Autor(es):
Luís, Sílvia Coelho Ribeiro Fernandes, 1980-
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10451/4299
Origem: Repositório da Universidade de Lisboa
Assunto(s): Psicologia social; Julgamento social; Comportamento (Psicologia); Teses de doutoramento - 2011
Descrição
Tese de doutoramento, Psicologia (Psicologia Social), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2011 A influência das normas no julgamento e comportamento dos indivíduos é um
tema desde há muito estudado pelos psicólogos sociais (e.g., Asch, 1955; Cialdini,
Reno, & Kallgren, 1990; Deutsch & Gerard, 1955; Jacobson, Mortensen, & Cialdini,
2011; Schwartz, 1977; Sherif, 1936; Terry & Hogg, 1996). A relevância da influência
normativa deriva não só da sua relevância teórica mas também do seu potencial de
aplicação na promoção do comportamento pro-social em diversos âmbitos. Não
obstante, existem problemas teóricos fundamentais que ainda não foram resolvidos.
Nesta dissertação focámos a conceptualização da influência normativa, que tem sido
frequentemente apontada como insuficiente (e.g., Armitage & Conner, 2001), e a lacuna
de investigação no âmbito das propriedades do conhecimento normativo. Em particular,
explorámos se (a) um quadro conceptual integrativo dos vários tipos de normas que têm
sido identificados na literatura capturaria melhor a influência normativa no
comportamento e se (b) o conhecimento normativo seguiria os princípios gerais de
activação e uso do conhecimento.
O objectivo fundamental desta dissertação era, pois, contribuir para o
desenvolvimento teórico da influência normativa. Para o alcançar conduzimos quatro
estudos em temas distintos: problemas ambientais, proibição de fumar, formação de
impressões, e preferências alimentares. Esta diversidade permitiu-nos simultaneamente
explorar a influência normativa em temas com diferentes implicações sociais e que
envolvem distintos factores.
O Estudo 1 (Quadro conceptual integrativo da influência normativa:
Compreensão do comportamento pró-ambiental) teve como objectivo explorar a
viabilidade e utilidade dum quadro conceptual integrativo da influência normativa na explicação do comportamento. Utilizámos uma abordagem de investigação descritiva,
em particular realizamos um estudo correlacional de inquérito por questionário (N =
114). Foram medidos os vários tipos de normas que integram o quadro conceptual:
normas pessoais (Schwartz, 1977) e normas sociais do tipo sociocultural (Pepitone,
1976), subjectivo (Fishbein & Azjen, 1975), e referente (e.g., Hogg & Turner, 1987),
distinguindo-se ainda entre a natureza descritiva e injuntiva (Cialdini et al., 1990) dos
vários tipos de normas sociais. Estas crenças normativas foram medidas em três classes
de comportamentos pró-ambientais: reciclagem, uso de transportes públicos e compra
de produtos biológicos.
A análise de resultados evidenciou que as variáveis do quadro conceptual
integrativo explicavam uma quantidade considerável da variabilidade dos
comportamentos pró-ambientais, encorajando a utilização deste quadro conceptual. Os
resultados suportaram ainda a possibilidade da quantidade de variabilidade explicada
depender da eficácia da influência normativa. Atendendo a que, em média, os
comportamentos pró-ambientais são infrequentes, a influência normativa tinha sido
considerada mais eficaz quando as crenças normativas social injuntivas e pessoais eram
elevadas. Tal como esperado, no comportamento onde se verificou uma maior eficácia
normativa (reciclagem), as variáveis normativas explicaram uma quantidade de
variabilidade comportamental superior ao comportamento onde se verificou a menor
eficácia normativa (uso de transportes públicos). As normas podem promover
eficazmente o comportamento pró-ambiental. “Basta” que nós acreditemos.
O Estudo 2 (É proibido fumar em locais públicos: Mudança de crenças
normativas) teve como objectivo ilustrar a mudança nas crenças normativas relativas a
não fumar em locais públicos com a implementação duma lei proibitiva de fumar em
locais públicos. Este estudo foi um experimento natural, o estímulo que terá desencadeado a mudança não foi controlado pelos investigadores. Recolheram-se
medidas normativas, tendo por base o quadro conceptual integrativo, através dum
inquérito por questionário (N = 204). O questionário foi aplicado em três momentos: um
mês antes, seis meses após, e um ano após a implementação da lei, aproximadamente.
A análise de resultados ilustrou que as crenças normativas que aumentaram com
maior magnitude foram as socioculturais (descritivas e injuntivas) e as subjectivas
descritivas. A utilização do quadro conceptual integrativo permitiu-nos ilustrar e
diferenciar as implicações da implementação da lei nas várias medidas normativas.
Medidas normativas relativas a estar em silêncio na biblioteca que foram
simultaneamente recolhidas não divergiram ao longo do tempo, suportando
indirectamente o facto de que o aumento das medidas normativas se relacionava com a
implementação da lei.
Importa referir que pouca investigação tem ilustrado o efeito das leis nas crenças
normativas. A compreensão destes efeitos pode ser crucial para o cumprimento das leis.
As leis não conseguem alcançar grande parte da vida quotidiana. As normas conseguem.
