Autor(es):
Martins, Maria de Fátima da Silva Vieira
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/1822/19654
Origem: RepositóriUM - Universidade do Minho
Descrição
Tese de Doutoramento em Sociologia As mudanças económicas, políticas, sociais e culturais que ocorreram no mundo desde
o século XIX, e que se intensificaram desde a segunda metade do século XX, produziram
alterações significativas na vida em sociedade, promovendo a criação de tecnologias cada vez
mais sofisticadas. A saúde não ficou imune a estas mudanças, pelo que, envolvida neste
quadro de novos conhecimentos, viu aumentar significativamente os desafios que hoje se
colocam às instituições de saúde. Muitos grupos profissionais têm vindo a reflectir de forma
crescente sobre a problemática da educação para a saúde, visando a aplicação de estratégias
que coadjuvem os indivíduos e a comunidade na adopção ou na modificação de
comportamentos que possibilitem um apropriado nível de saúde. Tal situação verifica-se em
todas as dimensões da vida humana e social. O caso que estudámos, e que incide
particularmente sobre a gravidez, não escapa a estas mudanças. Sendo a gravidez uma época
de preparação física, psicológica e social para o parto e para a maternidade, é considerada
como um período de intensa aprendizagem, até porque a mulher se encontra ávida de saber.
Em Portugal, ao contrário de tempos não muito recuados, a mulher grávida é precocemente
acompanhada por profissionais de saúde, destacando-se a intervenção da enfermeira
especialista em saúde materna e obstétrica que a acompanha, aconselha e, mesmo, cada vez
com mais frequência, lhe ministra formação adequada para viver de forma equilibrada e
saudável este período da sua vida. Por outro lado, muitas atitudes e comportamentos da
mulher grávida, normalmente como parte integrante de uma família, estão, também,
associadas a este processo. Foi neste contexto que surgiu o ponto de partida do nosso estudo,
fundamentando-se na análise das práticas educativas desenvolvidas pelas enfermeiras
especialistas na vigilância pré-natal nos Cuidados de Saúde Primários. O presente estudo
inscreve-se no âmago de uma sociologia compreensiva onde almejamos apreender o modo
como os actores, neste caso a grávida e as enfermeiras, concebem a educação para a saúde
durante a vigilância pré-natal. Todavia, a vivência deste período de vida das mulheres e das
respectivas enfermeiras especialistas, não é alheia ao contexto social envolvente, mais concretamente, ao Centro de Saúde e à sua organização. Na persecução destes objectivos,
decidimos partir para a pesquisa realizando um estudo de carácter qualitativo, o que nos
permitiu, no desenvolvimento da análise, proceder a uma retrospectiva sobre a vivência da
gravidez e as respectivas práticas de educação para a saúde desenvolvidas pelas enfermeiras
especialistas em saúde materna e obstétrica, permitindo ainda analisar e, de certa maneira
comparar os dados obtidos em três Centros de Saúde: Centro de Saúde de Braga, Centro de
Saúde de Vieira do Minho e Centro de Saúde de Vila Verde. O método de recolha de
informação empírica envolveu o recurso a diferentes técnicas, que são utilizadas de forma
complementar. Foi assim que privilegiámos, como técnica central, a entrevista semiestruturada
e, como técnicas complementares, a observação directa e a pesquisa documental.
Dos dados recolhidos, concluímos que as enfermeiras foram unânimes em afirmar que a
educação para a saúde é uma actividade prioritária. Todavia, parece haver alguma confusão
nos conceitos de “prevenção e promoção”. As grávidas entrevistadas demonstraram
reconhecimento e valorização do trabalho da enfermeira na vigilância pré-natal,
particularmente no que concerne à educação para a saúde, à orientação e à ajuda. No entanto,
foi consensual encarar a família como fonte de transmissão de saberes e centro dos cuidados,
na medida em que esta é considerada como um suporte afectivo, instrumental e informativo,
para manter a qualidade de vida das grávidas, bem como para enfrentar, de forma adequada, a
nova situação de ser mãe, aumentando a sua autoconfiança. Destacamos, do mesmo modo,
uma certa dissonância entre os dados referidos pelas enfermeiras, os dados mencionados pelas
mulheres e a observação das práticas educativas desenvolvidas. Concluímos que as acções
educativas se inserem em dois modelos que denominamos de tradicional e dialógico. O
primeiro modelo aponta para a prevenção das doenças ou de danos mediante a informação de
conteúdos biomédicos para diminuir riscos individuais. O segundo orienta-se para o indivíduo
e para a sua realidade, sendo este considerado sujeito da prática educativa. Factores de
constrangimento centralizados nas grávidas, na família, nos profissionais de saúde e na
organização da consulta foram mencionados como condicionadores das práticas educativas.
