Autor(es):
Lima, Maria Luísa
Data: 1993
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.12/1646
Origem: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Descrição
Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa O risco sísmico é uma das maiores ameaças naturais a que está sujeito o nosso país. Neste trabalho procura-se esclarecer os processos cognitivos implicados na percepção do risco sísmico, caracterizando a sua articulação com as estratégias individuais de preservação da saúde mental e a sua dependência das formas de pensamento social dos grupos em que os indivíduos se inserem. Nessa perspectiva, procura-se compreender, do ponto de vista da Psicologia Social, a aparente irracionalidade do comportamento humano que, tendo consciência da sua vulnerabilidade face ao perigo sísmico, não age no sentido de se prevenir ou proteger.
Começa-se por mostrar que a forma como os indivíduos pensam sobre os riscos, e especificamente sobre o risco sísmico, é muito diferente da forma como os mesmos riscos são analisados e definidos pelos técnicos. Caracteriza-se, através de um estudo empírico, as três dimensões estuturantes do pensamento social sobre os riscos (Conhecimento, Controlabilidade e Envolvimento Pessoal) e o posicionamento do risco sísmico nessa estrutura perceptiva: é um risco caracterizado como conhecido, incontrolável e objecto de elevado envolvimento pessoal.
Analisa-se depois as alterações que a percepção do risco sísmico sofre em função de dois tipos de motivações decorrentes de níveis de análise diferentes: a necessidade de manutenção de uma identidade sócial positiva, e a necessidade de preservação do sentimento de bem estar individual. Mostra-se, no primeiro estudo do Capítulo 3, que os indivíduos com uma identificação forte com a região sísmica onde vivem, apresentam imagens dos sismos muito diferentes das dos indivíduos com uma fraca identificação regional: enquanto que os primeiros apresentam um dicurso objectivo, factual e activo sobre este fenómeno, os segundos associam os sismos a emoções negativas e paralisantes. No segundo estudo apresenta-se evidência do desenvolvimento de ilusões positivas face aos sismos em indivíduos que vivem em zonas mais ameaçadas por este fenómeno. Estas ilusões positivas caracterizam-se por percepções acrescidas de controlo face a este desastre, percepções de maior competência pessoal e percepção de uma maior invulnerabilidade pessoal, e têm como função preservar a saúde mental dos indivíduos em situação de ameaça continuada.
A importância do controlo percebido, que ressalta dos estudos empíricos dos Capítulos 2 e 3, é retomada no Capítulo 4 deste trabalho. Procura-se mostrar a existência de crenças sociais de controlo, associadas ao pensamento dos diversos grupos sociais, a que os indivíduos recorrem em situação de ameaça percebida. Caracteriza-se três tipos de crenças sociais de controlo (religiosas, científicas e políticas) e mostra-se a sua relação com as inserções sociais dos sujeitos (Estudo 1) e com o aumento da ameaça sísmica percebida (Estudo2).
Por fim (Capítulo 5), mostramos experimentalmente que estas crenças sociais de controlo são espontaneamente activadas em situação de ameaça sísmica percebida. A demonstração desta activação espontânea das crenças sócias de controlo ilustra bem a importância da socialização grupai no comportamento individual, em situações em que as possibilidades de actuação directa dos sujeitos são muito limitadas: contribui para diminuir o stress individual causado pela exposição a um perigo incontrolavei, e, simultaneamente, reforça a ligação do indivíduo aos valores do grupo.
Discutem-se, depois, as implicações do conjunto dos 7 estudos empíricos que este trabalho inclui para a compreensão do comportamento dos indivíduos face aos sismos, e para o desenvolvimento de estratégias de prevenção civil adaptadas às preocupações e necessidades dos indivíduos.