Autor(es):
Pinto, João Ricardo
Data: 2007
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/1822/8615
Origem: RepositóriUM - Universidade do Minho
Descrição
Tese de Doutoramento em Engenharia Química e Biológica Most cellulose degrading enzymes are composed of modular structures. In the case of fungi, cellulases are formed by a catalytic domain (CD) and by a cellulose-binding domain (CBD), interconnected through a highly glycosylated protein linker. These enzymes are used for
paper production, either to allow a more efficient refinement or to improve the paper sheet
production.
This work aimed at implementing a procedure to produce significant amounts of purified
CDBs. The purified CBDs coating of the fibers surface was assessed by a method based on
fluorescence microscopy. Finally, the application of CBDs in paper production was evaluated.
The CBDs production was achieved by proteolysis, with papain, of the commercial
preparation Celluclast® (cellulases from Trichoderma reesei). Afterwards, the CBDs were
separated by ultrafiltration and further purified by ion exchange chromatography. The obtained
CBDs is part of cellobiohydrolase I, as demonstrated by N-terminal peptide sequencing and
MALDI-TOF. The isolated proteins kept the highly glycosylated peptide linker, as verified by
sugar analysis, that demonstrated the existence of 30% (w/w) of carbohydrates, most of which
mannose (85%). It was shown that these CBDs, as expected, have a high cellulose affinity,
desorbing very slowly. Using CBDs conjugated with fluorescein isothiocyanate (FITC), it was
verified that the adsorption is not uniform, being higher on the fibre extremities and defects, due
either to a higher specific surface area (amorphous regions) or to a higher affinity of CBDs to
these regions.
To quantify the CBDs coating of the fibres’ surface, a MATLAB program was
developed. This program allows for the correlation between the fluorescence signal intensity
produced by the adsorbed CBF-FITC, and its surface concentration. The FITC photobleaching
was verified to be only significant for CBD-FITC in solution, being negligible for the protein
adsorbed on cellulose. The adsorption of CBDs to cellulose films (made from cellulose acetate),
in saturation concentrations, resulted in the equivalent to 1.6 to 2 layer of protein. In the case of
cellulose fibres (Whatman CF11), this value increased to the equivalent of roughly 4 layers.
These high values are due to the protein penetration into the fibers, as was demonstrated by
confocal microscopy and immunolabelling with colloidal gold and transmision electron
microscopy, but also to the increased surface irregularities of Whatman CF11 that would
increase the surface area. The CBD adsorption onto primary and secondary fibres implied a reduction of the
Schopper-Riegler index (increase in water flow between the fibres) and an increase of both the
water retention value (WRV) and air permeability of the handsheets. The strength properties did
not suffer a significant variation with adsorbed CBDs, except for the non-refined virgin fibres. In
this case, a slight improvement was observed, probably due to the lower surface area. The effect
of CBDs on the surface properties was analysed by measuring the ZETA-potencial and contact angles. The adsorption of CBDs chemically conjugated to lysozyme (protein with a positive charge) did not significantly change the papersheet properties. The ZETA-potential was only significantly altered in the case of low surface area fibres (non-refined virgin fibres), as noticed by the reduction of the fibres negative charge. As expected, the variation was more significant with lysozyme conjugated CBD. This higher variation was also confirmed by contact angles measurement. The presence of conjugates made the cellulose film hydrophobic, due to the reduction of the negative polar component of the fibres. As enzimas que degradam a celulose são maioritariamente constituídas por estruturas modulares. No caso dos fungos, as celulases são constituídas por um domínio catalítico (CD) e
um domínio de ligação à celulose (CBD), interligados por uma cadeia proteica altamente
glicosilada. As enzimas têm sido amplamente utilizadas na produção de papel, para permitir uma
mais eficiente refinação, e melhorar a formação das folhas de papel.
Neste trabalho pretendeu-se inicialmente implementar um processo laboratorial de
produção de CBDs, em larga escala (grama). Para quantificar a taxa de cobertura dos CBDs
sobre a superfície das fibras de celulose, foi desenvolvido um método baseado em microscopia
de fluorescência. Posteriormente, avaliou-se o potencial de aplicação dos CBDs na produção de
papel.
