Author(s):
Fraga, Luís Alves de
Date: 2014
Persistent ID: http://hdl.handle.net/11144/475
Origin: Camões - Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa
Subject(s): Capitalismo; Portugal; Liberalismo; Absolutismo; Agricultura; Indústria; Défice
Description
O texto que se segue resulta de uma reflexão breve sobre o processo social
português e a formação de fortunas capazes de enfrentar os desafios de um século todo
ele virado, no estrangeiro, para o desenvolvimento industrial aproveitando as
descobertas tecnológicas apoiadas no desabrochar do conhecimento científico
verificado, na Europa, no século XVIII.
Portugal, geograficamente, é um paradoxo: quem vem por mar e do Sul chega
primeiro à Europa logo que põe pé em terras nacionais; todavia, para quem está na
Europa, Portugal é o fim do Velho Continente. Ora, acontece que o desenvolvimento
técnico não foi importado, ou seja, não chegou por via marítima aos grandes centros
urbanos europeus; ele foi gerado nos grandes centros e fixou-se no continente, sendo
que a sua exportação para o mundo se fez a partir dos portos marítimos franceses,
ingleses e, mais dificilmente, alemães. Os Pirenéusserviram, para Espanha e Portugal,
durante o final do século XVIII e todo o século XIX, de barreira ao avanço dos novos
saberes que só interessaram a uma elite intelectualrestrita. A Península Ibérica foi como
que, para a Europa desenvolvidado século XIX, uma antecâmara do Norte de África. E
acresceu a essa travagem geográfica do conhecimento o facto de, culturalmente, a
Espanha e Portugal estarem espartilhados na culturacatólica governada por um clero
temeroso da toda a modernidade. O contágioideológico fez-se ao arrepio da Igreja e,
por isso mesmo, sempre eivado, em Portugal, de preconceitos conservadores por
estarem contaminados por duas concepções distintas: o absolutismo real e a
preponderância de um clero retrógrado. E isto percebe-se logo em 1820 — aquando da
Revolução Liberal — através da incapacidade de impor o novo regime separado da
religião e do rei. De tal forma assim foi, que a prevalência Liberal, depois de 1834, se
faz ao abrigo de uma Carta Constitucional outorgadapelo rei que estabeleceu o poder
moderador na sua pessoa — uma verdadeira contradição do Liberalismo que deveria
negar os laivos de um absolutismo que, afinal, imperou até 1910, data da mudança de
regime em Portugal.