Autor(es):
Pinheiro, Carla Teresa Munhoz
Data: 2008
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.2/1233
Origem: Repositório Aberto da Universidade Aberta
Assunto(s): Sociologia da saúde; Comunicação em saúde; Doenças crónicas; Diabetes; Centros de saúde
Descrição
Dissertação de Mestrado em Comunicação em Saúde apresentada à Universidade Aberta Este trabalho de investigação analisa a situação actual das práticas organizacionais, médicas
e de enfermagem, relacionadas com a prestação de cuidados à pessoa com Diabetes Mellitus
nos Cuidados de Saúde Primários.
Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, de base institucional (Centros de Saúde da
extinta Sub-Região de Saúde de Lisboa, nomeadamente da Unidade E, que integram a rede
de cuidados de saúde do Sistema Nacional de Saúde - SINS), realizado através de um
questionário.
A doença alvo do estudo foi seleccionada segundo um conjunto de critérios relacionados com
o peso da doença (burden of disease, em termos de incidência, prevalência, complicações,
transcendência social e económica, vulnerabilidade, entre outros) e a teoria da gestão da
doença (GD).
A investigação consistiu na avaliação pluridimensional de dados, relacionados com categorias
essenciais do continuum dos cuidados prestados ao doente crónico que incidem sobre a
estrutura e o processo subjacentes às práticas de cuidados de saúde na abordagem das
doenças crónicas (DC), efectuadas pelos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros)
destes Centros de Saúde. A selecção da amostra obedece a critérios de conveniência, isto é,
estão nela incluídos Centros de Saúde em que os profissionais, médicos e enfermeiros
inquiridos, abordam esta Doença Crónica no âmbito da sua intervenção.
A linha orientadora da avaliação tem por base os princípios teóricos da GD, incorporados
num Modelo de Cuidados Crónicos (MCC). Este Modelo constitui o quadro de referência
teórico que orienta a investigação e é suportado por uma sólida evidência científica,
actualmente disponível, sobre a abordagem das DC. O Modelo tem como característica
inovadora a inclusão de áreas essenciais de intervenção que preenchem o domínio do
conceito de cuidados crónicos, e que não se relacionam, mas complementam os indicadores
tradicionais de desempenho profissional, inerentes aos cuidados crónicos.
O estudo surge da verificação de incongruências entre esta evidência e a prática dos
cuidados dirigida às DC, vivenciada no âmbito da nossa experiência enquanto profissionais
da área da saúde, levantando o problema principal de se saber até que ponto essas práticas
incorporam e acompanham as legis artis sobre a abordagem das DC. Sucedem a este
problema algumas questões, para as quais foram criadas 8 hipóteses. As 6 primeiras,
denominadas como específicas, resultam do MCC e relacionam-se directamente com as
categorias de intervenção inovadoras dos cuidados crónicos. Foram definidos pressupostos
para a sua confirmação/não confirmação. As outras 2 hipóteses, designadas como gerais,
são derivadas das específicas. A recolha de dados baseou-se num Questionário ACIC (Assessment of Chronic Illness Care), traduzido e adaptado para os objectivos do presente
estudo.
Os resultados desta investigação permitiram chegar às seguintes conclusões: 1) Existe um
quadro teórico que coloca as doenças crónicas no foco de atenção prioritário da maioria dos
sistemas de saúde, na medida em que representam o principal peso da doença. Apesar
disso, na generalidade dos sistemas, a organização tradicional dos cuidados de saúde para a
abordagem médica e de enfermagem da pessoa com doença crónica, é tipicamente
estruturada para cuidados episódicos e reactivos – doença aguda. Há evidência de
abordagens efectivas para ajudar a resolver este problema, merecendo a GD uma referência
particular na medida em que constitui uma resposta estruturada, integrada e de base
populacional para identificar pessoas com uma doença crónica particular ou em risco de
contraí-la, intervir através do uso de guidelines, baseadas na evidência e medir os resultados
após a ocorrência dessas intervenções. 2) Os resultados são consentâneos com a literatura
consultada sobre esta matéria, na medida em que sugerem a existência de um sistema de
cuidados de saúde fragmentado. Atestam igualmente a existência de défices estruturais,
nomeadamente em tecnologias de informação e de processos de cuidados inadequados à
natureza e características das doenças crónicas, confirmando uma abordagem
essencialmente episódica e reactiva destas doenças. Os resultados evidenciam diferenças de
prestação de cuidados entre os diferentes grupos profissionais estudados, assim como a
ausência de estratégias de mudança. 3) O Modelo utilizado, na medida em que identifica as
mudanças necessárias no desempenho dos sistemas de cuidados de saúde para a gestão das
doenças crónicas, pode surgir como instrumento de avaliação prospectiva dos Centros de
Saúde numa óptica de mudança dos padrões da prestação dos cuidados a doentes crónicos.
O próprio conceito de GD deve ser encarado como um conceito útil e multidimensional, cuja
aplicação sistémica ou organizacional pode contribuir, na prática, para ajudar a consolidar
um sistema de cuidados verdadeiramente integrado (não fragmentado). 4) Uma conclusão
interpretativa relevante desta investigação é a de que, em Portugal, a gestão das doenças
crónicas não tem exemplos que se adaptem ao conceito de gestão de doença.
Consequentemente, na expressão mais abrangente deste conceito, pode afirmar-se que não
existe gestão da doença em Portugal. Por isso, tirar partido deste poderoso conceito é de
importância vital para o SINS, na medida em que tal significa melhorar a efectividade e a
qualidade da gestão das doenças crónicas, contribuindo dessa forma para reduzir o peso destas doenças.