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Hiperonirismo e a microestrutura do sono : análise de microdespertares, movimen...

Autor(es): Rebocho, Sofia Bento, 1983- cv logo 1

Data: 2010

Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10451/1926

Origem: Repositório da Universidade de Lisboa

Assunto(s): Sono; Medicina do sono; Sonhos; Sono REM; Fases do sono; Transtornos do sono; Teses de mestrado - 2010


Descrição
RESUMO Introdução: O hiperonirismo é uma queixa frequentemente encontrada em clínicas de sono, em vários tipos de patologias, mas é um sintoma que tem merecido pouca atenção. Pode ser definido como a experiência subjectiva de vivência ou recordação de sonhos nocturnos excessivos, com consequente diminuição da qualidade do sono; este sonhar excessivo deve ser para além do mais frequente e persistente no tempo. Uma vez que frequência da recordação onírica tem sido associada com o nível de activação cerebral (AIM Model - Hobson), foi feita uma análise da microestrutura do sono nestes doentes, uma vez que esta pode fornecer correlações de maior activação cerebral. Foi também avaliado o historial clínico destes doentes de modo a traçar de modo objectivo as características clínicas do indivíduos com hiperonirismo. Objectivos: Avaliar e descrever as características clínicas e demográficas dos doentes com hiperonirismo, bem como comparar as alterações da macro e microestrutura do sono nestes indivíduos, em comparação com um grupo normal. Metodologia: O estudo foi dividido em duas partes. Na primeira parte do estudo foram incluídos 32 pacientes com queixas dominantes sobre os sonhos (10 homens e 22 mulheres), com idades compreendidas entre os 25 e os 73 anos (42,8 ± 14,1). Foram analisados os processos clínicos destes doentes, bem como vários questionários, que incluiram um questionário geral sobre o sono (CENC), a escala de Epworth, o questionário de qualidade de sono de Pittsburgh (PSQI), o SCL-90 e um questionário de frequência onírica. A análise dos questionários foi baseada em estatística descritiva e os resultados obtidos foram comparados com dez indivíduos normais (PSQI˂ 5 e Epworth ˂ 10) através do teste de Fisher e do teste de Mann-Whitney. Na segunda parte do estudo, foram analisadas as polissonografias de dez doentes com queixas de hiperonirismo (HO) e dez indivíduos normais (N), sendo cada grupo constituído por 4 homens e 6 mulheres, com idades compreendidas entre os 28 e 58 anos. Procedeu-se à análise em ambos os grupos da macroestrutura (TTS, ES, LS, LS REM, N1, N2, N3 e REM) e da microestrutura do sono (despertares, microdespertares, movimentos oculares rápidos, sono alfa-delta e movimentos periódicos do sono). Para avaliar as diferenças entre os dois grupos foram usados o teste de Mann-Whitney e o teste de Fisher (valores significativos p<0,05). Os pacientes com síndromas de dor crónica, distúrbio de comportamento do sono REM, índice de apneia/hipopneia> 5/h, epilepsia, terrores nocturnos, narcolepsia e que apresentavam consumo de drogas ilícitas e uso de fármacos com acção no sistema dopaminérgico foram excluídos. Resultados: Em relação à primeira parte do trabalho, foram encontradas diferenças significativas em relação às cefaleias (HO= 20 vs N= 2; p=0.03), stress (HO= 16 vs N= 1; p=0.03) e ansiedade (HO= 21 vs N= 1; p= 0.00). Todos os indivíduos com hiperonirismo referiram fadiga diurna, enquanto que no grupo de controlo apenas foi referida por três indivíduos. Os primeiros apresentaram ainda resultados mais elevados em relação ao PSQI (HO= 10,8 vs N= 2,9; p= 0.00) e à escala de Epworth (HO= 9,6 vs N= 2,4; p= 0.00), existindo diferenças significativas entre os dois grupos. O questionário de frequência onírica mostrou ainda diferenças em relação à frequência dos sonhos (HO= 84,3% sonha quase todas as manhãs e 15,7% várias vezes por semana. No grupo de normais 10% referiram sonhar menos de uma vez por mês; 50% uma vez por mês e 40% duas a três vezes por mês). Em relação à positividade/negatividade e realismo dos sonhos os resultados foram semelhantes, aparentando apenas terem maior grau de criatividade e intensidade. Na segunda parte do trabalho, não foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos em relação à eficiência do sono (HO= 90,2 vs N= 91,4; p= 0.677), latência do sono (HO= 15,2 min vs N= 12,1; p= 0.289), latência do sono REM (HO= 113 min vs N= 99 min; p= 0.290). Em relação à duração percentual das diferentes fases do sono também não se encontraram diferenças significativas (N1: HO= 8,9% vs N= 7,2%, p= 0.515; N3 : HO= 15,3% vs N= 16,4%, p= 0.647; REM: HO= 22% vs N= 19%; p= 0.224), excepto para a fase N2 (HO= 53,8% vs N= 57,6%; p= 0.04). A análise da microestrutura do sono revelou diferenças significativas entre os dois grupos relativamente aos despertares (HO= 22,1 vs N= 14,5; p= 0.005), microdespertares (HO= 9,5/h vs N= 4,5/h; p= 0.000), movimentos periódicos do sono (HO= 1,98/h vs N= 0,48/h; p= 0.000) e densidade REM (HO= 8,36/h vs N= 5,34/h; p= 0.001). Verificou-se a presença de sono alfa-delta em quatro dos indivíduos (40%), não se registando nenhum caso nos indivíduos normais. Conclusões: Os resultados indicam que as queixas relacionadas com o sonhar excessivo são um problema clinico real, que afecta o dia-a-dia destes pacientes. Ao serem comparados com os indivíduos normais, verificou-se um conjunto de sintomas relacionados com fadiga e com uma privação parcial do sono. Enquanto a macroestrutura do sono parece não apresentar grandes alterações nos pacientes com queixas de hiperonirismo, a análise da microestrutura do sono, nomedamente dos despertares, microdespertares e densidade REM, revelou diferenças significativas entre os dois grupos, o que pode contribuir para uma fragmentação do sono e excesso de memórias oníricas com consequente redução da qualidade do sono. Os movimentos