Autor(es):
Raimundo, Hugo Alexandre Silva
; Ribeiro, Olivério Paiva, orient.
Data: 2012
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.19/1634
Origem: Repositório Científico do Instituto Politécnico de Viseu
Assunto(s): Atitude do pessoal de saúde; Enfermeiros; Erros de medicação; Segurança do doente; Attitude of health personnel; Medication errors; Nurses; Patient safety
Descrição
Curso de mestrado em enfermagem médico cirúrgica TÍTULO DO TRABALHO: Relato de Erros de Medicação: Perceções dos Enfermeiros.
ENQUADRAMENTO: Os Erros de Medicação ocorrem em todos os sistemas de saúde de
todo o mundo, constituindo um dos mais frequentes eventos adversos no meio hospitalar
(19). A deteção e o relato de eventos adversos é crucial para a prevenção do erro em
qualquer organização complexa, mas a conduta em presença do erro ocorrido ou
potencialmente ocorrido é igualmente crucial. Uma culpabilização e repressão sistemática
leva possivelmente a melhoria transitória mas fugaz, não removendo as causas individuais e
sobretudo as causas devidas ao sistema, pelo que perpetua o “ciclo do erro”. Atualmente o
relato de erros de medicação nos sistemas de saúde é, na maioria das vezes, um ato
voluntário, complexo e pouco confidencial e identificam-se múltiplos fatores que impedem o
relato do erro. Quando um erro de medicação não é relatado diminui-se drasticamente a
possibilidade de evitar no futuro que esse erro volte a acontecer (63). Apesar de diferentes
profissões contribuirem para a ocorrência dos Erros de Medicação, os enfermeiros são os
profissionais em permanente contacto com os doentes validam o processo de segurança da
medicação. Considerados como “gate keepers” são os profissionais em melhor posição para
detetar falhas no sistema e garantir a segurança do doente (13)(39).
OBJETIVOS: relacionar as variáveis sóciodemográficas, socioprofissionais, formação,
conhecimentos e experiências com erros de medicação com a perceção de obstáculos ao
relato de erros de medicação, fatores facilitadores do relato de erros de medicação e com o
grau de concordância sobre divulgação de erros de medicação.
MÉTODOS: Estudo descritivo-correlacional; amostra 117 enfermeiros (70.1% do sexo
feminino e 29,9% do sexo masculino). Dados obtidos através de questionário eletrónico
constituído por uma componente sociodemográfica, escala de conhecimentos sobre erros
de medicação e escala de perceções e experiência de erros de medicação (26)(62)(82).
RESULTADOS: A maioria (51.3%) dos inquiridos consideram que nas suas instituições
existem grandes obstáculos ao relato de erros de medicação sendo que todos os obstáculos
referenciados estão presentes nos seus locais de trabalho ( X =1.69; dp= 0.521). Os dados
revelam uma opinião não definida sobre a divulgação dos erros de medicação ao doente e à
família. Os inquiridos opõem-se à divulgação de relatórios sobre erros de medicação por
parte das instituições de saúde ( X = 3.43; dp=1.140). Os enfermeiros não relatam erros de
medicação porque têm receio das consequências disciplinares e laborais. Alguns fatores
são identificados como facilitadores do relato, nomeadamente se sentirem benefícios em relatar os erros, tal como aumento da responsabilização, melhoria do sistema e das práticas. De uma forma global as caraterísticas sociodemograficas e socioprofissionais não têm relação com a perceção dos enfermeiros sobre Obstáculos ao Relato de Erros de Medicação, fatores facilitadores do relato de erros de medicação e grau de concordância sobre divulgação dos erros de medicação. A formação profissional contínua está relacionada com a perceção dos obstáculos ao relato de erros de medicação (X2KW(2)=10.065; p=.007; N=117). Os conhecimentos sobre erros de medicação são preditores do nível de concordância sobre divulgação de erros de medicação [t (1, 115) = -3.464; p = .001; β= 0.376].
