Autor(es):
Ribeiro, Silvana Mota
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/1822/12384
Origem: RepositóriUM - Universidade do Minho
Descrição
Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação (especialidade de Semiótica Social) Não obstante o considerável volume de investigação sobre “imagens de mulheres” e sobre
discursos ao longo dos últimos anos, em variados domínios, as abordagens não têm sido, por
um lado, discursivamente enquadradas, nem têm mostrado pormenorizadamente os
funcionamentos visuais dos anúncios femininos – não permitindo, por isso, uma análise desta
camada importante da produção do significado. Esta investigação procura dar resposta à
questão de como os discursos de género se manifestam nas imagens, e identificar os
discursos usados na sua produção. Analiso a forma como a desigualdade de género é
reproduzida e construída em anúncios publicitários que representam mulheres, evidenciando
os discursos de género que estão subjacentes e que são comunicados através das imagens,
com vista a tornar mais claro o poder específicos dos recursos visuais na construção de
discursos de género, face a outros modos. Apropriando-me de alguns aspectos de discursos de
género e feminilidade considerados relevantes, ambíguos ou problemáticos, analiso a forma
como estes se articulam e como se realizam visualmente em revistas femininas mensais, em
Portugal, com vista a explicitar as contradições e demonstrar, criticamente, o funcionamento
dos discursos, do poder da ideologia e do poder em imagens que sustentam uma ordem social
de género hierárquica. É crucial compreender como as imagens adquirem significado e
aceitação social. Na medida em que permite analisar pormenorizadamente as estruturas
visuais, a socio-semiótica constitui um instrumento-chave para compreender as características
fundamentais daqueles processos. Adicionalmente, uma vez que a publicidade desempenha
um papel fundamental no encadeamento discursivo e na articulação de discursos de género e
encarando o visual como determinante para a construção destes, argumento que os recursos
visuais necessitam de uma abordagem própria que destaque as especificidades do
funcionamento da gramática visual, i.e., que trate as imagens como imagens. Revelando o
modo como estas imagens se inscrevem neste tipo de discursos e participam no processo da
sua reprodução, poderemos compreender melhor o seu poder ideológico. Para responder às
questões que se colocam, é necessário uma análise das representações de género, uma
análise da forma como os visionadores são socialmente posicionados para olhar estas
representações, uma análise da articulação destas representações em textos coerentes e uma identificação dos discursos que fundamentam estas imagens e dos traços visuais mais
relevantes. Focando o centro da atenção nas imagens, a abordagem mais pertinente será,
então, a socio-semiótica visual, quer como abordagem teórica do funcionamento dos discursos
e ideologias nas imagens, quer como ferramenta metodológica de análise das suas realizações
e construções visuais específicas. Não obstante, a fundamentação teórica deste estudo é,
necessariamente, interdisciplinar, tendo em conta que cada uma das suas dimensões constitui
objecto de estudo de campos autónomos, ainda que relacionados, de investigação. Por
conseguinte, para abordar o complexo problema da reprodução dos discursos na sociedade,
socorro-me de várias áreas, como os estudos relativos a género, sexualidade, poder e
ideologia, a teoria publicitária, etc. – todas enformadas por uma preocupação feminista. Este
estudo é motivado por uma perspectiva feminista, empenhada na obtenção de uma ordem
social mais justa, em termos de género, que procura a transformação e a emancipação, com
vista ao desenvolvimento de estratégias de resistência e mudança social. No entanto, frisando
uma particular preocupação com as relações de género no contexto da socio-semiótica visual,
posiciono-me naquilo que designo “Socio-semiótica Visual Feminista”.
No sentido de perceber e explicitar de que forma os diferentes traços visuais realizam,
articulam e disseminam discursos de género, que posicionamentos implicam e que posições
ideológicas pressupõem, assim como as constelações discursivas e a(s) ideologia(s)
subjacentes, adopto uma abordagem metodológica baseada na gramática do design visual
ocidental (Kress e van Leeuwen, 1996) que consagra três dimensões de sentido, enquadrada
por uma abordagem teórica situada entre a sócio-semiótica e a análise crítica do discurso. Esta
análise empírica baseia-se num corpus de 151 anúncios que representam mulheres,
recolhidos das revistas femininas mensais publicadas em Portugal em Setembro de 2006.
A análise da relação entre recursos visuais, imagens e discursos permite-nos, assim,
relevar o seu poder na persistência ou na transformação ideológica. Este estudo procura, deste
modo, contribuir para uma melhor compreensão da desigualdade de género enquanto
problema social maior das sociedades ocidentais, ao mesmo tempo que espera, de algum
modo, contribuir para o desenvolvimento e afirmação da sócio-semiótica visual enquanto área
vital para o estudo da comunicação actual.