periódicos do sono, embora apresentem diferenças significativas entre os dois grupos, estavam dentro dos parâmetros da normalidade, e por isso não podem ser considerados como um mecanismo patogénico para esta queixa. ABSTRACT Introduction: Excessive dreaming is a complaint frequently found in sleep laboratories in several kinds of pathologies and is often an undervalued symptom in most of the cases. There is no objective description for the problem and little importance is given to the implications that such disorder brings to the daily life of the patients. It can be defined has a subjective experience or recall of excessive dreaming, with consequent reduction of sleep quality; this dreaming has to be frequent and persisting. Considering that the frequency of oneiric memories has been associated with the level of brain activation (AIM Model), a sleep microstructure analysis was carried out knowing that it would bring more brain activation correlations (e.g. Presence of microarousals, alpha band intrusions). The clinical files of patients having as primary complaint excessive dreaming were also evaluated, so that it could be possible to objectively describe the clinical features of these patients. Objectives: To evaluate and describe clinical and demographic features of patients who attended CENC’s lab having as primary complaint excessive dreaming, along with the changes of sleep macro and microstructure in these individuals comparing them with normal controls. Methodology: The study was divided into two parts. In the first, the sample included 32 patients (10 men and 22 women), aged from 25 to 73 years (42.8 ± 14.1) whose dominant complaints were related to dreaming (ED). Clinical files were duly analysed as well as several questionnaires answered by the patients. These questionnaires included a general questionnaire on sleeping (CENC), a questionnaire on dream frequency, the Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI), Epworth Sleepiness Scale (ESS) and the Symptom Check-List-90 (SCL-90). The analysis of such questionnaires was based on descriptive statistics and the results obtained were then compared with a control group of 10 healthy subjects (N) by means of the Qui-Square test with the Fischer test and Mann-Whitney test. In the second part of the study, Polysomnographies of two groups of 10 subjects (4 men and 6 women) aged between 28 and 58 years were analysed. One of the groups included individuals with excessive dreaming complaints (ED) and the other group included normal subjects (N) with no complaints (Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI) <= 5, Epworth Sleepiness Scale (ESS) <10). Sleep latency and efficiency, REM latency, N1, N2, N2 and REM percentages, awakenings, arousals, alpha delta sleep, periodic limb movements and REM density were analysed. The differences between the two groups were evaluated by means of the Mann-Whitney test and by applying the Qui-Square test with Fischer test (p value <0,005). Patients with chronic pain syndromes, suspicious of obstructive sleep apnea (AIH ˃ 5/h), epilepsy, night terrors, narcolepsy and individuals consuming illicit drugs or drugs acting in dopaminergic system, were excluded in both groups. Results: Into the first part of the study, significant differences between the two groups were found, regarding to headaches (ED= 20 Vs N= 2; p=0.03), stress (ED= 16 Vs N= 1; p=0.03) and anxiety p=0.00). Fatigue was mentioned by all patients with excessive dreaming (ED= 32 Vs N=3). These patients also presented a higher score in the PSQI (ED= 10.81 Vs N= 2.90; p=0,00) and ESS (ED= 9.59 Vs N= 2.40; p=0,00) questionnaires being considerably different between the two groups. The questionnaire on oniric frequency, also showed differences in dream frequency (ED = 84,3% dreamed almost every day and 15,7% dreamed several times per week. The normal group = 10% dreamed less than once a month; 40% 2 or 3 times a month; 50% once a month). There seemed to be no differences for dream positiveness/negativeness and realism, but the results showed a higher level of creativity and intensity in the study group. In the second part, regarding to sleep efficiency (ED= 90.2% Vs N= 91.4%; p= 0.677), sleep latency (ED= 15.21min Vs N= 12.12; p= 0.289) and REM sleep latency (ED= 113 min Vs N= 99 min; p=0.290), there are no statistically significant differences between the two groups. The duration and percentages of the sleep stages, were also not significantly different, except for N2 (ED= 53.8 Vs N= 57.6; p=0.04). In sleep microstructure, there were considerable differences between the two groups in relation to arousals (ED= 9.5/h Vs N= 4.5/h; p= 0.00), awakenings (ED= 22.1 Vs N= 14.5; p= 0.005), periodic limb movements (ED= 1.98/h Vs N= 0.48/h; p= 0,00) and REM density (ED= 8.36/h Vs N= 5.34/h; p=0.001). Alpha-delta sleep was present in 40% of the patients and in none of the controls. Conclusions: The results indicate that excessive dreaming complaints are a real clinical problem which affects the daily life of the patients. The differences relative to normal subjects configure a cluster of symptoms among which fatigue and symptoms related to partial sleep deprivation are present. While sleep macrostructure appears to be unchanged for the patients with excessive dreaming complaints, the sleep microstructure analysis revealed significant differences between the two groups, which may contribute to sleep fragmentation and the excess of oniric memories with the consequent reduction of sleep quality. Periodic limb movements although different between groups were within normal range, and therefore cannot be considered as a pathogenic mechanism for this complaint.
Tipo de Documento Dissertação de Mestrado
Idioma Português
Orientador(es) Paiva, Teresa, 1945-
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