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Contributo de variáveis individuais e relacionais para a satisfação sexual de p...

Autor(es): Pascoal, Patricia Magda Monteiro, 1972- cv logo 1

Data: 2012

Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10451/7522

Origem: Repositório da Universidade de Lisboa

Assunto(s): Teses de doutoramento - 2012


Descrição
Tese de doutoramento, Psicologia (Psicologia Clínica), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2012 A sexualidade é uma dimensão central ao longo da vida dos indivíduos, constituindo um dos principais desafios que se coloca à investigação devido à natureza privada e íntima do tema, às especificidades da amostragem, medidas, desenho dos estudos e análise dos dados. A diversidade de objetos, modelos e metodologias de estudo contribuem para que o conhecimento na área da sexualidade seja bastante rico e potencialmente inclusivo. Mas cria, também, problemas na delimitação concetual de alguns construtos, ou mesmo divergência na operacionalização dos mesmos, em função de diferentes correntes de pensamento, colocando, ainda, desafios à integração do conhecimento e à comparabilidade entre os estudos. Ainda que o estudo da sexualidade nas relações de natureza romântica inclua saberes de várias escolas de pensamento, é notória uma tendência dicotomizante com uma predominância de estudos focados em variáveis sexuais e individuais, num polo, e alguns outros estudos centrados em variáveis relacionais e contextuais, noutro polo, sem que se verifiquem esforços consistentes para uma integração dos saberes destas duas vertentes. Este estado da investigação levou a que alguns autores tenham denunciado a ausência de quadros teóricos sólidos que integrem os dados das investigações empíricas e outros defendam, ainda, a necessidade de integrar variáveis relacionais e contextuais para melhor compreender o comportamento sexual humano (e.g. DeLamater & Hyde, 2004). O presente estudo, enquadrado numa perspetiva teórica bioecossistémica, foi desenhado com a finalidade última de contribuir para o enriquecimento do conhecimento científico sobre saúde sexual e sexualidade conjugal, focando-se, particularmente, no papel que variáveis relacionais e individuais têm ao nível da satisfação e do funcionamento sexual. Assim, foram definidos como objetivos gerais: (1) compreender, através das “vozes” dos participantes, significações de satisfação sexual; (2) analisar o impacto da satisfação relacional em diferentes áreas da vida conjugal na satisfação sexual; (3) analisar o impacto de variáveis relacionais e individuais na distração cognitiva durante a atividade sexual; (4) analisar o impacto de variáveis relacionais e individuais na satisfação sexual de participantes com diagnóstico ou auto-perceção de problemas sexuais. Para a concretização destes objetivos, recorreu-se a uma amostra comunitária de participantes envolvidos numa relação conjugal heterossexual (de casamento ou de coabitação sem casamento) e a uma amostra clínica, tendo sido consideradas diferenças entre homens e mulheres, e diferenças entre participantes com e sem auto-perceção de problemas sexuais. Em função dos objetivos referidos, optou-se, no quadro de um paradigma pós-positivista, por uma abordagem metodológica mista, embora predominantemente quantitativa. Esta opção por um desenho misto teve como principais motivos, para além de uma compreensão mais vasta e aprofundada do fenómeno em estudo, responder a diferentes questões de investigação que apelavam a diferentes perspetivas – do investigador e dos participantes. Apesar de a maioria das questões se focar na descoberta de padrões e relações entre variáveis, o que implicou a utilização predominante de metodologias quantitativas, outras, iniciais, exigiram a utilização complementar de metodologias qualitativas, uma vez que se pretendia aceder a significações através das “vozes” dos participantes. Definida a satisfação sexual como ponto nodal da presente investigação, e em coerência com o Modelo Ecossistémico de Bronfenbrenner, foram, então, consideradas variáveis relativas a diferentes níveis ecossistémicos: individual (insatisfação corporal e distração cognitiva, disfunções/problemas sexuais), microssistémico (satisfação relacional no casal), mesossistémico (satisfação conjugal com áreas mais distais da vida conjugal, tais como a família de origem e a rede social), macrossistémico (género), e cronossistémico (situação relacional (casamento ou coabitação), duração da relação e filhos). Na etapa inicial desta investigação, realizámos dois estudos quantitativos que pretendem contribui para o processo de adaptação e de validação de dois instrumentos para a população portuguesa: a Escala de Perceção da Imagem Corporal, uma versão da Contour Drawing Rating Scale (artigo 1 - Processo de validação de uma versão modificada da Countour Drawing Rating Scale); e a Global Measure of Sexual Satisfaction (artigo 2 - Processo de validação da Global Measure of Sexual Satisfaction em três amostras da população Portuguesa). Posteriormente, realizámos 4 estudos empíricos, o primeiro com uma metodologia qualitativa e os três seguintes com uma metodologia quantitativa: Estudo qualitativo onde se procurou compreender, através das “vozes” dos participantes, significações de satisfação sexual (artigo 3 - What is sexual satisfaction? Thematic analysis of lay people's definitions). Através da análise temática de 760 respostas escritas à questão: “Como define a satisfação sexual?” encontrámos um mapa temático rico, com descrições caracterizadas pelo grande ênfase colocado em processos diádicos e componentes de bem-estar. Este trabalho revelou que a satisfação sexual é um construto semelhante para homens e mulheres caracterizado por sentimentos positivos e que não se define pela ausência de problemas ou sofrimento. Estudo quantitativo com o objetivo de averiguar o contributo da satisfação em diferentes áreas da vida conjugal na satisfação sexual de homens e mulheres