Autor(es):
Daniel, João Rodrigo
Data: 2010
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.12/1111
Origem: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Assunto(s): Etologia; Ethology
Descrição
Tese de Doutoramento em Psicologia Aplicada (Etologia) apresentada ao Instituto Superior Psicologia Aplicada O grupo de pares é um dos principais contextos de desenvolvimento da criança
durante a idade pré-escolar. Contudo, a maioria dos estudos sobre o desenvolvimento social
da criança focam-se na procura de características individuais negligenciando os
constrangimentos relacionais inerentes à ecologia do grupo de pares. A abordagem da
etologia social, por contraponto, enfatiza a existência de diferentes nichos sociais que
influenciam/constrangem o comportamento dos indivíduos, sugerindo que as diferenças
individuais devem ser compreendidas à luz das relações diádicas e dos papéis sociais
ocupados no interior do grupo de pares.
Os trabalhos empíricos aqui apresentados são uma tentativa para estabelecer uma
ligação entre estas duas tradições de estudo das relações afiliativas em crianças de idade préescolar.
Partindo de uma amostra de 247 crianças Portuguesas, provenientes de 19 salas de
aula diferentes, algumas das quais observadas em dois ou três anos consecutivos, foram
analisados num primeiro estudo os padrões colectivos de proximidade social. Através da
análise hierárquica de clusters da semelhança dos perfis de associação diádicos, em cada uma
das salas, foram identificados três tipos de subgrupos afiliativos: (a) subgrupos em que as
crianças para além de apresentarem perfis de associação semelhantes partilham, ainda, uma
elevada proximidade mútua; (b) subgrupos de crianças com perfis de associação semelhantes,
mas que tendem a não passar muito tempo juntas (baixa proximidade mútua); e (c) crianças
não agrupadas. Diferenças significativas no viés intra-grupo para medidas comportamentais e
sociométricas indicam que os subgrupos identificados não são meros artefactos estatísticos e
que os diferentes tipos de subgrupos (elevada proximidade mútua vs. baixa proximidade
mútua) são funcionalmente distintos.
No segundo estudo, e recorrendo a desenvolvimentos recentes no campo da análise de
redes sociais, analisaram-se os processos estruturais que estarão, potencialmente, na origem e
desenvolvimento das estruturas afiliativas dos grupos de pares em crianças de idade préescolar.
Os resultados deste estudo mostram que as relações afiliativas, nas 19 salas de aula,
são altamente recíprocas, estabelecidas preferencialmente entre crianças do mesmo sexo e
com a tendência para a criação de tríades transitivas. Estes resultados ajudam a compreender a
existência dos subgrupos afiliativos identificados no primeiro estudo.
No último estudo investigou-se a relação entre os níveis individuais de competência
social e o tipo de subgrupo a que as crianças pertencem. A competência social foi avaliada
tendo por base sete indicadores diferentes agrupados em três famílias distintas – motivação
social e envolvimento, perfis de atributos comportamentais e psicológicos e aceitação de
pares. As crianças pertencentes aos subgrupos mais coesos (elevada proximidade mútua)
foram as que apresentaram níveis mais altos de competência social, enquanto as crianças não
agrupadas eram geralmente menos competentes que os seus pares. Estes resultados sugerem
que a pertença a um subgrupo mais coeso, entre outros factores, pode contribuir para um
desenvolvimento social mais ajustado.
Em suma, os trabalhos empíricos apresentados adoptam uma abordagem multi-método
na tentativa de melhor compreender as estruturas afiliativas dos grupos de pares de crianças
em idade pré-escolar, e o modo como estas estruturas se relacionam com o desenvolvimento
da competência social. ---------- ABSTRACT ---------- The peer group is one of the main contexts for the development of preschool children.
Nevertheless, most studies on child social development focus on individual characteristics
neglecting the relational constraints inherent to peer group ecology. On the other hand, the
social ethology approach emphasizes the existence of different social niches that
influence/constrain individual behavior, stating that individual differences should be
understood in the light of dyadic relationships and the social roles occupied within the peer
group.
The empirical works here presented are an attempt to establish a bridge between both
traditions in the study of preschool children affiliative relationships. With a sample of 247
Portuguese children from 19 different classrooms, some of which were observed in two or
three consecutive years, the collective patterns of social proximity were analyzed in the first
study. Through the hierarchical cluster analysis of dyadic association similarity profiles, in
each classroom, three types of affiliative subgroups were identified: (a) subgroups in which
children besides having similar association profiles also share high mutual proximity; (b)
children’ subgroups with similar association profiles but that do not tend to spend a lot of
time together (low mutual proximity); and (c) ungrouped children. Significant differences
found for in-group bias of behavioral and sociometric measures indicate that the identified
subgroups are not mere statistical artifacts and that the different types of subgroups (high
mutual proximity vs. low mutual proximity) are functional distinct.
In the second study, recent developments in the field of social network analysis were
used to investigate potential structural processes in the origin and development of affiliative
structures in preschool peer groups. The results of this study show that the affiliative relations
in the 19 classrooms were highly reciprocal, sex segregated and with a tendency to create
transitive triads. These results help to explain the existence of the affiliative subgroups
identified in the first study.
In the last study the relation between individual levels of social competence and the
type of affiliative subgroup to which children belong was assessed. Social competence was
evaluated using seven different indicators, grouped into three distinct families – social
motivation and engagement, profiles of behavioral and psychological attributes and peer
acceptance. Children belonging to more cohesive subgroups (high mutual proximity) were the
ones who presented higher levels of social competence, while ungrouped children were
generally least competent than their peers. These results suggest that belonging to a more
cohesive subgroup, among other factors, can contribute to a better social development.
In sum, the empirical works here presented adopt a multi-method approach in an
attempt to better understand the affiliative structures of preschool peer groups, and the way
these structures relate to social competence development.