Autor(es):
Monteiro, Pedro Miguel Pereira
Data: 2013
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.14/13266
Origem: Veritati - Repositório Institucional da Universidade Católica Portuguesa
Descrição
A nossa proposta, Ordem, Caos e Percepção – Modelo teórico e analítico para Lux
aeterna de György Ligeti, é baseada em três grandes eixos. No primeiro, apresentamos uma
reflexão especulativa sobre as relações, lineares e não lineares, que fundam e orientam a
percepção do objecto musical em níveis dimensionais e analíticos. No segundo, estabelecemos
o exemplo que serve de referência ao nosso estudo, Lux aeterna, determinando e
contextualizando a nossa metodologia de análise. Daí partimos para uma análise formal
detalhada, baseada na percepção, e estabelecida desde a sua superfície audível, delimitada
pelos conceitos de macro e micro estrutura. Finalmente, no terceiro, apurando as limitações
dos modelos analíticos tradicionais, fazemos uso do nosso próprio modelo teórico, revelando a
estrutura da obra, a partir da iteração fractal de um único movimento - arsis-thesis - em toda a
sua forma. Em consequência, o terceiro eixo oferece mais do que uma conclusão. Para além de
apurar uma síntese da informação recolhida, nele configuramos um novo modelo de análise o
qual tem em conta, não só a especificidade da percepção, desde o evento à forma, mas a
materialidade específica da própria música. Por isso, esta materialidade, como fenómeno
sonoro, contemplada através dos seus processos estruturais próprios, exclusivamente musicais,
depende das circunstâncias específicas da sua experiência, decorrendo naturalmente do
espaço-tempo que a enquadra.
A inspiração básica do trabalho proposto advém, pois, de uma abordagem duplamente
interdisciplinar. Por um lado, cruza diversos ramos do conhecimento científico,
designadamente, as ciências exactas com a matemática, a física, a Teoria do Caos ou a
topologia, mas também a própria teoria e análise musicais, de onde faz emergir um novo
conjunto de conceitos e uma metodologia inovadora. Por outro, procura entender a música
como uma actividade prática mas necessariamente teórica, uma vez que, ao músico, como artista, é indispensável o conhecimento do objecto da sua obra, do seu processo criativo e da
reflexão sobre o que lhe serve de suporte.
Neste sentido, é relevante a experiência directa da materialidade da obra, através da sua
audição. Todavia, como fica demonstrado no exemplo prático da preparação de uma ensaio
para a obra, a teoria fundamenta uma análise que, por sua vez, se torna eficaz e reveladora do
conjunto de processos que descrevem as relações de complexidade entre o resultado audível
do objecto sonoro e o seu processo, relevando a quem ouve, activa ou passivamente, a beleza
de ambos.
Decorrente deste facto, vemos como Lux aeterna levanta um conjunto de questões
teóricas e analíticas, relacionadas com a sua complexidade estrutural. De resto, estes
problemas não são verificados apenas nesta obra mas num vasto domínio de sistemas
dinâmicos, humanos e naturais. Esta complexidade, abordada na Teoria do Caos, resulta não
apenas do objecto musical, em si, mas também, e sobretudo, das características
intrinsecamente complexas advindas da sua percepção, nas quais se separam, pela natureza do
mecanismo conceptual, processo e resultado.