Autor(es):
Soares, Eliane Veras
Data: 2014
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10071/7535
Origem: Repositório do ISCTE-IUL
Assunto(s): Literatura; Conhecimento; Sociologia; literatura em África
Descrição
Quando se analisa o debate acerca das literaturas africanas, o sistema de classificação
“africano” “não-africano” vem à tona revelando tensões diversas. A primeira delas está
relacionada ao idioma em que estas literaturas são produzidas. Em África, ao contrário do que
ocorreu no continente americano, a legitimidade das literaturas produzidas em línguas
européias foi colocada em xeque, como se não fosse possível haver uma literatura africana
escrita em idiomas europeus. Outra tensão diz respeito à origem e/ou ao pertencimento racial
dos escritores. Tomando como exemplo o caso moçambicano, é possível verificar o escrutínio
realizado nos primórdios da Associação de Escritores de Moçambique na tentativa de definir
critérios para uma literatura nacional. Nesta apresentação proponho uma discussão que passa
por outro tipo de tensão, a meu ver ainda pouco problematizada, aquela que estabelece um
separação, e ao mesmo tempo uma hierarquia, entre literatura e produção do conhecimento. As
relações entre a literatura e o conhecimento (científico) não parecem satisfatoriamente
resolvidas, seja pela sociologia do conhecimento, seja pela sociologia da literatura. No primeiro
caso, a literatura pode ser concebida como uma forma de conhecimento, mas tem preservada
sua “natureza ficcional”, diversa do conhecimento científico. No segundo caso, o que se
considera é a dimensão social da literatura e o modo como ela pode expressar de modo
exagerado, distorcido, controverso a realidade, sem com ela confundir-se. O argumento que
procuro desenvolver não propõe uma equivalência entre literatura e conhecimento científico.
Busca explorar novos caminhos em que a literatura seja encarada como uma epistemologia
válida para a compreensão das dinâmicas sociais. Esse procedimento, certamente, deve ser
exercitado pelo cientista social. Para dar forma a esta reflexão, ainda de caráter exploratório,
trago aqui alguns pontos críticos referentes ao meu duplo processo de inserção na temática dos
estudos africanos, de um lado, e da sociologia da literatura, por outro,. Com isso, tento
problematizar em um novo estado as questões de caráter teórico-epistemológico referentes à
produção do conhecimento. Sinalizo antecipadamente que o estado da arte desta reflexão ainda
não consegue trazer respostas, mas tenta, antes, elaborar questionamentos que circunscrevam
de modo mais preciso onde a pesquisa sistemática, considerando essas formas específicas de
produção, poderá nos levar.