Description
Os autores submetem 1112 estudantes (628 raparigas e 484 rapazes) da área urbana
do Porto e de idades compreendidas entre 10 e 19 anos inclusive a três textos por eles concebidos, procurando estudar respectivamente os conflitos autonomia-dependência, obediência/desobediência, ideais intra--extrafamiliares.Os resultados desta investigação revelam inequivocamente a importância das modificações sofridas durante o processo adolescente pelo aparelho psíquico no que diz respeito aos conflitos desejo de autonomia-dependência, obediência desobediência, assim como entre os ideais intra-extra-familiares. Estas modificações no aparelho psíquico do adolescente traduzem um aumento da capacidade deste em suportar o atenuar das ligações afectuosas adolescente-progenitores e remodelações a nível da super-ego e do ideal do ego no sentido de os tornar menos pesados, isto em inter-relação actual com oprogenitor que no passado serviu de base as identificações pós-edipianas que os estruturam. O desejo de autonomia na adolescência aparece neste estudo como profundo e precoce, antecedendo cronologicamente o processo de diminuição da tendência para obedecer e idealizar o progenitor do mesmo sexo. Como diferença entre os dois sexos temos o facto de no sexo masculino este processo ter um aspecto progressivo, a desidealização precedendo a capacidade de desobedecer, enquanto que no sexo feminino a ordem de precedência se inverte e o processo tem um aspecto mais brusco.
O facto do processo intrapsíquico favorecendo o desejo de autonomia, desidealização e desobediência se fazer na mulher em relação com as identificações primárias e secundárias
que tiveram sempre a mãe como modelo privilegiado, a diferença do homem que teve o pai como modelo de identificação secundária, estará eventualmente na base desta diferença. O processo de autonomia do adolescente do sexo feminino em relação aos progenitores terá que ser feito em conflito com um super-ego e ideal do ego fundamentalmente maternais e, consequentemente, vividos como favorecendo a dependência. No adolescente do sexo masculino o processo de autonomia em relação aos progenitores terá que vencer resistências de um super-ego e ideal do ego organizados em torno das idêntificações secundárias fundamentalmente estruturadas em torno do
objecto paternal. Assim, no sexo feminino as identificações secundárias têm tendência
a reforçar as primárias enquanto que no sexo masculino têm tendência a mediatizá-
-1as.Um mais completo esclarecimento destas diferenças necessitará de estudos transculturais que permitam detectar a eventual contribuição de elementos culturais para
explicar a referida diferença entre sexos.
Entretanto ficam demonstradas as profundas modificações da adolescência no que diz respeito ao desejo de autonomia e a remodelação das instâncias ideais e normativas, super-ego e ideal do ego, que mutuamente se potencializam para permitir ao adolescente assumir o processo real de autonomia superando os conflitos intrapsíquicos e intrafamiliares