; terceiro, determinar se a plasticidade
neuronal da AMY, associada à lesão nervosa periférica influenciava o papel do RVM na regulação
da dor; finalmente, avaliar as alterações nas respostas dos neurónios nociceptivos da AMY a
estímulos periféricos induzidos pela neuropatia e, adicionalmente, avaliar a influência de
estruturas corticais na dor neuropática.
Neste trabalho confirmámos a ideia já existente de que as células pronociceptivas do RVM, as
células “ON”, são as principais responsáveis pela hipersensibilidade observada em animais
neuropáticos. Embora ambos os tipos de células “ON” e “OFF” tenham maior actividade
espontânea no estado basal, a aplicação de estimulação nóxica e não-nóxica alterava apenas a
resposta das células ON de modo significativo. Dado que há evidências clínicas indicativas de
que a hipersensibilidade a estímulos mecânicos e de frio é comum depois de lesões nervosas
traumáticas, e dado que há pouca informação sobre a influência da neuropatia somática em
percepção visceral, os estímulos periféricos aplicados foram o beliscadura da cauda, o frio e a
distensão colo-rectal. Como as células ON são consideradas pronociceptivas, podemos assumir,
a partir dos nossos resultados, que estas células deverão ter um papel relevante na
hipersensibilidade à estimulação periférica observada nos animais neuropáticos.
Aqui demonstrámos pela primeira vez, que animais com neuropatia periférica apresentam
alterações estruturais na AMY associadas, simultaneamente, à expressão de um comportamento
tipo depressivo. É de salientar que a plasticidade observada na AMY resultou, pelo menos em parte, do número de neurónios, resultante de proliferação celular. Foi também observado um
aumento do comportamento afectivo relativo à dor, avaliado através do teste aversivo de
condicionamento-de-lugar. Este comportamento aumentou depois da administração, na AMY, de
um agonista de receptores metabotrópicos do glutamato 1 e 5 (mGluR1/5) e diminuiu depois da
administração de um antagonista de receptores metabotrópicos do glutamato 1 (mGluR1). A
administração de um agonista de mGluR1/5 provocou também um aumento na actividade das
células “ON” do RVM dos animais neuropáticos, causado principalmente pela activação dos
receptores metabotrópicos tipo 1 do glutamato (mGluR1). O outro modo de plasticidade
observada foi a alteração na taxa de actividade da AMY que, nos animais neuropáticos,
aumentou nos níveis basais e diminuiu após estimulação periférica.
Na avaliação da influência cortical na neuropatia dos ratos, verificou-se que a injecção de
glutamato (Glu) e de um antagonista do receptor NMDA (NMDAr) no cortex cingulado anterior
rostral (rACC) provocou, respectivamente, um aumento e uma diminuição no comportamento
afectivo relativo à dor nos animais neuropáticos, também avaliado pelo teste aversivo de
condicionamento-de-lugar. Ao analisar a actividade neuronal da AMY depois da injecção dos
mesmos fármacos no ACC, verificámos que apenas o glutamato teve um efeito significativo,
provocando um aumento dessa actividade.
Depois de realizado este trabalho, podemos concluir que: I) a actividade das células “ON” e
“OFF” do RVM está alterada nos animais neuropáticos no sentido de promover a pronocicepção,
mas apenas as células ON aparentam ser as responsáveis pelo aumento de hipersensibilidade
associada à neuropatia; II) há plasticidade estrutural na AMY dos animais neuropáticos –
aumento de volume, resultante de neurónios recém-formados, que ocorre em paralelo com
comportamento do tipo depressivo; III) nos animais neuropáticos, o comportamento afectivo
relativo à dor depende, pelo menos, da activação dos mGluR1/5 na AMY e dos NMDAr no ACC; IV)
a activação dos mGluR1 na AMY provoca um aumento da actividade das células ON nos animais
neuropáticos.