Importa, contudo, reportar que empreender a realização da educação para a saúde sem ter em
atenção estes factores é promover o insucesso das práticas educativas. Torna-se, por isso,
pertinente questionar como é que as escolas devem formar os profissionais de saúde, tendo em
conta este propósito. The economic, political, social and cultural changes that have occurred worldwide since the
nineteenth century and which have intensified since the second half of the twentieth century
produced significant changes to life in society, promoting the creation of increasingly
sophisticated technologies. Health was not immune to these changes. Therefore, involved in
this framework of new knowledge, Health saw a significantly increase of challenges faced by
healthcare institutions. Many professional groups have been increasingly considering the
problems of health education as a process directed towards the implementation of strategies
that contribute to individuals and communities to adopt or modify behaviours that allow an
appropriate level of health. Such situation is verified in all the dimensions of the human and
social life. The case study we are reflecting on, which focuses particularly on pregnancy,
doesn’t escape these changes. Pregnancy is a time of physical preparation, psychological and
social assistance for childbirth and motherhood, therefore, because the woman is eager to
know, it is considered as a period of intense learning. Despite what we have seen in the past,
in Portugal nowadays the pregnant woman is precociously accompanied by health
professionals within whom it is important to focus the intervention of the midwives who
accompanies, gives advice and even more and more frequently gives adequate formation on
how to live in a healthy and balanced way this period of her life. On the other hand, many
attitudes and behaviours of the pregnant woman, normally as integrant part of a family, are
also associated to this context. It was in this context that emerged the starting point of our
study, based on the analysis of educational practices developed by midwives in prenatal
surveillance in Primary Care. This study is part of the core of a comprehensive sociology,
which aims to capture how the actors, in this case the pregnant woman and midwives,
conceive health education during prenatal monitoring. However, the experience of this period
of women’s life and their specialist nurses is not ignored within its involving social context,
more specifically, the Health Center and its organization. In pursuing these goals, we have
decided to do a case study research, which allows us, in the analysis, to conduct a
retrospective on the experience of pregnancy and related practices of health education carried
out by midwives, also allowing us to analyze and contrast the data obtained in three Health Centers: Braga, Vieira do Minho and Vila Verde’s Health Centers. The method of collecting
empirical data involves the use of different techniques that are used in a complementary way.
That’s why we privileged, as central technique, the semi-structured interview, and as
complementary techniques, direct observation and documentary research. The midwives had
been unanimous in affirming that the Health Education is a priority activity. However, there
seems to be some confusion in the concepts of “prevention and promotion”. The pregnant
women interviewed showed recognition and appreciation of the midwives work in the
prenatal surveillance, particularly with regard to health education, guidance and assistance.
However, it was consensual to consider the family as the center of cares since it is considered
as an emotional, instrumental and informative support, to keep the quality of life of the
pregnant, as well as to face, in an adequate form, the new situation of becoming a mother,
thus increasing her self-confidence. We confirmed that there was not a complete match
between the information mentioned by the midwives and the information given out by the
women as well as between the observations of the developed educational practices. These
practices are divided into two models, which we designate as traditional and dialogic. The
first model points to the prevention of diseases and damages in accordance with the
information of biometric contents in order to reduce individual risks. The second is focused
on the individual and its reality, thus considered as subject of the educational practice.
Centralized constraining factors in pregnant women, family, health professionals and Health
Center organization were mentioned as constraints of educational practices. It is important to
report that to undertake the implementation of health education with no regard to these factors
is to promote the failure of educational practices. Therefore is pertinent to question how the
schools should train the health professionals in relation to this matter.