CONCLUSÃO: Podemos constatar que a perceção dos obstáculos e dos fatores facilitadores do relato de erros de medicação por parte dos enfermeiros não tem, de uma forma geral, relação com caracterísitcas sociodemograficas e socioprofissionais, o que demonstra a transversalidade desta problemática nas instituições. Os nossos resultados sugerem que os hospitais devem rever as suas políticas garantindo que apoiam e encorajam os seus profissionais a relatar erros de medicação. De entre as intervenções sugeridas salientamos eliminação ou minimização da cultura punitiva sobre os enfermeiros, providenciar programas orientadores e formação profissional contínua transversal a todos os enfermeiros, bem como a implementação ou reestruturação de sistemas de relato por forma a aumentar a sua fiabilidade, simplicidade e agilidade.
PALAVRAS CHAVE: Erros de Medicação; perceções dos enfermeiros; relato de erros de medicação. ABSTRACT
TITLE: Medication Errors: Nurses’ Perceptions.
FRAMEWORK: Medication Errors occur in every health system all over the world, being one
of the most frequent adverse events in hospitals (19). The detection and reporting of adverse
events is crucial for the prevention of errors in any (complex) organization, but the conduct
when such event has occurred or potentially occurred is equally important. A constant blame
and systematic repression might lead to a transitory and brief improvement, but in the longterm
does not remove the individual causes nor – most importantly – the system-related
causes, perpetuating the “error cycle”. Presently, reports of medication errors in the health
systems are mostly voluntary and complex acts, without much respect for confidentiality
issues and multiple factors are identified, preventing the error from being adequately
reported. When the medication error is not reported, we are dramatically decreasing the
chance of preventing that same error from happening in the future (63). Although several
professions contribute to the occurrence of medication errors, nurses are the healthcare
professionals which are in permanent contact with the patients, and the ones which validate
the medication security process. Touted as “gate keepers”, nurses are in a privileged position
to detect flaws in the system and guarantee the safety of the patients (13)(39).
OBJECTIVES: establish a relationship between the sociodemographic and socioprofessional
variables, competencies, knowledge and experiences in medication errors with
the perception of obstacles to the reporting of medication errors, facilitating factors of
medication errors e with the degree of agreement on the disclosure of medication errors.
MÉTHODS: Descriptive-correctional study; sample with 117 nurses (70.1% females and
29.9% males). Data obtained through an electronic survey composed of a sociodemographic
component, a knowledge scale on medication errors and a scale on perceptions and
experiences on medication errors (26)(62)(82).
RESULTS: The majority (51.3%) of the people inquired consider that in their institutions
there are considerable obstacles to the reporting of medication errors, being all these
obstacles present in their workplaces ( X =1.69; dp= 0.521). The data reveals an undefined
opinion with regards to the disclosure of medication errors to the patient and his/her family.
The people inquired oppose disclosure reports on medication errors by the healthcare
institutions ( X = 3.43; dp=1.140). Nurses do not report medication errors due to the fear of
disciplinary and labour repercussions. Some factors are identified as facilitating the report,
namely if they feel there is some benefit in reporting the errors, such as increasing
accountability, improving the system and the practices. Globally, the sociodemographic and socioprofessional characteristics are not related with the perception of nurses on the Obstacles to the Report on Medication Errors, facilitating factors of medication errors reporting and degree of agreement on the disclosure of those medication errors. Continuing vocational training is related to the perception of the obstacles to the reporting of medication errors (X2KW(2)=10.065; p=.007; N=117). The knowledge on medication errors is interlinked with the degree of agreement on the disclosure of medication errors [t (1, 115) = -3.464; p = .001; β= 0.376].
CONCLUSION: It can be concluded that the perception of obstacles and the facilitating factors for the report of medication errors by the nurses are generally not related to the sociodemographic and socio-professional characteristics, what underlines the transversality of this problem in the institutions. The results presented here suggest that hospitals should review their policies, guaranteeing the support and encouragement of their professionals to report medication errors. Among the suggested interventions, we highlight the elimination or minimisation of the punitive culture over nurses; providing guidance programs and professional continuing training for all nurses, as well as the implementation or re-structuring of the report systems, in order to increase its reliability, simplicity and agility.
KEYWORDS: Medication errors; Nurse’s perceptions; reporting of medication errors.