A produção de CBDs foi realizada por hidrólise, usando proteases (papaina), do
preparado comercial Celluclast® (celulases do fungo Trichoderma reesei). Posteriormente, os
CBDs foram separados por ultrafiltração e posteriormente purificados numa coluna de troca
iónica. Os CBDs isolados pertencem à enzima celobiohidrolase I, como foi demonstrado por
sequenciação peptídica N-terminal e MALDI-TOF. A proteína purificada inclui a região de
ligação altamente glicosilada, como foi verificado pela análise dos açúcares totais, que
demonstrou a existência de 30% (m/m) de carbohidratos nas proteínas, em particular de manose
(85%). Verificou-se que estes CBDs possuem, como esperado, uma elevada afinidade por
celulose. A adsorção a fibras de celulose pura (Whatman CF11) não é irreversível, sendo a
desorção muito lenta. Recorrendo à conjugação dos CBDs com isotiocianato de fluoresceina
(FITC) verificou-se que a adsorção nas fibras não é uniforme, sendo superior nas extremidades e
irregularidades das fibras, devido a um aumento da área superficial disponível para os CBDs
(regiões amorfas) ou a uma maior afinidade para estes locais.
Para quantificar a taxa de cobertura das fibras pelos CBDs, foi desenvolvido um método
baseado em microscopia de fluorescência. Este método passou pelo desenvolvimento de um
programa em MATLAB para calibrar o sinal produzido pelos CBDs, permitindo efectuar uma
correspondência entre o sinal produzido por fibras com CBD-FITC e a densidade de proteína na
superfície das fibras. No desenvolvimento do método tomou-se em consideração a
fotoinstabilidade (photobleaching) do FITC, tendo-se verificado que este apenas é significativo
para CBD-FITC em solução, mas negligenciável quando adsorvido em celulose. Os CBDs
adsorvidos em filmes de celulose (preparados a partir de acetato de celulose), em concentrações saturantes, corresponderam a um revestimento equivalente a 1.6 a 2 camadas de proteína. No
caso das fibras de celulose, estes valores aumentaram para o equivalente a cerca de 4 camadas,
no caso da Whatman CF11. Estes valores elevados resultam da penetração das proteínas no
interior das fibras, como pôde ser demonstrado tanto por microscopia confocal como por
microscopia electrónica de transmissão (por imunomarcação com ouro coloidal). A
irregularidade da superfície das fibras poderá também aumentar a taxa de cobertura dos CBDs.
A adsorção de CBD a fibras de papel, primárias e secundárias, implica uma diminuição
do índice de Shopper-Riegler (aumento do escoamento de água das fibras), assim como um
aumento do índice de retenção de água (WRV) e da permeabilidade à passagem de ar nas folhas
de papel produzidas no laboratório. As propriedades físicas das folhas não sofreram alterações
significativas com a adsorção dos CBDs, excepto no caso das fibras virgens não refinadas. Neste
caso, os parâmetros mecânicos aumentaram ligeiramente, devido muito provavelmente à menor
área superficial destas fibras e logo a uma maior influência dos CBDs adsorvidos. A adsorção de
CBDs conjugados com lisozima (proteína com carga positiva) não modificou significativamente
as propriedades das folhas. O efeito dos CBDs nas propriedades de superfície das fibras foi
analisado através da medição do potencial ZETA e dos ângulos de contacto. O potencial ZETA
só variou significativamente no caso das fibras com menor área superficial (fibras virgens não
refinadas), traduzindo-se numa diminuição da carga negativa com a adsorção dos CBDs. Esta
variação foi também observada com partículas de celulose pura, nos casos em que se usou uma
elevada carga proteica. Como esperado, a variação foi mais significativa quando foram utilizados
os CBDs conjugados com lisozima. Esta maior variação também foi observada nos ângulos de
contacto, onde a presença dos conjugados tornou o filme de celulose hidrofóbico, devido à
diminuição do carácter polar negativo das fibras.