Autor(es):
Gouveia, João
Data: 2012
Origem: Repositório da ESE de Paula Frassinetti
Assunto(s): Supervisão
Descrição
A proposta de investigação que aqui apresentamos resulta da conjugação da
pertinência e actualidade de uma problemática com um interesse pessoal antigo.
A primeira resulta da curiosidade em relação ao modo como as competências
avaliativas disponíveis no actual mercado da formação têm vindo a evoluir,
designadamente tendo em conta emergência de novas formas de organização da
formação - e-learning e formação-acção - e com elas novas preocupações quanto
ao modo como se avalia. Quanto ao interesse pessoal antigo, esse decorre das
funções que temos vindo a desempenhar no âmbito da formação profissional, em
particular no que diz respeito a uma dimensão que reputamos de central - a
avaliação.
A preocupação com a dimensão avaliativa da formação deriva do próprio
amadurecimento da formação profissional em Portugal e da progressiva criação
de um sistema de formação contínua (regulamentado pela actual DGERT e
iniciado com organismos como os extintos INOFOR e IQF - Instituto para a
Qualidade na Formação), no âmbito do qual a avaliação se tem assumido como
um domínio de intervenção cuja importância parece ser inversamente
proporcional ao modo como tem sido passada à prática. Esta preocupação
encontra fundamento na escassa percentagem de entidades formadoras (apenas
5% das entidades que se candidataram à acreditação junto do IQF, antecessor
da actual DGERT – Direcção Geral do Emprego e das Relações do Trabalho) no
domínio do acompanhamento e da avaliação.
Há, a este respeito, um enorme consenso na sociedade portuguesa. É hoje
aceite generalizadamente que importa reformular o próprio modo como a
formação é encarada, sendo que essa aceitação resulta da tomada clara de
consciência de que tem havido “insuficiente enfoque na qualidade dos efeitos e
na eficiência e sustentabilidade das operações co-financiadas” (MAOTD, 2007).
O documento elaborado pelo Governo, enquadrador do Quadro Comunitário
de Apoio 2007-2013 (QREN), refere claramente como questão-chave a de criar
condições para que “os esforços de qualificação dos portugueses e de
modernização das organizações não se limitem à transferência de recursos e
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responsabilidades operacionais, mas que sejam essencialmente focalizados nos
resultados a atingir” (idem:53). Reconhece-se que, no essencial, os anos que
decorreram desde 1986 têm gerado algumas ineficiências em termos de
investimentos públicos e comunitários, pela “exagerada atenção atribuída aos
requisitos formais exigidos nos processos de apresentação e apreciação de
candidaturas a co-financiamento, que frequentemente se sobrepõem à
clarificação dos objectivos e resultados que os proponentes pretendem atingir e,
ainda, ao acompanhamento da execução das operações apoiadas” (idem: 52). “
De facto, das questões exclusivamente relacionadas com a eficiência da
formação tem-se vindo a passar a uma outra preocupação, mais centrada na
eficácia e nos resultados. Complementarmente, importará que sejam criadas
condições para a “disseminação de boas práticas”, acompanhadas de sistemas de
monitorização, avaliação e benchmarking, uma vez que são instrumentos que
contribuem para o reforço da aprendizagem colectiva.
A necessidade de orientação estratégica dos projectos a financiar e
executar, centrando mais as preocupações nos fins do que nos meios, traz,
assim, à tona a questão da avaliação como sendo uma (senão mesma a) peça
central dos esforços formativos. Essa ideia é recorrente no documento
enquadrador do QREN 2007-2013
“ …as avaliações devem ser levadas a cabo antes, durante e após o
período de programação” (MAOTD, 2007:109).
“ …as avaliações têm como objectivo melhorar a qualidade, a eficácia
e a coerência da intervenção dos fundos e a estratégia e execução
dos programas operacionais …” (ibidem)
Simultaneamente, a centralidade actual do conceito de competência e a
incontornável vontade governativa de a certificar são igualmente reorientações
de fundo que vêm alterar o modo como se diagnostica necessidades de
formação, se planeia e, por maioria de razão, se concebem e passam à prática
estratégias avaliativas.
Não será, portanto, por acaso que, de entre as várias formas de organização
da formação, a aposta para o quadro de vigência do QREN consista menos em
formação de tipo presencial e mais em modos alternativos de gerir os esforços
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formativos, com especial ênfase atribuída à formação-acção e à formação à
distância em regime de e-learning.
Ora, é neste contexto de preocupações que se insere a presente proposta
de investigação. Ao longo dos últimos anos, temos tido a grata oportunidade de
coordenar projectos de avaliação externa de programas de formação, monitorar
acções de formação destinadas a formadores e professores, trabalhar no terreno,
supervisionando estágios na formação inicial de professores e apoiando o
trabalho de formadores, desde os momentos do diagnóstico de necessidades até
à avaliação da eficácia da formação e publicar resultados de investigações
realizadas no domínio do diagnóstico, do planeamento, das metodologias
pedagógicas e, sobretudo, da avaliação da formação. Este tipo de trabalho temnos
permitido confirmar suspeitas, despertar curiosidades e reforçar vontades,
constituindo, por isso, a força motriz deste doutoramento.(retirado da introdução) 451 p.