Author(s):
Viegas, João Carlos Teles Bonito
Date: 2007
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.12/1017
Origin: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Subject(s): Teste de Rorschach; Psicopatologia; Psicologia clínica; Personalidade borderline; Rorschach test; Psychopathology; Clinical psychology; Borderline personality; Instruments
Description
Dissertação de Mestrado em Psicopatologia e Psicologia Clínica Através da presente investigação procurámos aceder à natureza dos processos mentais e dos mecanismos psíquicos subjacentes ao agir, que consideramos a invariante principal na patologia borderline e que concebemos como uma procura de continente, sentido e simbolização que, inscrita á priori na relação, actua face à ameaça do nada.
Para tal elaborámos uma fundamentação teórica de base integrativa, deslocando-nos essencialmente entre as concepções gerais de Freud e Bion e tomando como contributos mais específicos as concepções de André Green, Amaral Dias e James Grotstein.
Partindo das concepções gerais de Freud e Bion, articulámos uma perspectiva intrapsíquica do funcionamento mental, com uma perspectiva intersubjectiva da constituição do sujeito, baseando-nos fundamentalmente numa aproximação estabelecida entre as noções Id e elementos beta, tal como, consequentemente, entre as noções representação e transformação, assimilando assim o destino dos elementos beta ao princípio do prazer-desprazer.
Em termos de concepções teóricas específicas assimilámos crucialmente a noção alucinação negativa, de André Green, que destacámos como mecanismo central no seio dos processos constituitivos e como mecanismos nuclear que destapa a ameaça no nada, face à qual consideramos que actuam os processos do agir.
Utilizámos também a noção alucinação negativa como principal conceito de ligação entre as nossas concepções teóricas e metodológicas.
Deste modo, para aceder ao objectivo do nosso estudo, orientados por princípios de coerência e convergência entre a teoria e o método, concebemos o Rorschach como um Espaço Virtual de Alucinação Negativa e estabelecemos uma gama de procedimentos específicos, para análise e interpretação de protocolos Rorschach
Uma vez estabelecidas estas concepções teóricas e metodológicas procedemos à análise e interpretação de quatro protocolos Rorschach, de sujeitos borderline, recolhidos em contexto próprio, no Serviço de Psiquiatria do Hospital Amadora Sintra, em Lisboa.
A análise e interpretação dos protocolos Rorschach permitiu-nos ilustrar, perante a ocorrência da alucinação negativa, a expressão-revelação dos processos evacuativos subjacentes ao agir, que actuam face à ameaça do nada, como procura de continente, sentido e simbolização.
Por outro lado, a análise e interpretação dos nossos protocolos permitiu-nos também ilustrar, perante a ocorrência da alucinação negativa, que destapa a ameaça do nada, e como contraponto do agir, a expressão-revelação de processos conducentes ao retraimento narcísico, como solução que faculta a contenção do acting, através de formas de psudo-mentalização.
Apesar da falta de representatividade quantitativa dos quatro protocolos de sujeitos borderline que utilizámos na nossa investigação, que não nos permitiu estabelecer conclusões definitivas e generalizáveis, julgamos que a presente investigação prestou dois contributos fundamentais:
Por um lado, pensamos ter prestado um contributo original para a compreensão dos fenómenos do agir, na medida em que o concebemos de um modo distinto da globalidade das concepções até aqui formuladas, como procura de continente, sentido e simbolização, á priori inscrita na relação.
Por outro lado, através da nossa concepção do Rorschach como Espaço Virtual de Alucinação Negativa, pensamos ter prestado um novo contributo para a psicologia clínica, na medida em que esta se encontra destituída de métodos e técnicas aptos a abordar a dimensão do negativo, ou seja, a presença de fundo do nada e a ocorrência da alucinação negativa, que destapa a ameaça do nada, face à qual debatemos o problema do agir.