Author(s):
Começanha, Ana Rita Silva
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/1822/15849
Origin: RepositóriUM - Universidade do Minho
Subject(s): Guerra; Trauma; Factores de risco; Factores protectores; PPST; Resiliência; War; Risk factors; Protective factors; PTSD; Resilience
Description
Dissertação de mestrado integrado em Psicologia (área de especialização em Psicologia Clínica) No confronto com experiências potencialmente traumáticas como a guerra, o indivíduo desenvolve respostas
patogénicas, que se coadunam com o Percurso de Perturbação Pós-Stress Traumático (PPST), por vezes
concomitantes com o relato de Crescimento Pós-Traumático; ou salutogénicas, caracterizadas por uma
trajectória estável de funcionamento adaptativo coerente com o Percurso Resiliente, ou de Recuperação, em que
após um período inicial de forte desregulação, o indivíduo retorna ao nível de funcionamento pré-trauma.
O presente estudo visa identificar, em 26 ex-combatentes da guerra colonial portuguesa – 15 com
diagnóstico de Perturbação Pós-Stress Traumático (PPST) e 11 Assintomáticos (ASS) – factores protectores e de
risco face à adversidade nos períodos pré, péri e pós militares, e averiguar se estes se diferenciam entre grupos.
Para a prossecução deste objectivo, adoptou-se uma metodologia de investigação mista, do tipo sequencial
exploratória em que, a partir da análise das entrevistas autobiográficas provenientes de um estudo prévio
(Sendas, 2009), se pretendeu identificar no discurso dos sujeitos os factores protectores e de risco. Estes foram
posteriormente quantificados, sendo expectável detectar maior número de factores de risco nos sujeitos com
PPST e de factores protectores nos sujeitos assintomáticos, nos três períodos de vida em análise.
Nas condições prévias à mobilização verifica-se uma maior ocorrência de risco no grupo com PPST, indo de
encontro à hipótese formulada, que remetem para privações económicas, baixa escolaridade, trabalho precoce e
relação familiar conflituosa, coincidente com os referidos na literatura (Kirk, 2008; Vogt & Tanner, 2007). Por
outro lado, o grupo ASS, revela uma elevação de factores protectores, entre os quais a aplicação da disciplina
sem punição física e a construção do valor pessoal, relevantes para o percurso salutogénico. Na exploração do
período péri-militar, constata-se igualmente o risco aumentado no grupo com PPST, concluindo-se que este
interpreta os eventos como potencialmente ameaçadores, desenvolvendo um conjunto de respostas
predisponentes à psicopatologia, evidenciados pelas meta-análises de Brewin, Andrews e Valentine (2000) e
Ozer, Best, Lipsey e Weiss (2003). Diametralmente oposto a este padrão de respostas patogénicas, os sujeitos
ASS revelam um percurso de resiliência, pela capacidade de se adaptarem à adversidade, apresentarem
flexibilidade na interpretação cognitiva, controlo emocional e coping flexível na gestão da ameaça (Westphal &
Bonanno, 2007), em contraste com a ruminação cognitiva, coping emocional e ansiedade antecipatória
registados no grupo com PPST. Quanto ao período pós-militar constatam-se, no grupo com PPST, respostas de
risco que reforçam o percurso de psicopatologia, corroborando a hipótese inicial, e a percepção de
descontinuidade narrativa em função da experiência de guerra. No sentido da adaptação, o grupo ASS apresenta
respostas protectoras que lhe permite atribuir continuidade à sua narrativa pessoal, marcada por o relato de
uma autobiografia integrada e estabilidade na identidade pessoal. Conclui-se assim que foi possível identificar
factos e respostas individuais protectoras e de risco que diferem significativamente entre os grupos, conducentes
aos percursos de PPST ou de Resiliência que apresentam. Facing potentially traumatic experiences as war, an individual develops pathogenic responses, that are
consistent with Posttraumatic Stress Disorder (PTSD) trajectory, sometimes concurrent with Posttraumatic
Growth; or salutogenic, characterised by a stable pathway of adaptive functioning consistent with the Resilient
trajectory, or Recovery, in which, after a strong deregulation initial period, the individual returns to the pre-trauma
functioning level.
The present study aims to identify, on 26 Portuguese Colonial War Veterans – 15 with PTSD and 11
Asymptomatic – predeployment, war-zone and postdeployment protective and risk factors facing adversity, and
verify if these differ between groups.
To accomplish this objective, is adopted a mixed method rechearch design, sequential exploratory type in
which, from the analysis of autobiographical interviews, by a previous study (Sendas 2009), intended to identify
by the subject’s speech the protective and risk factors. These were later quantified, being expectable to detect
major number of risk factors on subjects with PTSD and protective factors on asymptomatic subjects, on the
three life periods in analysis.
On predeployment conditions there is a bigger risk occurrence on the PTSD group, encountering the
formulated hypothesis, which refers to economic privation, low scholarship, early work and family conflicts,
consistent with the referred on literature (Kirk, 2008; Vogt & Tanner, 2007). On the other hand, the ASS group
reveals an elevation of protective factors, as the application of discipline without physical punishment and the
construction of personal value, both relevant to the salutogenic course. During the war-zone period, is also
verified the increasing risk on the PTSD group, concluding that these individuals interpret events as potentially
threatening, developing a cluster of predisposing responses to psychopathology, evidenced by the meta-analysis
of Brewin, Andrews e Valentine (2000) and Ozer, Best, Lipsey and Weiss (2003). Diametrically opposed to this
standard of pathogenic responses, the ASS subjects reveal a resilient trajectory, by the ability to adapt to
adversity, to present plasticity on cognitive interpretation, emotional control and flexible coping on the threat
management (Westphal & Bonanno, 2007), in contrast to cognitive rumination, emotional coping and
anticipatory anxiety registed on the PTSD group. About the postdeployment period, it appears, on the PTSD
group, risk responses that enforce the psychopathology course, corroborating the initial hypothesis, and the
perception of narrative discontinuity due to the war experience. Towards adaptation, the ASS group presents
protective responses, assigning continuity to their personal narrative, marked by the report of an integrated
autobiography and stability on personal identity. We conclude that it is possible to identify protective and risk
individual facts and responses that differ significantly between groups, conducting to PTSD or resilience
trajectories that they present.