de uma amostra comunitária (artigo 4 - Digging deeper: which specific relationship areas are predictors of sexual satisfaction?). Os nossos resultados indicam que a satisfação com a intimidade emocional e com as caraterísticas físicas são dimensões fundamentais para a satisfação sexual dos participantes de ambos os géneros. Nas mulheres, o número de filhos aparece também como uma variável preditora positiva da satisfação, salientando a associação entre o número filhos e a satisfação relacional nas mulheres de educação superior. Estudo quantitativo com o objetivo de analisar o impacto de variáveis relacionais e individuais na distração cognitiva durante a atividade sexual, considerando diferenças entre homens e mulheres (artigo 5 - Predictors of body appearance cognitive distraction during sexual activity in men and women). Os nossos resultados com uma amostra de participantes numa relação diádica de exclusividade e coabitação mostraram que, apesar de semelhanças entre homens e mulheres ao nível das variáveis preditoras individuais, a influência das variáveis relacionais só é preditora da distração cognitiva com a aparência corporal no grupo das mulheres. Neste grupo, é a satisfação com a perceção da opinião do parceiro que tem esse impacto. Estudo quantitativo que pretendeu analisar o impacto de variáveis relacionais e individuais na satisfação sexual de participantes com diagnóstico ou auto-perceção de problemas de excitação e interesse sexual, considerando diferenças entre homens e mulheres (artigo 6 - Individual and relationship predictors of sexual satisfaction on a sample of men and women with sexual arousal problems). Os resultados indicam que é uma variável relacional - a intimidade emocional - que explica uma percentagem significativa da variância da satisfação sexual em homens e mulheres. Este resultado acentua o impacto das variáveis relacionais, em detrimento das individuais, na explicação da satisfação sexual na população com problemas sexuais. Globalmente, os nossos resultados apoiam a tese de que fatores relacionais, em geral, e intimidade emocional, em particular, são centrais para a satisfação sexual conjugal, reforçando a pertinência de modelos integrativos que salientem o papel que as variáveis relacionais têm na configuração da saúde sexual, conferindo, assim, protagonismo ao contexto relacional de casal, o que constituirá um importante contributo para a definição de programas e estratégias de prevenção e de intervenção terapêutica. Saliente-se, ainda, que os nossos dados indicam que, apesar de haver alguns fatores que têm um impacto diferencial na amostra feminina, globalmente, os principais preditores da saúde sexual são bastante semelhantes, sendo as diferenças entre homens e mulheres pouco significativas. Estes resultados são consistentes com a teoria da semelhança entre os géneros, e podem ser explicados pelo fato de, ao longo do tempo de relação, as diferenças de género tenderem a esbater-se, o que tem, potencialmente, efeitos positivos na saúde individual, conjugal e sexual. O papel das variáveis relacionais na satisfação sexual masculina tem sido pouco estudado, e os nossos resultados sugerem que, na avaliação e intervenção com homens, deve enfatizar-se e perceber qual o papel diferencial que diferentes componentes da intimidade emocional (e.g. compromisso, partilha, auto-revelação, mutualidade) têm para que se possa, em contexto clínico, promover o ajustamento sexual. Pensamos que as linhas orientadoras de intervenção clínica, que já salientam a importância de avaliar as variáveis relacionais, deverão enfatizar a dimensão da intimidade e suas componentes (e.g. comunicação, partilha) como focos privilegiados de avaliação e intervenção. The study of sexuality in romantic relationships includes knowledge from several schools of thought. There is a tendency in research to separate studies focusing on sexual and individual variables, on the one hand, and studies centered around relational and contextual variables, on the other, without a consistent effort to integrate the knowledge between the two. This dissertation framed in a bioecossystemic perspective, was designed with the overall goal of contributing to the enrichment of scientific knowledge regarding sexual health and sexuality in committed relationships focusing, especially, on the role played by relational and individual variables on sexual satisfaction and function. With this in mind, the objectives of this work were to: (1) develop a better understanding, through the “voice” of the participants, of the different meanings of sexual satisfaction; (2) examine the impact of relational satisfaction and different areas of committed relationship’s life on sexual satisfaction; (3) assess the impact of relational and individual variables on cognitive distraction during sexual activity; and (4) examine the impact of relational and individual variables on the sexual satisfaction of participants with diagnosed or self-perceived sexual problems. To achieve these objectives, we recruited a community and clinical sample of heterosexual men and women who were in a romantic relationship (marriage or cohabitation without marriage) to participate in a mixed-methods survey. Gender differences and differences between participants with and without self-perceived sexual problems were examined. Our results support that relational factors, in general, and emotional intimacy, in particular, are key predictors of sexual satisfaction in committed relationships, reinforcing the relevance of integrative models that focus on the role that relational variables play in sexual health. These results highlight the couple’s relational context, constituting an important contribution for the definition of prevention programs and strategies and of therapeutical intervention.
Tipo de Documento Tese de Doutoramento
Idioma Português
Orientador(es) Narciso, Isabel, 1962-; Pereira, Nuno Monteiro, 1950-
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