Author(s):
Pereira, Rui Alberto Mateus
Date: 2013
Persistent ID: http://hdl.handle.net/1822/27323
Origin: RepositóriUM - Universidade do Minho
Description
Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação ( área de conhecimento Sociologia da Comunicação e da Informação) O projeto de pesquisa que ora se apresenta estuda a produção discursiva dos três jornais portugueses
de referência dominante, Expresso, Diário de Notícias e Público sobre um dos mais controversos
e diretamente político-ideológicos temas do nosso tempo, o comunismo.
Coligindo mais de um milhar de itens impressos entre 1980 e 2005, este material configura uma
densa construção anticomunista que é aqui analisada à luz das Teorias do Enquadramento (Framing)
e da Construção Social da Realidade. Este estudo de natureza qualitativa, embora quantitativamente
controlado, deteta um volume considerável de matéria tendenciosamente orientada na cobertura do
comunismo e do Partido Comunista Português, um dos poucos que permanecem, ainda hoje, identificados
com o ideal marxista-leninista.
Procedeu-se a uma revisão teórica em torno das noções de identidade e representações, considerando-
se, entre outras, as dimensões da Esteotipia e da Teoria da Rotulagem (“Labeling Approach”).
O ponto de vista aqui defendido é o de que a construção representacional e identitária negativa do
Outro constitui uma estratégia de representação positiva do Eu social, cada um deles nomeado como
o “Mal” vs. o “Bem”, numa produção assaz maniqueísta, nociva e empobrecedora de configuração da
(ir)realidade.
Contemplando a necessidade de proceder ao corte epistemológico com a linguagem do senso
comum, que carateriza a produção científica, o estudo ensaiou um modelo analítico por meio do qual
as formas políticas, ou regimes, não são observadas pela sua produção autorrepresentacional (a sua
morfologia) mas sim em função da sua eidética. Desse modo, as duas maiores promessas políticas da
Modernidade (o liberalismo e o socialismo) mantêm pontos em comum por sob a superfície das suas
discursividades explícitas.
A pesquisa tentou recensear as autorrepresentações identitárias dos principais atores e correntes
politicas da Modernidade e registar as suas produções ideológicas quanto às suas raízes em projetos
utópicos pré-Modernos e recentes. Também se discute à luz de diferentes pontos de vista, designadamente
enquanto utopia de grande impacto social e político para o humano, o cientificismo derivado
da ideologia do “Progresso” e seus correlatos.
Entrando na ideologia anticomunista, a investigação percorre as suas múltiplas expressões e tenta
estabelecer as respetivas regularidades argumentativas transversais, para além dos países, regimes e
momentos históricos. Observa-se em particular o papel da Igreja Católica através da consideração da
discursividade produzida por um século de documentos de alto nível, as Encíclicas Papais versando o
assunto, desde 1848 até 1948. É ainda discutida a questão do Totalitarismo e dos contributos de origem
académica para a edificação de uma doutrina e de uma bem sucedida discursividade anticomunistas,
destinadas a serem usadas (e assim o foram) bem no coração da mentalidade e das incidências da
Guerra-Fria.
Com este aparato teórico recolheu-se e analisou-se um corpus de mais de 5.600 itens, centrados
em duas grandes ordens de distribuição: de um lado, os referentes ao comunismo e ao PCP, e do outro, as unidades que versavam a positividade legitimadora da “normalização” edificada a partir da rotura
com o período de agitação revolucionária de 1974/75. Empregaram-se diferentes técnicas e métodos
de amostragem, de forma a poder captar-se a informação disponível e contrastarem-se os resultados
relevantes que dela iam emergindo, por entre uma tão volumosa quantidade de material. Na sua condição
de semanário, o Expresso foi o único dos três jornais a ser analisado durante todo o período e
no seu interior, de acordo com procedimentos de amostragem que permitiam identificar no objeto
os níveis de “saturação teórica”.
Foi possível extrair conclusões sobre os modos como a mais referencial imprensa portuguesa e
um número considerável dos seus profissionais acabaram envolvidos numa cadeia de preconceito anticomunista
e anti-PCP que orientou genericamente a cobertura realizada sobre o assunto, detetandose
embora variações entre os discursos que cada um dos jornais produziu ao longo do período.
Considerando-se este um caso em que, numa inversão, foi o jornalismo a fazer jornalistas e não os jornalistas
a fazerem jornalismo, sustenta-se a posição de que o comportamento da imprensa estudada,
neste particular, resulta mais comprometedora para o estatuto da própria imprensa do que do partido
e da ideologia comunistas na sociedade portuguesa. The research project we now conclude focuses on twenty five years of journalism from the main
Portuguese quality papers about Communism. This material configured a huge corpus of media discursive
production on a rather controversial and a directly political and ideological issue of our time.
Collecting more than one thousand items printed between 1980 and 2005, on the pages of the
most important Portuguese newspapers (Expresso, Diário de Notícias and Público) this material configures
a high density anticommunist construction, which is here analyzed from both the perspectives
of the Social Constructionism and the Framing Theory. This qualitative study, which has been quantitative
controlled, detects a considerable amount of ideologically biased news coverage on the Communism
and the Portuguese Communist Party, one of the few in the world that keeps loyalty to
Marxism-Leninism ideal.
We review several theoretical approaches to the social identity and representation issues. The
problem has still been addressed on the basis of a model of negative and positive identity considering
among others the Stereotyping and the Labeling approaches. Our stand point is that the construction
of the Other’s negative representation is a key feature to get and induce a positive representation of
the Self, named each one of the parts as the “Evill” one vs. the “Good” one, in a rather manichaeistic
and poor way of configuring (un)reality.
Considering the need of epistemological cut towards the common sense language and perceptions
that characterizes scientific production the study developed an analytical model trough which
political forms or regimens are observed not by their own self produced representations (morphologically),
but instead they are considered in function of their eidética. So the two major political promises
of Modernity (Doctrinal Liberalism and Socialism) meet somewhere below their own explicit Discourse. The research tries to identify the clamed self representations by the major political actors and currents
of Modernity, and to register their roots on ancient and recent utopian projects. It also discusses
scientificist ideologies from a different set of views, namely as an human utopia with huge social and
political impacts, derived from the Progress Ideology.
Entering on the Anticommunist ideology, the research crosses along its varied expressions and
try to stabilize the common features inside of it, beyond the political morphologies, countries, or historical
moments since the middle of the xIx century. In particular we observed the role of the Catholic
Roman Church trough the analysis of the discourse of Encyclical Pope’s Letters since 1848 until 1948.
We also discussed the problem of Totalitarianism and the academic contributions to the construction
of a well succeeded Anticommunist doctrine and discourse that could be used (and so they have been)
on the core of the Cold War mentality and affairs.
With this apparatus we began collecting and analyzing a corpus of more than 5.600 items establishing
two main focuses on their distribution: those which referred to Communism and PCP, and those
which expressed the positivity of the new liberal regime sorted out from the military cutting of the
revolutionary period of 1974-75. We used different sample techniques so we could contrast the rele vant results that were emerging from such a dense amount of material. As a weekly newspaper, Expresso
was the only one observed in its inside pages and during the entire period.
We finally could conclude that the Portuguese finest press and a considerable number of its professionals
have been caught up in a chain of Anticommunist and anti-PCP biased news production
even if there are some variations among the discourses that each one of the newspapers produced
along the period. Considering this one as a case on which journalists have not been making journalism
but, instead, that is journalism who has been making its journalists, we stand for the position that the
way the examined press behaved on this issue compromises the press status more than the Communist
Party and Ideology positions on Portuguese society.