Autor(es):
Jorge, Marco André Gaspar
Data: 2009
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10451/3209
Origem: Repositório da Universidade de Lisboa
Assunto(s): Vale do Rio Côa (Portugal); Bacia hidrográfica; Geomorfometria; Geomorfologia fluvial; Perfil longitudinal; Integral hipsométrica; Quaternário
Descrição
Relatório de projecto no âmbito de Bolsa Universidade de Lisboa/Fundação Amadeu Dias (2008/2009) Universidade de Lisboa, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) Trabalho integrado no projecto “Territórios de Foz Côa”, componente
do “Projecto Museológico do Vale do Côa” (Universidade de Lisboa) A bacia hidrográfica do rio Côa situa-se quase integralmente na Meseta Norte, no NE da
Beira. É uma bacia com 2520 km2, predominantemente granítica (73%) e metassedimentar (24%),
cujas superfícies aplanadas foram rejuvenescidas pela morfogénese fluvial quaternária, em resposta ao
levantamento epirogénico dos terrenos. São objectivos deste trabalho: definir as altitudes em que os
planaltos dominantemente se situam (parte I); estudar os factores condicionantes do estádio evolutivo
da hipsometria adimensional (integral hipsométrica) e dos perfis longitudinais dos talvegues principais
de 25 sub-bacias, e a sua distribuição espacial (parte II); e analisar a influência das condições
litológicas na morfometria do terreno (rugosidade topográfica) e na rede de drenagem (densidade de
drenagem e densidade hídrica) (parte III). Utilizam-se técnicas automáticas e semi-automáticas,
dominantemente análise espacial e modelação espacial em ambiente SIG aplicada à informação
altimétrica digital SRTM 3 segundos de arco.
Identificou-se um gradiente geomorfométrico S-N, sentido no qual a rugosidade topográfica
aumenta e a altitude média diminui. O gradiente da rugosidade topográfica deve-se: (i) à variação
espacial do potencial morfogenético dos cursos de água (aumenta para norte); (ii) provavelmente, ao
estádio de evolução da propagação N-S dos “impulsos morfogenéticos” desencadeados pela descida
do nível de base do rio Côa; (iii) à complexidade morfotectónica do sector NW da bacia, que é
atravessado pelo “morfologicamente expressivo” sistema de falhas Bragança-Manteigas. A sobreelevação
dos terrenos a SW, associada ao levantamento da Serra da Estrela, e a subsidência dos
terrenos a norte, relacionada com o balançamento da Meseta para NW, explica parte importante do
gradiente altimétrico. Os planaltos, obedecendo àquele gradiente altimétrico, situam-se em dois
intervalos altimétricos principais: a montante do alinhamento de relevos da Marofa localizam-se
principalmente no intervalo 710-830m; e a jusante, no intervalo 460-510m. O alinhamento quartzítico
ordovícico parece ter tido um papel activo na génese destas características. A influência da litologia na
rugosidade é reduzida, relativamente à morfogénese fluvial.
Os terrenos graníticos são menos rugosos que os terrenos metassedimentares. A maior
densidade de vales das áreas metassedimentares é a causa da sua maior densidade de vales. A rede de
drenagem é mais densa nos terrenos graníticos devido essencialmente a maior número de linhas de
água de ordem reduzida.
Na bacia do Côa, o estádio evolutivo da hipsometria adimensional das sub-bacias é
determinado principalmente pelo estádio evolutivo (integral) dos PL dos cursos de água principais
(mais longos) que as drenam, o que tem de se entendido à luz da reduzida variabilidade altimétrica do
terreno da bacia do Côa. A diversidade espacial da magnitude da descida relativa do nível de base e da
erosividade dos cursos de água será a causa principal da inexistência de uma relação linear entre o
encaixe fluvial e a integral hipsométrica. A interacção entre a variação espacial da taxa e/ou duração
do levantamento tectónico, da capacidade de ajuste da rede hidrográfica, da influência das rupturas de
declive regressivas (desequilíbrio do PL relativamente ao nível de base) na morfologia dos perfis longitudinais, e o condicionamento da litologia em vários aspectos (e.g., na erodibilidade do terreno e
na génese de rupturas de declive de equilíbrio), são os factores mais importantes para explicar a
variação espacial da morfometria dos perfis longitudinais. Em igualdade dos restantes factores, a
relação entre o potencial morfogenético (capacidade de ajuste) de determinada bacia e da bacia para a
qual drena o curso de água principal daquela é o factor principal para perceber a variação espacial do
estádio evolutivo do perfil longitudinal.