O Estudo 3 (Acessibilidade e aplicabilidade percebida do conhecimento
normativo) teve como objectivo explorar a acessibilidade e a aplicabilidade percebida
do conhecimento normativo relativo a traços de personalidade (concretamente, de
crenças normativas sócio-culturais descritivas) e o seu uso no julgamento. Utilizámos
uma abordagem de investigação experimental. Em particular, adaptámos a experiência
clássica de Higgins, Rholes e Jones (1977), dos efeitos de priming em impressão de
formações, adicionando uma condição de julgamento com aplicabilidade percebida
normativa (N = 144). Este estudo tinha evidenciado, pela primeira vez, como a
experiência recente dum indivíduo podia influenciar, de forma não intencional e
passiva, o julgamento dos comportamentos ambíguos de outra pessoa. Para explorar como a experiência normativa mais frequente poderia influenciar o julgamento,
adaptámos ainda uma técnica utilizada por Fazio e Williams (1986), baseada no tempo
de reacção, para medir a acessibilidade crónica do conhecimento normativo relativo a
traços de personalidade.
Globalmente, os resultados evidenciaram que os indivíduos utilizaram traços de
personalidade que tinham sido recentemente primados em julgamentos com
aplicabilidade percebida normativa e que diferenças na acessibilidade crónica do
conhecimento normativo se relacionavam com o seu uso, mas apenas quando as tarefas
tinham aplicabilidade percebida normativa.
Estes resultados sugerem que o estudo das propriedades do conhecimento
normativo é relevante e poderá ser importante para compreender o comportamento.
O Estudo 4 (É seu? Medição implícita das crenças normativas) teve como
objectivo explorar a viabilidade e utilidade de medir o conhecimento normativo
implicitamente adaptando o Teste de Associações Implícitas (TAI, Greenwald,
McGhee, & Schwartz, 1998). Escolhemos o TAI devido aos seus bons resultados de
validade, facilidade de administração e produção de efeitos robustos (e.g., Greenwald,
Poehlman, Uhlmann, & Banaji, 2009). Utilizamos uma abordagem experimental.
Têm vindo a acumular-se evidências do envolvimento de processos automáticos
na influência normativa. Por exemplo, verificou-se que o conhecimento normativo se
pode activar para influenciar o comportamento sem a intenção ou consciência do
indivíduo (e.g., Aarts & Dijksterhuis, 2003; Joly & Stapel, 2008). Uma vez que a
utilização de medidas explícitas enfatiza a intencionalidade e promove a utilização de
processos deliberados, interessa utilizar medidas implícitas para compreender a
influência normativa. O TAI foi adaptado para medir as preferências normativas implícitas relativas a
maçãs e chocolates (normas sócio-culturais injuntivas). Resultados iniciais
evidenciaram que esta medida tinha precisão e consistência interna (N = 83).
Posteriormente, verificou-se também que o TAI previa a intenção de escolha entre
maçãs ou chocolates, demonstrando a sua validade preditiva (N = 148). Assim, a
utilização duma versão normativa do TAI poderá contribuir para a compreensão da
influência normativa no comportamento.
Em suma, os resultados dos estudos sugerem que (a) um quadro conceptual
integrativo poderá capturar aprazivelmente a influência normativa no comportamento e
(b) ilustrar a forma como as mudanças sociais ocorrem. Sugerem também que (c) a
activação e uso do conhecimento normativo seguem, em parte, os princípios gerais de
activação e uso do conhecimento, podendo ter propriedades diferenciadoras, e que (d) a
influência normativa envolve processos cognitivos automáticos, interessando combinar
medidas normativas do tipo explícito e implícito para compreender a influência das
normas no comportamento. Referimos ainda que emergiram efeitos normativos nos
diferentes temas, o que sugere a potencial vastidão da influência normativa. Despite all the investigation that has been conducted in normative influence
there are still some fundamental theoretical problems that remain unsolved. We have
focused on normative influence conceptualization, which has often been pointed out as
being insufficient, and on the lack of research on the properties of normative
knowledge. In particular, we explored as to whether (a) an integrative framework would
better capture normative influence and (b) normative knowledge followed the same
principles of activation and use as other types of knowledge.
Four studies were conducted in distinct themes: environmental problems,
smoking prohibition, impression formation and food preferences. Theme choice had its
own theoretical relevance. Such diversity has allowed us to simultaneously explore if
normative influence would operate in contents involving a different array of factors.
Studies’ results have evidenced that using an integrative framework of
normative influence we could account for greater amounts of behavior variability that
those generally accounted for (Study 1). The use of the integrative framework in a
natural experiment has also allowed us to illustrate how normative variables have
changed after a smoking in public places ban (Study 2). Exploring normative
knowledge principles of activation and use we have demonstrated, through an
experimental study, that variations in the accessibility of normative knowledge towards
personality traits were related to its use in judgments with normative judged usability
(Study 3). Furthermore, a normative version of the Implicit Association Test adequately
measured implicit normative preferences towards apples versus candy bars and
predicted intentional choice, sustaining the involvement of automatic processes in
normative influence in behavior (Study 4). Taken together, these studies have provided support for the use of an integrative
framework of normative influence and for a stronger investment in normative
knowledge activation and use research. Theoretical implications, practical
considerations, and future avenues are discussed throughout the dissertation.