Autor(es):
Juhos, Csongor
Data: 2009
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.12/1106
Origem: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Assunto(s): Psicologia cognitiva; Modelos mentais; Raciocínio; Cognitive psychology; Mental models; Reasoning
Descrição
Tese de Doutoramento em Psicologia Aplicada (Psicologia Cognitiva) apresentada ao Instituto Superior Psicologia Aplicada Com o presente programa de investigação intentamos contribuir para o debate
teórico que se tem instalado em redor do raciocínio com afirmações condicionais na
forma ‘se , então q’. Apesar de o raciocínio a partir de afirmações condicionais, ou
simplesmente de condicionais, parecer intuitivo e fazer parte do nosso quotidiano
desde tenra idade, a sua explicação sistemática provou ser um complexo desafio
teórico.
As origens do estudo do raciocínio condicional enraízam-se na lógica
proposicional. Nesta disciplina, a relação entre duas proposições, ‘p’ e ‘q’ expressa
pela forma ‘se…, então…’, corresponde invariavelmente à implicação material
(Prior, 1990). Devido à manifesta inflexibilidade deste sistema interpretativo, a
abordagem oferecida pela lógica mostra-se insuficiente para dar conta da pluralidade
dos significados que o ‘se’ assume na linguagem natural.
A dificuldade de lidar com a natureza camaleónica das condicionais do
quotidiano não é exclusiva da lógica proposicional. Após aproximadamente meio
século de investigação psicológica, um dos poucos consensos que existem na
literatura do raciocínio condicional é a ideia de que se trata de um assunto
controverso. O estado de arte é marcado pela proliferação de explicações teóricas
destinadas a capturar o sentido do conectivo condicional (e.g., Braine & O'Brien,
1998; Cheng & Holyoak, 1985; Cosmides, 1989; Evans, 2007; Evans, Handley, &
Over, 2003; Johnson-Laird, 2008c; Johnson-Laird & Byrne, 2002; Rips, 1983).
Entre as diversas abordagens destaca-se a extensão da teoria dos modelos
mentais às condicionais. A principal vantagem desta abordagem consiste em ser
incorporada numa teoria que se aplica a uma vasta diversidade de tipos de raciocínio.
A teoria, com base num número restrito de princípio psicológicos, oferece uma
explicação da competência dedutiva, dos desvios do quadro normativo da lógica e da
influência de factores semânticos e pragmáticos sobre o raciocínio com condicionais
(Johnson-Laird, 2006, 2008c; Johnson-Laird & Byrne, 1991, 2002; Johnson-Laird,
Byrne, & Schaeken, 1992).
Johnson-Laird e Byrne (2002; Johnson-Laird, 2006, 2008) resolvem a
problemática das condicionais propondo uma interacção entre um significado nuclear
abstracto subjacente à forma condicional e um mecanismo de modulação que, em
função do significado das orações, das suas ligações co-referenciais e em função dos
conhecimentos activados, pode transformar o significado nuclear num número
indefinido de interpretações diferentes.
Esta hipótese sobre a componente interpretativa do raciocínio, que a partir
daqui será referida como a hipótese de modulação, até à data não foi devidamente
avaliada em termos empíricos. Com o presente programa de investigação
pretendemos colmatar esta lacuna. Adicionalmente, estendemos a hipótese de
modulação à componente inferencial do raciocínio e examinamos as suas
implicações sobre o raciocínio com afirmações condicionais indicativas e deônticas.
O nosso objectivo final era traçar um quadro explicativo com suporte
empírico sólido que contribuísse para a resolução do enigma das condicionais quer
ao nível interpretativo, quer ao nível inferencial.
À luz deste objectivo realizámos um programa de investigação composto por
quatro experiências. Os resultados destas experiências demonstram que (1) o
significado das orações de condicionais indicativas e deônticas modula a forma como
as pessoas interpretam a relação condicional entre elas; (2) os conhecimentos sobre
o tipo de conteúdo de condicionais (factual, deôntico) modula a representação mental
subjacente à interpretação da relação condicional; (3) a modulação semântica do
significado e a modulação pragmática dos conhecimentos sobre o tipo do conteúdo
têm um impacto poderoso e previsível sobre o desempenho inferencial com
condicionais, quer em situações em que as inferências são realizadas em tempo
ilimitado, quer em situações em que o tempo disponível é limitado.
A integração dos resultados corrobora a ideia de que as pessoas ao
compreenderem uma relação condicional pensam sobre um conjunto de
possibilidades. A composição deste conjunto depende do significado das orações e a
sua representação mental é influenciada pelos conhecimentos sobre o tipo do
conteúdo. Estas evidências corroboram a hipótese de modulação proposta no âmbito
da teoria dos modelos mentais e, juntamente com os resultados nas tarefas, permitem
avançar com refinamentos da actual teoria dos modelos mentais.